Tim Berners Lee: “A Internet não foi criada para corrigir a humanidade”
A Internet está completando 30 anos e para o cientista considerado como ‘Pai da Internet’, Tim Berners Lee, ainda há muito por fazer para que a rede mundial alcance o seu ideal: ser aberta para todos. Em entrevista à revista norte-americana TIME, Lee destaca que a Internet, hoje, retrata o que é a sociedade global, com suas mazelas e alegrias.
“Sabíamos que a Internet seria usada para o bem e para o mal, como todas as tecnologias poderosas. Tínhamos a esperança de ao tornar a humanidade mais conectada, poderíamos ter uma sociedade com menos conflitos. Não aconteceu”, lamentou o especialista. Tim Berners Lee aprofunda sua análise e é taxativo: a Internet está longe de ser uma rede para todos.
“A Internet é dominada pelos homens brancos. Temos poucas mulheres e raças minoritárias, mas também vemos trabalhos em andamento para tornar a rede mais democrática e acessível. Temos muito por fazer pela frente e é muito importante escrevermos capítulos melhores nos próximos anos”, pontuou.
Três décadas depois – e especialmente depois de 2020, onde a Internet foi o pilar da estrutura global de enfrentamento aos efeitos da pandemia da Covid-19 – é impossível não reconhecer que a rede mundial mudou radicalmente a forma de comunicar, de fazer negócios e de viver do ser humano. Mas o crescimento da Rede Mundial trouxe problemas impensáveis até então, entre eles, o poderio das gigantes da Internet como Facebook, Google, Amazon, Apple e o surgimento das Fake News, que mudaram o cenário político em diferentes países, entre eles, o próprio Brasil.
Indagado pela TIME sobre as sombras que pairam sobre a Rede, Tim Berners Lee salienta que muitas pessoas acham que a publicidade foi o pecado original da Internet, mas para ele, são os usuários que vão, sempre, decidir como querem lidar com a Internet. Admite que, hoje, há uma grande pressão para mudar as redes sociais, mas insiste: somente os usuários têm o poder de reescrever o modelo. “A regulamentação é uma boa ação, como acontece agora com as regras para garantir a privacidade. Mas sempre será o usuário quem vai decidir como a Internet vai funcionar”, sustenta.
Os próximos anos da Internet, adiciona Berners Lee, precisam ser vividos para se ter a certeza de que a rede mundial está servindo à humanidade. “Esse é o único rumo possível para o futuro da Internet. Temos que construir sistemas livres, abertos e que assegurem a democracia. A Internet tem de servir ao homem. Esse segue sendo o meu ideal e pelo qual vou lutar”, completou.