SAP: Ética acelera a regulamentação da IA como não se viu com as redes sociais
Bangalore, Índia – A rapidez com que a inteligência artificial generativa se dissemina ao redor do planeta despertou, também de forma global, preocupações éticas com o uso dessa tecnologia que pressionam autoridades a adotar algum tipo de regulação sobre o tema.
Para a SAP, esse movimento é muito bem vindo. “Vemos de forma positiva que nesse ciclo mais rápido de hype sobre IA as pessoas esteja pensando em responsabilidade”, afirma a diretora de marketing e soluções da empresa, Julia White.
Sistemas de inteligência artificial, notadamente que envolvem grandes modelos de linguagem e processamento em linguagem natural, estão na ordem do dia do mercado de TI como um todo. E na SAP não é diferente – a empresa anunciou há um mês o lançamento do Joule, seu próprio assistente de IA generativa.
A SAP, insiste a diretora de soluções, está confortável com os debates a respeito de regras para o uso da IA e entende que elas são necessárias. Como destaca Julia White, isso sinaliza um grau de maturidade da indústrias de TI que não se viu acontecer com relação às redes sociais, por exemplo.
“Questões éticas estão puxando esse debate mais rápida e mais profundamente. Quem está em tecnologia há algum tempo reconhece tecnologias que avançaram tão rapidamente que em alguns aspectos a regulação não conseguiu acompanhar – como é o caso das redes sociais. Então existe uma maturidade da indústria de TI e dos governos querendo tratar o assunto de forma responsável”, afirma.
Regulação, ao lado do impacto no mercado de trabalho, é assunto da hora, como se viu nesta terça, 31/10, durante entrevista de diretores da SAP na prévia do TechEd, um evento anual da multinacional alemã, que este ano reúne desenvolvedores em Bangalore, cidade tratada com o ‘vale do silício’ da Índia – cerca de 40% das exportações de TI do país saem desta metrópole indiana.
O CTO da SAP, Juergen Mueller, diz que ser europeia, e alemã, deixa a empresa muito à vontade para discutir regulação de tecnologia. Ele acredita que o caminho que vem sendo trilhado na União Europeia, com abordagem baseada em risco, é o ideal para o setor. E essa é a mesma lógica do projeto de lei 2338/23, que tramita no legislativo brasileiro.
O melhor dos mundos, diz Mueller, seria ver essa mesma abordagem adotada de modo global, de forma a padronizar a regulação de IA. “No mundo ideal para empresas de software, teríamos apenas uma regulação global. Por exemplo, em privacidade de dados, quais dados podem cruzar fronteiras, continentes ou outras regiões definidas. Portanto essa seria a abordagem mais simples”, diz o CTO da SAP.
“E ter uma abordagem baseada em risco. Se houver muito pouco risco, deve ser aplicada menos regulação. Se houver alto risco, como questões capazes de impactar a vida, como contratações e demissões, mais regulação. Se envolver sistemas críticos, sistemas governamentais, de folhas de pagamento, sistemas de saúde, então é cabível ainda mais regulação. Essa seria nossa sugestão”, completa Mueller.
* Luís Osvaldo Grossmann está em Bangalore à convite da SAP