Viasat vê mercado em 50 mil comunidades sem internet e com celular ruim
A americana Viasat torce por um desfecho favorável na disputa judicial que até aqui suspende seu acordo com a Telebras, mas começa a desembarcar no Brasil com juras de amor eterno e um dote cobiçado: uma solução de mercado para levar internet a qualquer lugar do país. A promessa é de conexões de até 50 Mbps por preços que começam na casa dos R$ 2. O prodígio, sustenta o gerente geral da empresa, Kevin Cohen, está numa solução de baixo custo e alto desempenho para acessos via satélite.
“Nosso levantamento nos garante que o mercado é grande. Pelo menos 50 mil comunidades no Brasil carecem do serviço. Elas incluem cidades sem acesso mas também aquelas com 2G ou mesmo 3G deficiente. Todo mundo quer estar conectado”, afirma Cohen em um português fluente que aprendeu em dois meses. “Nosso foco será atender os brasileiros que não tem nada e a partir daí oferecer outros modelos de negócio”, completa.
O Brasil surgiu no radar da empresa sediada na Califórnia por conta do satélite geoestacionário de defesa e comunicações operado pela Telebras. A Viasat toca um projeto global que envolve três satélites de alta capacidade em banda Ka, mas eles não cobrem o território brasileiro. O trunfo, aposta, está em um modelo de negócios que vende internet para pobres. Uma espécie de lan house via satélite.
A empresa começou em 1986 como fabricante de modems para conexões via satélite. A primeira grande guinada veio em 2009, com a compra da WildBlue, de quem era fornecedora. Foi a entrada para a oferta de banda larga residencial. Em 2014, a Viasat comprou a NetNearU e com isso incorporou a solução de WiFi via satélite. É essa combinação de engenharia e serviço que promete velocidade alta e preço baixo.
“O custo para entrar, para nós, com antena, ponto de acesso, e oferecer um serviço de boa qualidade, é muito menor do que qualquer outro serviço, como uma torre de celular, por exemplo. Nós desenvolvemos toda a tecnologia, desde software, modem, chips e satélites e por isso podemos ter preços acessíveis como nunca se viu em banda larga”, afirma Cohen.
A Viasat se firmou na oferta de conexões residenciais via satélite e de acesso WiFi em aviões. Com a primeira, tem 600 mil clientes nos EUA, 100 mil na Europa. No ar, tem contratos com nove companhias aéreas, a mais recente delas a brasileira Embraer. Até aqui são cerca de 700 aeronaves com o serviço nos EUA, Europa e Austrália. Além de 4 mil iates conectados pelo mundo.
A expertise com a qual espera conquistar as mencionadas 50 mil localidades brasileiras, no entanto, é mais recente. Os americanos estão há dois anos estudando como ganhar dinheiro vendendo internet picadinha em vilarejos no norte do México. Fizeram experiências do que chamam de WiFi comunitário em 500 aldeias e em abril último anunciaram a expansão da oferta comercial para oito estados mexicanos. Agora estão em 31.
Segundo valores informados nos Estados Unidos, o custo da Viasat é de US$ 700 para levar o serviço baseado na oferta por WiFi em cada localidade. Se chegar às esperadas 50 mil localidades brasileiras onde enxerga mercado, o investimento por aqui deve superar os R$ 100 milhões. A promessa é de que o desempenho será alto, com capacidade de suportar até 90 usuários simultâneos a taxas de 50 Mbps. A empresa não revela preços, mas a Telebras já indicou que as ofertas começam em R$ 2,50.
“Esse aprendizado no México nos deu muitas lições. Não vamos começar do zero. Claro que é um negócio complicado, estamos falando de atender comunidades remotas. Mas nós temos essa experiência, temos um serviço em operação para atender os desatendidos. Os preços são muito customizáveis. Temos visto que as pessoas gostam de comprar 1 hora, por exemplo, algo que custa o preço de um salgadinho na loja. Nesse período descarregam muitas coisas, como filmes, e vão para casa”, explica o gerente geral da Viasat.