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Code-gen, as startups que faturam com software por IA generativa

Empresas que trocam engenheiros de software por IAs são negociadas por bilhões

Dois anos após o lançamento do ChatGPT, o retorno sobre investimento em IA generativa ainda é incerto, com uma notável exceção: o desenvolvimento de software. Startups de geração de código, ou “code-gen”, estão alcançando avaliações estratosféricas, à medida que empresas buscam usar a inteligência artificial para auxiliar, e em alguns casos, substituir, os caros engenheiros de software humanos. As informações são da agência Reuters.

No mês passado, a Cursor, uma startup de São Francisco que sugere, completa e até escreve trechos inteiros de código de forma autônoma, levantou US$ 900 milhões em uma rodada de investimento que a valorizou em US$ 10 bilhões. O aporte incluiu gigantes como Thrive Capital, Andreessen Horowitz e Accel. Enquanto isso, a Windsurf, criadora da ferramenta de programação Codeium, negocia sua venda para a OpenAI por US$ 3 bilhões, conforme fontes próximas ao assunto.

A plataforma se destaca por transformar comandos em linguagem natural em código funcional, um método apelidado de “vibe coding”, que permite até mesmo a leigos criar softwares. Tanto a OpenAI quanto a Windsurf se recusaram a comentar sobre as negociações.

“A IA automatizou todo o trabalho repetitivo e tedioso”, afirmou Scott Wu, CEO da startup Cognition, ressaltando que “o papel do engenheiro de software já mudou radicalmente. Não se trata mais de decorar sintaxes complexas.”

Fundadores e investidores acreditam estar em uma corrida por território, com uma janela cada vez menor para conquistar usuários e estabelecer seus produtos como padrão do setor. No entanto, a maioria dessas startups ainda depende de modelos de IA de terceiros, como OpenAI, Anthropic e DeepSeek, o que eleva os custos por consulta. Por enquanto, nenhuma delas é lucrativa. Além disso, elas enfrentam a ameaça de gigantes como Google, Microsoft e OpenAI, que lançaram novos produtos de code-gen em maio. A Anthropic também prepara sua própria solução, segundo fontes.


Apesar da concorrência acirrada, o crescimento é acelerado. O GitHub Copilot, da Microsoft, líder do setor desde 2021, atingiu mais de US$ 500 milhões em receita em 2024, contando com 15 milhões de usuários.

Com a IA revolucionando o setor, empregos de nível básico, especialmente os mais repetitivos, estão em risco. Dados da VC Signalfire mostram que as contratações de juniores caíram 24% em 2024, com tarefas antes delegadas a iniciantes agora sendo parcialmente assumidas pela IA. Executivos reforçam essa tendência: o Google já tem mais de 30% do seu código atual gerado por IA; a Amazon relatou que a IA poupou o equivalente a 4.500 anos de trabalho de desenvolvedores; e na Microsoft, 20% a 30% do código é automatizado. A Microsoft também demitiu 6.000 funcionários em maio, sendo 40% desenvolvedores em Washington. “A IA está tornando desenvolvedores mais produtivos, mas a inteligência humana segue essencial”, disse um porta-voz da Microsoft.

Embora algumas startups já faturem milhões, operam no vermelho. A Cursor registrou US$ 100 milhões em receita recorrente, com apenas 60 funcionários, enquanto a Windsurf alcançou US$ 50 milhões anuais. Ambas, no entanto, apresentam margens brutas negativas, segundo investidores. “Assistentes de código ficarão mais caros”, alertou Quinn Slack, CEO da Sourcegraph.

Para reduzir custos, startups buscam independência de modelos externos. A Windsurf já lançou seus próprios modelos otimizados para engenharia de software, e a Cursor montou uma equipe para treinar sistemas próprios. Contudo, o desafio é imenso: treinar um modelo de linguagem exige milhões em capacidade computacional. A Replit abandonou o plano, e a Magic Dev, que prometeu um modelo avançado para 2024, ainda não entregou. “Não é só sobre quem tem a melhor tecnologia, mas quem a usa e vende melhor”, destacou Scott Raney, da Redpoint Ventures.

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