Inovação

Braskem colocou IA e transformação digital como prioridades

Novas tecnologias e inovação digital têm sido pilares da Braskem para sustentar seu crescimento para os próximos anos e manter seu protagonismo na produção de biopolímeros em escala industrial. A inteligência artificial está no centro da estratégia, que começou em 2018 com a transformação digital e, neste ano, tem cerca de R$ 35 milhões  alocados no portfólio de produtos para contemplar essa jornada. “É uma trajetória longa”, ressaltou Guilherme Baeta, chief digital officer da Braskem, ao começar a entrevista com o Convergência Digital.

Em 2018, foi criado o centro digital – do qual Baeta é diretor – com objetivo de acelerar as iniciativas que já existiam na empresa, desenvolver novos produtos e promover uma profunda transformação da companhia. “São três grandes pilares: transformar o core com revisão das estratégias; desenvolver novos negócios para companhia, o que gera novas receitas; e criar uma cultura de transformação digital alinhada à cultura da companhia, porque, se traz elemento que vai contra à forma que a empresa opera, você cria mais atrito que benefícios”, disse.

Com 40 unidades industriais no Brasil, EUA, México e Alemanha, a Braskem exporta seus produtos para clientes em mais de 71 países. As estratégias digitais estão transformando praticamente toda a cadeia de valor da Braskem, que estima que os ganhos estão na ordem dos R$ 460 milhões por ano. A empresa conta com 25 iniciativas transformadoras e está desenvolvendo mais de 70 produtos digitais voltados à indústria 4.0 e também às áreas de supply chain, comercial, pesquisa e desenvolvimento, dentre outras.

“Hoje, a maior parte dos nossos produtos tem elementos de IA. Também usamos outras tecnologias, que, de alguma forma, sempre tem relação com analytics, com análise preditiva, prescritiva ou com IA – e podem ser baseados em software ou em hardware, como IIoT [industrial IoT]”, enumerou. “Temos atuado muito fortemente em inovação e tecnologia, entendendo os desafios que temos”, acrescentou.


Um dos desafios está ligado à eliminação dos resíduos plásticos. A Braskem pretende ampliar seu portfólio de produtos, incluindo, até 2025, 300 mil toneladas de resinas termoplásticas e produtos químicos com conteúdo reciclado e, até 2030, 1 milhão de toneladas desses produtos. Ainda para 2030, planeja eliminar a destinação de 1,5 milhão de toneladas de resíduos plásticos para incineração ou aterros ou seu descarte no meio ambiente. No combate às mudanças climáticas, as metas são reduzir em 15% as emissões diretas de gases de efeito estufa até 2030 e atingir a neutralidade de carbono até 2050.

Neste caminho, a inteligência artificial tem se mostrado parceira fundamental. Uma das soluções desenvolvidas internamente aponta as melhores combinações de resinas novas e recicladas, auxiliando o desenvolvimento de novas aplicações. “Através de uma base de dados muito grande entendemos a resina reciclada que está chegando e vemos dentro do portfólio quais são as cinco melhores combinações entre as resinas. Assim, conseguimos reduzir de forma relevante o tempo de desenvolvimento. A IA acelerou o go to market”, explicou o executivo.

A iniciativa focada no aumento da participação da Braskem no mercado de resinas com conteúdo reciclado usa inteligência artificial para recomendar a melhor formulação para o desenvolvimento de novos produtos com conteúdo reciclado pós-consumo. A formulação de uma nova resina PCR combina resina virgem, ou seja, resina produzida em uma planta da Braskem e com características bem conhecidas pela companhia, com material reciclado pós consumo, que tem características variáveis.

Em vez de testar 50 das diferentes possíveis combinações destas partes, que poderia gerar infinitas possibilidades, o time usa PDS – Product Development Solution – para focar nas cinco melhores formulações recomendadas pelo algoritmo para então testar e desenvolver. Dessa forma, consegue acelerar o go-to-market de novos produtos; reduzir custos com inovação; melhorar a seleção de resinas virgens; melhorar a qualidade do produto final; e acessar novos mercados e aplicações.  O objetivo, disse Baeta, era reduzir o tempo de desenvolvimento que antes era seis meses. Com IA, passou para menos de dois meses.

