Inovação

Multinacionais de chips criam fabless no Brasil para absorver pessoal do Ceitec

Pelo menos duas multinacionais de semicondutores já estão criando unidades de desenvolvimento em Porto Alegre-RS para aproveitar os especialistas do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada, Ceitec, que estão sendo dispensados pela estatal em processo de liquidação.

A primeira delas é a EnSilica, que tem matriz no Reino Unido e operações também na Índia e que agora terá um centro de desenvolvimento na capital gaúcha, junto ao parque tecnológico de uma das universidades do Rio Grande do Sul. A EnSilica já contratou 12 ex-Ceitec e vai antecipar o plano de chegar a 30 profissionais no país.

“Todo mundo fala que falta chip no mundo inteiro, mas não é só chip, falta projetista também. Até outubro o escritório estará aberto, enquanto isso nos mantemos em home office. Começamos com 12 e a ideia era chegar a 30 em três anos, mas em função dos projetos, das demandas e da escassez de pessoal, vamos expandir o time antes do esperado”, revela o engenheiro Julio Leão, um dos primeiros demitidos do Ceitec e agora o diretor do centro de projetos da EnSilica no Brasil.

Uma das vozes mais importantes ao apontar o erro estratégico do governo federal ao fechar a estatal e na defesa do conhecimento acumulado pelos profissionais do Ceitec, Leão atuou pessoalmente para atrair o interesse do mercado global de semicondutores. No caso da EnSilica, ele mesmo já divulgou interesse da empresa em pelo menos cinco novas áreas de especialidade, já tendo recebido 20 currículos de interessados.

“Em maio me reuni com a equipe do centro de projetos do Ceitec e preparamos uma apresentação sobre o time. Aí fomos procurar empresas que estavam interessadas em se instalar em Porto Alegre. Mandamos a apresentação para 60 empresas e nove se interessaram. No fim daquele mês, a EnSilica, fez a oferta. Um pouco depois, outra empresa, está dos Estados Unidos, também avançou e fez proposta para outros 20 profissionais”, conta.


A EnSilica, criada em 2001, tem um time 120 pessoas, sendo três dezenas na Índia – e com a vinda para o Brasil, terá um centro de dimensão semelhante no país. A design house dos Estados Unidos que também vai absorver técnicos do Ceitec, que ainda fará sua própria divulgação, é mais nova, mas ainda maior que a britânica. “São aplicações diferentes e não concorrentes”, adianta Leão.

“Podem ser apenas as primeiras e acabaremos nos tornando um polo para centros de projetos. E o que fica claro é que o Ceitec poderia ter conseguido um alcance global, porque a qualificação técnica está comprovada. E não só pelo interesse dessas empresas vindo para o Brasil, mas pelas mais de 30 pessoas do Ceitec que foram para o exterior e atuam em líderes mundiais como ARM, NXP e Infineon”, destaca Julio Leão.

Botão Voltar ao topo