Ceitec perdeu 95% dos projetistas de chips em dois anos de liquidação
Ainda que o governo federal tenha cancelado o processo de liquidação do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada, Ceitec, os dois anos de desmonte da estatal do chip deixou marcas difíceis de recuperação. Segundo o atual comando da empresa, o Ceitec perdeu mais de 95% do pessoal qualificado.
“Tínhamos cerca de 70 projetistas de chips que foram demitidos praticamente todos eles, e agora temos apenas dois ou três que cuidam apenas da propriedade intelectual gerada no passado. Perdemos essa capacidade nos dois anos que tivemos em liquidação. Esses profissionais foram requisitados por três empresas, de Taiwan, Estados Unidos e Reino Unido, que se instalaram no Rio Grande do Sul”, destacou o atual diretor da empresa, Augusto Gadelha, ao participar nesta terça, 18/4, de debate sobre o tema na comissão de Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados.
Segundo ele, “o problema do Ceitec é complexo, não tem solução fácil. A questão se deve ser empresa estatal ou não tem que ser de alguma forma clarificada e decidida. Mas a pergunta que se coloca é se o Brasil pretende ter algum domínio na fabricação de chips ou deve esquecer disso. Porque a velocidade é exponencial e se não começamos, fica difícil alcançar isso em algum momento do futuro. Estamos em um momento de decisão como país”, emendou Gadelha.
Para o consultor no tema de semicondutores Fábio Pintchovski, uma eventual retomada do Ceitec exigirá um retorno às origens: ter uma fábrica operacional, ainda que em pequena escala; desenvolver talentos, tanto em doutores como técnicos; e com isso atrair um ecossistema de apoio, ou seja, de gases especiais, peças de reposição, bombas de vácuo, etc.
“A partir desses três pontos é que se atrai investimentos e grandes atores. A ideia do Ceitec nunca foi ser uma planta lucrativa, mas uma operação em pequena escala que servisse como prova de conceito, para mostrar que é possível construir uma fábrica e manufaturar no Brasil chips de qualidade internacional”, apontou Pintchovski.
Para ele, é possível fazê-lo. “O maior patrimônio do Ceitec está na sala limpa. Trazer a fábrica de volta em condições operacionais e atualizar a tecnologia original custará uma pequena fração do investimento de uma fábrica nova. Entendo que deve haver um upgrade para o segmento de 350 a 180 nanômetros, uma evolução da condição original de 600 a 350 nanômetros. Há valor de mercado nessa tecnologia, são componentes dentro de todos os telefones, tanques, aviões, uma tecnologia estável e suficientemente avançada. Lembrando que a conjuntura mundial mudou. Hoje existe interesse estratégico em investimentos fora do Pacífico do leste”, completou.