Otimizando a compra de matéria-prima

Outro projeto é o IFF – Intelligent Feedstock Flow – que impulsiona o uso de dados para trazer inteligência e acelerar o processo de compra de matérias-primas, capturando mais oportunidades com fluxo de aprovação mais rápido e governança aprimorada. Ele permite mais compras de novas fontes e de especificação ampla com desconto e traz insights para melhorar o processo de compra, gerando aumento de produtividade das áreas envolvidas, tais como trader, planejamento e controle de produção.

“Desenvolvemos internamente, porque não encontramos no mercado uma solução que atendesse as dores do business. Traduzimos o fluxo do processo de compra e avaliação de matéria-prima da Braskem para uma plataforma digital e incorporamos componentes de inteligência a fim de melhorar as tomadas de decisão baseada em dados”, disse o executivo. As tecnologias usadas são machine learning para o direcionamento de matéria-prima e clusterização delas, por exemplo, usando características de naftas globais, além de análise de contaminação da matéria-prima.

A ideia inicial era obter uma melhor qualificação da matéria-prima comprada. A principal delas é a nafta, um derivado de petróleo, e da qual a operação da companhia depende bastante. “Dentro deste processo tem o planejamento interno de saber quanto e quando vamos precisar, para fazer a negociação, comprar, enviar para a planta produtiva que vai avaliar se dá para processar a matéria-prima dentro do site ou não. É um processo complexo e a gente criou um algoritmo para entender todas as restrições e simular como as plantas operam; e, a partir desta operação, criar critérios para melhorar a escolha da nafta. A IA está sendo usada para melhorar o processo de compra e indicar na formulação a melhor utilidade dentro da companhia”, disse.

Com isso, a Braskem visa a aumentar a competitividade. “Antes, a gente fazia análise de 60 oportunidades no ano e, hoje, fazemos de 40 a 50 por mês. Testamos as variáveis e temos menor probabilidade de problemas técnicos”, assinalou Baeta.

Caminho da inovação

O executivo contou que existem dezenas de exemplos onde a IA está sendo testada. E as ideias partes de múltiplas fontes. No exemplo da compra da nafta, a iniciativa partiu de um desejo de uma pessoa que está na última etapa do processo que disse que queria automatizar. A ideia foi para o hub de inovação — a companhia conta com um repositório único e o papel do time de inovação é entender e refinar as ideias sugeridas para entender e direcionar dentro do portfólio dentro da companhia.

A Braskem, disse o executivo, tem atuado dentro de IA criando os elementos que são necessários para transformação da indústria. A primeira é em como a tecnologia está sendo usada para transformar não só o Braskem, mas a indústria química com objetivo de aportar mais segurança, inovação, autonomia e conectividade, tornando o ambiente mais inteligente. Isso se traduz na adoção de analytics, IA e outros tipos de tecnologias que mudam a forma como se toma decisão. O caminho é estruturar uma companhia orientada a dados e isso passa por fazer com que todos estejam engajados nesta causa.

“A gente criou um acrônimo para mostrar que a tecnologia impacta e transforma a indústria química como setor. E, por outro lado, a transformação só para de pé com uma forma nova de atuar tanto com pessoas como processos. É preciso, dentro destes novos produtos, mudar a forma como atuamos. A IA e outras tecnologias que aplicamos mudam o patamar que jogamos o jogo”, contou Guilherme Baeta, chief digital officer da Braskem.

Nesse sentido, a companhia estabeleceu uma estratégia que chamou de ISAC, que significa transformar a indústria química em um setor mais inteligente, seguro, autônomo e conectado. “Não é a tecnologia pela tecnologia”, ressaltou Baeta. “Muitas vezes, você tem a tecnologia, mas ela fracassa por causa das pessoas. A IA vai substituir funções e trabalhos e pessoas vão interagir de forma diferente. Temos atuado no viés da tecnologia, mas entendendo as necessidades da companhia e como reagimos para ter a melhor aplicação – e isso não necessariamente significa usar a tecnologia mais nova”, ponderou o líder do centro digital da Braskem.

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