Inovação

Mars, dona da M&M’s, usa Inteligência Artificial para detectar câncer em pets

A Mars é conhecida por ser a dona de marcas como M&M’s, Snickers e Twix. Mas esqueça os chocolates. A empresa familiar, privada e que fatura globalmente de US$ 40 bilhões apostou em inteligência artificial para criar uma ferramenta que ajuda veterinários a detectar células cancerígenas em pets. A IA foi desenvolvida pelo Centro de Inovações e Tecnologia da Mars e pode identificar câncer em cães e gatos de forma ágil, analisando exames de imagem.

Os diferentes segmentos da Mars são hoje servidos por um hub de tecnologia global. O time de Renato Monteiro, diretor-executivo de tecnologias digitais da Mars e responsável pelo hub de tecnologia e inovação do Brasil, no Brasil, faz parte de uma rede de tecnologia. Em São Paulo, são 230 profissionais. De fato, a Mars escolheu o Brasil como um dos pólos de tecnologia global para servir a companhia. E foi do time focado em inteligência artificial que nasceu a ferramenta que ajuda os veterinários.

Desenvolvido pelo Centro de Inovações e Tecnologia da companhia, a ferramenta permite que veterinários possam analisar biópsias escaneadas, em imagem digital, em um sistema que identifica e conta as células mitóticas para detecção das neoplasias. A solução existe desde o ano de 2020 e, até hoje, 1,5 milhão de casos já foram servidos por esta solução que a Mars criou. “Um veterinário, que gastava 200 minutos analisando as imagens para chegar a uma conclusão, gasta hoje menos de três minutos para chegar à mesma conclusão”, diz Renato Monteiro.

 Como funciona


A Mars oferece um serviço na nuvem disponível 24 horas por dia, sete dias por semana para os veterinários. Eles sobem a imagem nesse sistema, que é analisada por um modelo de IA, gerando relatório que aponta se há ou não presença de célula cancerígena. No caso positivo, a ferramenta chega a apontar o tamanho do câncer e oferece parâmetros clínicos para o veterinário ter a conclusão. O algoritmo, diz Monteiro, foi treinado com células cancerígenas para identificar padrões e formatos.

O processo consiste em várias etapas: a biópsia é escaneada e gera uma imagem digital. A partir daí, o algoritmo detecta na imagem a região do tecido comprometido e começa a localização e a contagem das células que estão sofrendo o processo de divisão (mitose). Após o processamento da imagem, um relatório com os resultados é gerado para o veterinário concluir o diagnóstico. Além de permitir mais agilidade no diagnóstico, a ferramenta fornece uma análise holística da biópsia, já que é possível fazer a contagem das células de maneira integral.

“Hoje, um dos maiores problemas é análise de imagem com precisão; temos histórico de imagens gigantesco com os hospitais e treinamos modelo de IA com as imagens”, explica. A Mars tem, globalmente e inclusive no Brasil, hospitais veterinários, o que contribui para a formatação da grande massa de imagens. São 3 mil hospitais no mundo e uns dez no Brasil, segundo a Mars. 

Fernando Rodrigues Jr, gerente-global de tecnologias do futuro da Mars Brasil, detalha que são transformados pedaços de tecidos em imagem grande para gerar uma série de modelos que analisam pixel a pixel a imagem. Assim, pode-se saber, por exemplo, a velocidade que o tumor está se multiplicando. Rodrigues diz que são usadas tecnologias como deep learning e modelos de visão computacional para fazer a contagem e a localização das células.  

Das balas para pets

A inspiração para a solução veio de um problema que nada tem a ver com pets, conforme conta Renato Monteiro. “Tínhamos que avaliar se cada pacote de skittles continha a mesma quantidade de cores e sabor de balas. Para isso, fizemos um desenvolvimento de modelo de IA que contava a quantidade de cores de cada pacote para saber se estava balanceado”, diz. Essa foi a inspiração para a solução para os pets. “A solução veio da área de alimentos e, quando compartilhamos a história, as pessoas viram que [o modelo] resolveria outros problemas ao analisar imagem”, aponta Monteiro.

Fernando Rodrigues conta que a Mars trabalha diversos projetos de inteligência artificial. “Temos trabalhado em projetos para identificar problemas ortodônticos em pets, por exemplo”, diz, explicando que o time trabalha para identificar oportunidades nas quais pode usar modelos de IA que podem ajudar a prevenir problemas em cães e gatos com objetivo de gerar mais qualidade de vida.

“Temos grande portfólio, com vertentes em análise de raio x, em encontrar diversas doenças; temos também projetos no ramo de comportamento para entender se pet está quieto e na área de análises clínicas, combinando diversos fatores e criando mais assertividade”, diz Rodrigues. Para tanto, são usados vídeos, imagens e áudios para entregar como formular soluções para melhorar o dia a dia dos pets. “Falamos de modelos inteligentes no sentido de combinar dados e trazer resultado com acuracidade maior”, completa.

O aplicativo que usa IA na identificação de tumores para cães e gatos gerou patente para Mars. “A patente é a primeira para nós brasileiros. Vale citar que este projeto teve participação de mais três países, mas que teve o Brasil na liderança”, diz Rodrigues. A patente, como a empresa é dos Estados Unidos, foi depositada lá, mas “cada país herdou” a patente.    

 

 

    

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