Internet

Abranet: Apenas 22% das conexões Internet no Brasil são conectividade significativa

O conceito de conectividade significativa marca a necessidade de que os serviços digitais sejam acessíveis, tenham qualidade e possam ser utilizados pela totalidade da população.

Em painel na Futurecom 2024,  o CEO da Futurion, Caio Bonilha, lembrou, mesmo que 84% dos domicílios brasileiros tenham algum tipo de conectividade, 58% destes acessos são feitos via celular e, destes, 60% por meio de celulares pré-pagos. “O Brasil é um país desigual e esses números mostram o quanto a conectividade é limitada”, afirma.

Para reduzir ou, no limite, eliminar essas diferenças, é que o mercado vem dando força ao conceito de conectividade significativa. A conselheira da Anatel Cristiana Camarate explica que o conceito é dividido em quatro pilares. O primeiro deles é o da infraestrutura, necessária para que todos tenham acesso aos meios digitais. Depois, preço acessível que garanta que as pessoas possam acessar os serviços disponíveis.

“O terceiro pilar é o da segurança, que envolve a segurança das redes e também a educação do cidadão na ponta para que ele não seja vítima de fraudes”, diz Cristiana. Por fim, há o pilar da promoção das habilidades digitais, que tem o objetivo de incluir o consumidor no mundo digital. A conselheira lembra que, hoje, 22% da população brasileira que tem acesso a internet não a utiliza porque não sabe para que ela serve.

Mais que isso, ela lembra que dados do Fórum Econômico Mundial apontam que, em 2030, mais de 80 milhões de postos de trabalho não serão preenchidos por falta de habilidades digitais. “Por isso a Anatel vem atuando e estimulando iniciativas em todos os pilares como forma de alavancar a conectividade significativa no País”, diz.


Infovias no Norte e Nordeste

Um bom exemplo de ação voltada ao tema é a implementação das infovias digitais nas regiões Norte e Nordeste do País. O vice-presidente da Abranet, Jesaias Arruda, lembra que só 22% da conectividade disponível no Brasil pode ser considerada significativa, percentual que nestas regiões tende a ser mais alto.

Para que estas regiões sejam cobertas, a entidade tem acompanhado de perto a implementação das infovias, projeto que começou há alguns anos com o nome de Amazonas Conectado. “É desafiador, mas queremos que a Amazônia esteja conectada, assim como o Nordeste e as grandes áreas do Centro Oeste. Isso vai nos permitir incluir e letrar digitalmente as pessoas nestas regiões”, diz.

O presidente da EAF (Entidade Administrativa da Faixa), Leandro Guerra, conta que as infovias representam hoje o maior projeto de lançamento de cabos subaquáticos do mundo. O projeto começou com os Programas Amazonia Conectada 1 e 2, que conectaram Manaus (AM) a Tefé (AM) e Tefé até São Gabriel da Cachoeira (AM), na fronteira com a Colômbia e Venezuela, respectivamente.

“Estes já foram implantados, assim como a infovia 00, que liga Santarém (PA) a Macapá (AP), e a infovia 01, que liga Manaus (AM) a Santarém (PA). Co, estas já temos um enlace fechado entre Manaus e Macapá”, afirma.

As próximas fases do projeto incluem as infovias 02, 03 e 04 e, depois, 05, 06 e 08. Quando estiverem implementadas, elas interligarão Macapá (AP) a Belém (PA); Vila de Moura (AM) até Boa Vista (RR); Tefé (AM) e Tabatinga (AM), na fronteira com a Colômbia; Manaus (AM) a Porto Velho (RO); Rio Branco (AC) à rede; e Cruzeiro do Sul (AC) à rede.

“Mais que o backbone, estamos levando acesso”, diz o executivo, lembrando que em cada localidade alcançada pelo projeto, o cabo vai do leito do rio a um contêiner com um mini data center e, dali, liga uma rede de fibra que atende toda a região. “Com isso, estamos integrando hospitais, escolas, fóruns, quarteis em toda a região”, comemora.

Além das infovias, a região tem sido foco de projetos também da iniciativa privada. Arruda, da Abranet, cita o exemplo de uma rede varejista que construiu uma rede para atender nove municípios no interior do Amazonas. “É uma fibra que cruza dois rios, uma estrada e uma comunidade indígena, que nos pediu internet para permitir que seus jovens estudassem na tribo”, diz, lembrando que todos são peça deste quebra cabeça criado com o objetivo de levar conectividade significativa a todo o País.

Foco na educação

Mas erra quem pensa que falta conectividade significativa apenas em áreas afastadas. A diretora de tecnologia da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE) do estado de São Paulo, Luzia Sarno, cita a importância do letramento digital. Ela lembra que a rede estadual tem hoje 3,5 milhões de crianças, 5 mil escolas e mais de 200 mil professores.

Do total de escolas, 98% estão conectadas e os alunos contam também com os chamados dados patrocinados: plataformas do governo de ensino que podem ser acessadas de casa, sem custo, pelos alunos que tenham acesso. Estas plataformas são a resposta da FDE à necessidade de letramento digital. “Elas estão incorporadas ao currículo pedagógico para que as crianças aprendam a usar ferramentas. Aqui eles começam a ter ferramental que vão utilizar no mercado mais adiante”, diz, lembrando que todos precisam aprender a fazer uso correto da tecnologia.

Outras ações têm sido efetivadas também pelo Ministério das Comunicações. O diretor de projetos de infraestrutura e inclusão digital do ministério, Jordan Silva de Paiva, lembrou que sua área é a responsável pela gestão as infovias e do programa GSAC, que usa infraestrutura de satélites para atender áreas distantes. Na ponta da inclusão, ele coordena também o Programa Computadores para Inclusão, que envolve recondicionamento de computadores e letramento digital.

Por meio de um acordo de cooperação com a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil, os equipamentos que seriam descartados por estas instituições são encaminhados para 31 centros de recondicionamento espalhados pelo Brasil e depois direcionados para iniciativas de letramento digital. “Estes centros também ministram cursos voltados a área de tecnologia”, revela, lembrando que o acordo deve destinar cerca de 40 mil computadores ao projeto.

Para a diretora de regulatório da Claro, Monique Barros, o letramento digital é um dos maiores desafios a serem enfrentados, já que boa parte da população precisa aprender como usar, para que usar e como gerar valor com a conectividade acessada. Ela acredita que a conectividade celular é uma vantagem, uma vez que o País conta hoje com 100% de seus municípios cobertos por redes 4G. Quando afalamos de conectividade móvel, não acho que é ruim ter conectividade no pré-pago, que foi uma solução brilhante que permite conectividade a todos, com as mesmas velocidades”, diz

“Temos hoje um setor que investiu mais de R$ 1 trilhão em conectividade e infraestrutura, que no Brasil hoje é um exemplo. E gora temos um segundo estágio desse grande desafio: o setor esta comprimido em termos de volume de investimento, limitação de renda da população, e é o único investidor”, diz. Para a executiva, todos os atores do ecossistema precisam contribuir e se envolver. “Temos o governo engajado, emos o setor engajado, mas temos grandes atores, como as plataformas, que não colaboram da forma que poderiam. Talvez esse seja um momento de oportunidade para trazer mais atores do ecossistema trabalhando em conjunto”, diz

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