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Empregados acusam Amazon de ser irresponsável no uso da IA e denunciam desemprego e vigilância

Documento já tem 5 mil assinaturas e adesão de funcionários da Microsoft, Google, Apple e outras big techs.

Mais de mil funcionários da Amazon tornaram pública uma carta aberta dirigida ao CEO Andy Jassy e à alta liderança da companhia, acusando a empresa de acelerar irresponsavelmente seus investimentos em inteligência artificial enquanto abandona compromissos climáticos e impõe pressões inéditas sobre a força de trabalho.

No documento, publicado na semana passada e que vem ganhando mais apoio – são 1.145 funcionários e 3.670 de outras empresas como Microsoft, Google, Apple e outras – os empregados afirmam que a Amazon está “abrindo mão de suas metas climáticas para construir IA”, utilizando a tecnologia para justificar cortes de pessoal e contribuindo para “um Estado de vigilância militarizado”, com menos proteções para os cidadãos.

“Temos sérias preocupações sobre essa implementação agressiva em um momento de avanço do autoritarismo global e durante os anos mais importantes para reverter a crise climática”, escreveram os autores. “Acreditamos que a abordagem de velocidade máxima e custos justificáveis no desenvolvimento de IA causará danos profundos à democracia, aos nossos empregos e ao planeta.”

A carta destaca que as emissões globais de carbono da Amazon aumentaram desde 2019, apesar da meta de atingir emissões líquidas zero até 2040. Em 2023, a empresa elevou em 6% suas emissões — reflexo, segundo analistas, da rápida expansão de data centers, infraestrutura essencial para treinar e operar modelos de IA.

Segundo os trabalhadores, a companhia impõe o uso de ferramentas de IA enquanto investe em um futuro “no qual é mais fácil descartar” sua força de trabalho humana. Apontam que o CEO Andy Jassy tem prometido uma Amazon “repleta de ferramentas e agentes de IA”, ao mesmo tempo em que projeta empregar menos pessoas. Embora o executivo afirme que os empregos remanescentes serão “mais empolgantes e divertidos”, os trabalhadores descrevem uma realidade oposta.


De acordo com a carta, funcionários enfrentam aumento de metas, prazos mais curtos e ordens para desenvolver aplicações de IA para casos considerados “desperdício de recursos” ou sem necessidade real. Os autores também criticam o volume de investimentos bilionários destinado à IA, contrastando com o baixo apoio ao desenvolvimento de carreira dentro da empresa.

A empresa refuta as acusações. Em nota, o porta-voz Brad Glasser afirmou que é “categoricamente falso” dizer que a Amazon abandonou seus compromissos climáticos e que a companhia está investindo fortemente em energia livre de carbono, incluindo acordos de energia nuclear avançada e mais de 600 projetos de energia renovável no mundo.

A tensão interna coincide com um processo de reestruturação impulsionado por IA. Em outubro, a Amazon anunciou o corte de 14 mil postos corporativos — cerca de 4% do quadro de 350 mil funcionários administrativos. Segundo a Reuters, demissões adicionais podem elevar o total a 30 mil, o maior corte da história da empresa.

Beth Galetti, vice-presidente sênior de Pessoas e Experiência, justificou a movimentação afirmando que a atual geração de IA representa “a tecnologia mais transformadora desde a internet”, exigindo que a empresa avance rapidamente.

Segundo os signatários da carta, quem permaneceu na empresa enfrenta metas mais agressivas, a obrigação de desenvolver ferramentas de IA mesmo quando elas não são necessárias e uma disparidade entre os investimentos bilionários em IA e os recursos destinados ao desenvolvimento profissional dos funcionários.

O documento também critica a estratégia da Amazon para a Ring, sua empresa de câmeras residenciais, que estaria se tornando “IA-first”. Os funcionários alertam que restaurar uma ferramenta que permite à polícia solicitar vídeos diretamente aumenta o risco de ampliar o poder estatal de vigilância em um momento de crescente autoritarismo global.

A carta foi publicada em meio ao anúncio de novos aportes de grande porte. Em novembro, a Amazon revelou planos de investir até US$ 50 bilhões para expandir infraestrutura de IA e supercomputação voltada ao governo dos EUA, a partir de 2026.

A empresa pretende gastar quase US$ 150 bilhões na construção de data centers nos próximos 15 anos, segundo a Bloomberg. Somente em 2024, já foram desembolsados US$ 89,9 bilhões, principalmente para fortalecer a Amazon Web Services (AWS), conforme o CFO Brian Olsavsky.

Os empregados exigem que a companhia apresente um plano público para abastecer todos os data centers com energia renovável; inclua representantes dos trabalhadores na revisão do uso e da necessidade de IA em toda a organização; e assuma o compromisso de não utilizar IA para violência, vigilância ou deportações em massa.

“Os funcionários que assinam esta carta acreditam em construir um mundo melhor — não em construir bunkers para se abrigar”, escreveram. “Queremos que os avanços prometidos pela IA deem mais liberdade às pessoas para descansar, criar, conviver e se sentirem seguras sendo quem são.”

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