Sem justificativa, Ceitec demite porta voz dos servidores contra liquidação
Sem aviso, e sem apresentar justificativa, o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada, Ceitec, publicou nesta segunda, 19/4, a primeira demissão efetiva. E o alvo foi o principal opositor do fechamento da empresa, o engenheiro Julio Leão.
O ato, publicado no Diário Oficial da União desta segunda, traz um segundo nome, mas de uma servidora que já tinha deixado efetivamente a estatal há mais de dois anos. Antes disso, uma única demissão, esta por justa causa, já tinha sido publicada durante o processo de liquidação.
Esse ato não traz qualquer detalhe sobre os motivos da exoneração, além de ser assinado pelo capitão de fragata reformado Abilio Andrade Neto, que é o liquidante nomeado do Ceitec. Mas a dúvida sobre as demissões também se dá pelo fato de que não existe sequer um plano de liquidação aprovado.
“Como sou servidor concursado e não existe um processo administrativo para minha exoneração, assim como sequer o plano de liquidação foi aprovado, parece retaliação”, afirma o engenheiro Julio Leão, porta voz da Associação dos Colaboradores do Ceitec (Acceitec) e face mais visível da resistência dos funcionários contra o fechamento da estatal do chip.
Procurada, a direção do Ceitec não respondeu aos pedidos de informações sobre o ato publicado nesta segunda. Tampouco respondeu o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações, pasta a qual o Ceitec é ligado. Igualmente não foi esclarecido se a promessa de criação de uma Organização Social para absorver os pesquisadores foi descartada, apesar de prevista em Decreto.
A falta de um plano de liquidação foi admitida pelo próprio Ceitec na semana passada, quando informou ter encaminhado uma proposta para o Ministério da Economia, mas ainda sem resposta sobre sua validação. A pasta, no entanto, já divulgou que gostaria de ver a estatal encerrada em 12 meses.
Vale lembrar, porém, que números do próprio governo apontam que desmontar o Ceitec – que vai exigir o descomissionamento de sala-limpa, químicos, etc – tem custo maior que manter a estatal por mais quatro anos, quando as projeções indicam que a empresa passaria a operar no azul.
Com pós-doutorado na U.C. Berkeley (EUA), PhD no IMEC (Bélgica), mestrado em Computação e Engenheiro pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Julio Leão tem 2,5 mil citações e sete patentes.