Computação quântica: Brasil precisa correr para não perder as oportunidades
O atual estágio de desenvolvimento da computação quântica foi tema de um dos painéis realizados nesta quarta-feira, 10, na Febraban Tech 2022. A previsão dos participantes é que o primeiro computador quântico pode chegar ao mercado até o final desta década e, por isso, este é o momento para o País investir na formação de um ecossistema de produção.
De acordo com o diretor do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LN Nano), Rodrigo Barbosa Capaz, assumir um papel de protagonismo no desenvolvimento da tecnologia é estratégico e fundamental para o Brasil. Ele lembrou que diversos países estão investindo nessa área, com várias tecnologias competindo, por exemplo, na busca da miniaturização de componentes. “Há várias empresas investindo nisso, como Google, IBM e Intel. Precisamos desenvolver esse ecossistema no Brasil, que tem muitos bons profissionais sendo formados”, defendeu.
A formação de profissionais, aliás, tem sido estimulada por alguns dos potenciais participantes desse ecossistema, como o Banco do Brasil. O especialista em TI do BB Igor Regis da Silva Simões revelou que a instituição financia programas de mestrado e doutorado e uma das disciplinas estimuladas é justamente computação quântica. No entanto, falta diversificar os profissionais interessados. “O momento está mais para matemáticos e estatísticos do que para profissionais de TI, porque é preciso criar uma nova classe de algoritmos”, disse.
Não se trata apenas de formar profissionais ou criar o ecossistema, mas de integrar estas duas frentes. De acordo com a professora doutora do Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo) Bárbara Lopes Amaral, o Brasil tem a computação quântica como objeto de estudo da comunidade acadêmica, mas falta que profissionais de outras áreas se interessem pelo tema, assim como a iniciativa privada. “Lá fora já há a participação do setor privado”, afirmou.
Bárbara Amaral ressaltou ainda o que ela chama de iniciativas quânticas, apontando a chinesa e a europeia como algumas das mais consistentes atualmente. São iniciativas institucionais e governamentais que buscam investir no desenvolvimento da tecnologia, com estratégias bem definidas de onde esse investimento será realizado em conjunto com o setor privado. Para a pesquisadora, falta ao Brasil dar esse passo para integrar a academia e as empresas.
O diretor do Microsoft Technology Center, Waldemir Cambiucci, lembrou que em 2021 o Instituto Canadense de Pesquisa Avançada publicou um relatório de pesquisas quânticas, apontando que, naquela época, 46 países já contavam com políticas nacionais de pesquisa quântica, nenhum da América Latina. “É preciso construir um ecossistema que vai tirar proveito do que essa tecnologia vai oferecer”, afirmou.
De seu lado, Cambiucci disse que, nos últimos dez anos, a Microsoft tem desenvolvido grupos internos de pesquisa e criado conteúdo para democratizar este tipo de pesquisa, justamente com foco na criação de um ecossistema que possa reunir startups, laboratórios e empresas na busca por nichos para aplicação dessas plataformas. Mas é preciso mais.
Para Capaz, do LN Nano, nesta corrida o Brasil está saindo um pouco atrás. “Temos que construir o ecossistema. Há o desenvolvimento em software, que é importante, e oportunidades de desenvolver algoritmos para as mais diversas aplicações. É fundamental formar recursos humanos e fazer investimentos pesados na área de micro e nanofabricação, que foi justamente o bonde que o Brasil perdeu na indústria de semicondutores.”