MIT Technology Review: tecnologias verdes e sustentabilidade precisam de mais investimentos
Em painel do Febraban Tech 2025, Elizabeth Bramson-Boudreau diz que há um gap na disponibilidade de fundos nessas áreas.


Um dos temas discutidos no Febraban Tech nesta quarta-feira,11/6, foi o uso de tecnologias verdes e a emergência da sustentabilidade, considerados tópicos vitais pela CEO & Publisher do MIT Technology Review, Elizabeth Bramson-Boudreau. Para ela, inovações nessas áreas são fundamentais e necessárias, mas há um gap na disponibilidade de fundos. “A Deloitte acredita que esse gap hoje é de US$ 2 trilhões”, afirmou. O diretor de TI do Banco do Brasil, Rodrigo Mulinari, entrevistou a especialista.
O cenário, segundo ela, significa que levará muitos anos para que essas tecnologias recebam fundos e retornem os investimentos com previsão de até 30 anos para o retorno. “Investimentos em infraestrutura, por exemplo, trazem retorno em cinco ou dez anos. É preciso um entendimento entre governos e investidores para ajustar expectativas entre os setores público e privado”, defendeu.
Elizabeth destacou iniciativas voltadas para a sustentabilidade e a descarbonização. Um dos exemplos mais curiosos foi a busca por soluções que reduzam as emissões de gases provenientes da criação de gado, um dos maiores poluentes na agricultura. “No campo da aviação, esforços estão sendo direcionados para o desenvolvimento de combustíveis limpos, com empresas e regulamentações avançando para soluções mais sustentáveis”, disse, citando também o desenvolvimento do chamado “aço verde”.
Inteligência artificial
A CEO lembrou que, desde 2001, a publicação lista as dez tendências tecnológicas a serem seguidas a cada ano. Para 2025, uma das tendências destacadas foi a rápida evolução da Inteligência Artificial (IA). Ela destacou que a IA generativa está se integrando a diversos aspectos da vida cotidiana, como plataformas de busca do Google e Microsoft, além de aplicativos em smartphones.
A especialista considera que o mercado está chegando ao último estágio do hype da IA, com a tecnologia sendo utilizada de fato e impactando a produtividade. “Um dos pontos mais interessantes é que ela vai impactar todas as indústrias massivamente”, afirmou. No entanto, as empresas precisam estar alertas ao custo do uso. Para ela, há muitos recursos sendo colocados na IA e é preciso entender como usá-la sem todo esse custo.
Elizabeth também ressaltou o impacto no mercado de trabalho. Ela reconhece que é difícil medir isso hoje e recomenda: “O mais importante é não ser a pessoa que combate a tecnologia e tenta mantê-la fora de seu trabalho. Devemos abraçá-la e tentar aprender com ela”. Sobre a possível eliminação de postos de trabalho, Elizabeth acredita que a sociedade deve estar atenta para garantir que a IA seja utilizada como complemento da inteligência humana, não para substituí-la.
Para a CEO, o próximo passo é a consolidação da IA agêntica, que será capaz de realizar tarefas personalizadas, como reservar hotéis com base em preferências de travesseiro ou localização de amigos próximos. Outra tendência é o desenvolvimento de Small Language Models (SLMs), que oferecem soluções mais específicas e eficientes do que os modelos de linguagem ampla (LLMs).
“Um escritório de advocacia não precisa de uma LLM que conheça todos os filmes da Disney, podendo ser bem atendido por SLMs especializados no processamento de contratos, por exemplo”, comparou, lembrando que a tecnologia também pode garantir maior eficiência em dispositivos menores.
Outra frente importante citada por Elizabeth é a Saúde, com a biomedicina trazendo avanços inovadores. Um dos destaques é o desenvolvimento de remédios de prevenção ao HIV de longo prazo, incluindo medicações injetáveis que oferecem proteção por até seis meses e demonstraram 100% de eficácia em testes.
Outra conquista significativa são as terapias com células-tronco. “Relatórios indicam que neurônios criados em laboratório estão sendo usados para tratar pacientes com epilepsia, proporcionando reduções consideráveis nas crises”, contou, citando também pesquisas que têm buscado soluções para diabetes, permitindo que pacientes voltem a produzir insulina de maneira natural.
Pensando o futuro
Questionada sobre o impacto da administração de Donald Trump no meio acadêmico, Elizabeth afirmou que “esses tempos têm testado minha tendência ao otimismo”. Para ela, o que está acontecendo com as universidades americanas é alarmante. “Nossas universidades sempre foram lugar de mentes brilhantes e a ideia de que vamos proibir pessoas de outros países de fazer parte desse ecossistema é alarmante para todos nós”, afirmou, lembrando que a situação não vai durar para sempre e esse ecossistema vai continuar trabalhando depois que esse governo terminar.
De todo modo, ela acredita que este período pode ser bom para o ecossistema de pesquisas no Brasil. “As pesquisas em universidades brasileiras têm sido celeiro de novas ideias com apoio de fundos governamentais, o que temos em risco nos EUA. Isso significa uma oportunidade para o Brasil, pelos menos nos próximos 3 anos e meio”, acrescentou.