Depois de perder reputação e dinheiro, Facebook enfrenta ações judiciais
O pesquisador da Universidade de Cambridge, Aleksandr Kogan, que criou o aplicativo que permitiu coletar os dados de 50 milhões de usuários do Facebook usados pela empresa Cambridge Analytica, afirmou à BBC que está servindo de “bode expiatório” para as duas empresas.
Segundo o psicólogo, o trabalho foi encerrado em 2014 para a Cambridge Analytica (que, embora tenha esse nome, não tem relação alguma com a universidade), e que não tinha ideia de que os dados seriam usados para beneficiar a campanha de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos. Kogan sustentou que queria os dados para poder traçar um perfil comportamental humano por meio das redes sociais.
O acadêmico, que nasceu na Rússia e cresceu nos Estados Unidos, onde se formou na Universidade da Califórnia em Berkeley, desenvolveu um aplicativo de pesquisa de personalidade chamado This is Your Digital Life (“Essa é sua vida digital”, em inglês). Dados de cerca de 270 mil usuários foram coletados, mas o aplicativo também registrava informações públicas dos amigos desses usuários, o que permitiu a multiplicação desse volume.
Christopher Wylie, ex-funcionário da Cambridge Analytics, que revelou o caso aos jornais The Guardian e The New York Times, disse que, como resultado, os dados de cerca de 50 milhões de usuários foram colhidos para a empresa.
Tanto o Facebook quanto a Cambridge Analytica negam que tenham feito qualquer coisa errada. A rede social afirma que o Kogan violou as políticas do site. Segundo um porta-voz, o acadêmico não podia transferir dados para Cambridge Analytica para ser usado para fins comerciais.
Em sua defesa, Kogan disse à Radio 4, da BBC, estar “chocado” com as acusações feitas contra ele, já que havia sido informado de que o aplicativo era inteiramente legal.”A minha visão é que eu estou sendo basicamente usado como bode expiatório pelo Facebook e pela Cambridge Analytica quando… nós pensamos que estávamos fazendo algo que era normal”, afirmou. “A Cambridge Analytica nos assegurou de que tudo era perfeitamente legal e dentro dos termos de serviço”.
Justiça
O Facebook e a consultoria política Cambridge Analytica estão sendo processados nos Estados Unidos por obterem informações de 50 milhões de usuários da rede social sem permissão.
A ação coletiva apresentada na noite de terça-feira, 20/03, por Lauren Price, uma residente de Maryland, é a primeira de muitos processos judiciais possíveis que devem buscar compensações sobre a capacidade do Facebook de proteger os dados dos usuários e pela exploração de Cambridge Analytica desses dados em benefício da campanha presidencial de Donald Trump em 2016.
“Todo usuário do Facebook tem interesse nesse processo e a aplicação de seus direitos de privacidade”, disse John Yanchunis, advogado de Price, em uma entrevista por telefone na quarta-feira. A queixa foi apresentada ao Tribunal Distrital dos Estados Unidos em San Jose, Califórnia.
*Com agências internacionais, portal G1 e agência Reuters