Polarização política no Brasil alimenta disseminação de fake news
Como um câncer, não há vacina ainda para as chamadas ‘fake news’, notícias falsas, ou melhor tratadas como difamações. Ou assim temem debatedores do seminário promovido pelo Comitê Gestor da Internet nesta quarta, 4/4. Se já é difícil defini-las, muito mais é controlar a vontade de quem espalha.
“Mentira e difamação existem desde sempre. Em política então, nem se fala. A diferença está na distribuição digital e nas circunstâncias de hoje, em que somos todos hiperconectados. Não é que ‘fake news’ seja restrita ao mundo digital. A questão é a disseminação. Mas como regular isso? As pessoas distribuem porque querem, porque lhes é conveniente. Difícil imaginar uma solução. Onde houver uma lei, haverá algum atalho”, diz o professor Wilson Gomes, do grupo Comunicação, Internet e Democracia da Universidade Federal da Bahia.
O tema é global, mas encontra terreno fértil no momento político brasileiro, emendou o jornalista Leonardo Sakamoto. “A polarização favorece. Se não distender, não tem empatia, e aí não será a internet que não será saudável, mas o país. Então talvez seja melhor atacar a causa, reduzir a ultra polarização política. E usar transparência radical, mais do que criar limites. Afinal, delegar ao Estado definir o que é verdade é abrir caminho para a censura, para a retirada de direitos.”
Daí que Marcelo Bechara, da Abert, tenha ressaltado que “a premissa zero é que liberdade de expressão é inegociável”. E embora concorde com a dificuldade de regular o tema, acredita que há ferramentas legais para combate-las. “Falamos muito em direitos de privacidade. Mas aqui podemos falar em violação da democracia. Será que não estamos falando em dano coletivo? É algo usado muito no direito do consumidor, mas a democracia é um valor coletivo.”
O professor Wilson Gomes reforça, no entanto, a participação voluntária de quem dissemina informações que muitas vezes sabem ser falsas. “O que há na circunstância brasileira é que as pessoas precisam de sua dose diária de ‘fake news’. Existe um sentimento de guerra em que o importante é derrubar o outro lado. Só vejo um caminho no momento: é preciso disputar o mercado da interpretação política, que tenham vozes razoáveis a injetar racionalidade no sistema”.