Silvio Meira: Entendimento do Brasil sobre Inteligência Artificial é raso e Lei será um erro grave
"O Brasil não tem articulação para IA. Vamos ter uma regulamentação para algo que o Brasil não faz e não sabe o que é, mas que em 2030 vai gerar US$ 15 trilhões à economia", adverte o cientista-chefe da TDS Company.
O Brasil cometerá um erro grave ao legislar sobre uma classe de problemas que não entende, como é o caso da Inteligência Artificial, adverte o cientista-chefe da TDS Company e um dos fundadores do Porto Digital, Silvio Meira. “Vamos criar mais problemas ao legislar sobre o que não entendemos. Não vamos resolver nada ao criar uma série de não pode antes de saber o que pode”, argumenta.
Meira, em entrevista exclusiva ao Convergência Digital durante o SECOP 2023, organizado pela ABEP TIC, em Brasília, lembra que o país levou 20 anos para criar uma Lei para proteger os dados das pessoas e ainda patina na sua adoção. “Sim, precisamos proteger as pessoas dos algoritmos. Mas digo que o entendimento do que é um algoritmo é muito raso aqui no país. Quase ninguém entende disso. E vamos legislar assim mesmo?”, indaga.
Para Silvio Meira, se a regulamentação da IA no Brasil for prescritiva e não de princípios gerais e amplos, será um erro grave. O cientista desabafa. “O Brasil não tem política, não tem estratégia, não tem inovação, não tem empreenderismo pensado para Inteligência Artificial. Vamos ter uma regulamentação para algo que o país não faz e não tem sequer uma articulação”.
Meira insiste: o Brasil pode sim ficar sem uma Lei, apesar dos movimentos da Europa e dos Estados Unidos. O certo seria estabelecer uma estratégia antes de qualquer coisa. “No Brasil, quase tudo que é tecnologia é feito fora daqui. Nós somos clientes e não fornecedores. Temos de criar aqui. Temos de fomentar daqui para o mundo. IA vai gerar US$ 15 trilhões à economia global em 2030, isso é oito vezes o PIB do Brasil. Vamos ficar de fora e brigar para se ter uma Agência Nacional de Inteligência Artificial?”.