Vigilância e centralização ameaçam internet com maior papel dos governos
Fundada pelo ‘pai’ da internet, Vint Cerf, a Internet Society chega aos 25 anos preocupada com as mudanças e, especialmente, com o papel de destaque os governos em geral, o Estado, vai gradativamente ocupando na rede das redes. Em novo relatório, ‘Caminhos para nosso futuro digital’, divulgado nesta segunda, 18/8, a ISOC fala em “temores crescentes de que a internet possa ser vista e utilizada de uma forma diferente no futuro, com centralização, vigilância em massa e fragmentação”.
São era de início um documento com tal finalidade, o relatório reforça esse entendimento ao listar como principais conclusões que: a coleta de dados, acentuada pela internet das coisas e inteligência artificial, pode gerar uma sociedade da vigilância; a busca de segurança cibernética vai restringir liberdades; há um crescente poder governamental sobre a rede; e os governos serão fortemente tentados a abusar desse poder.
“Vemos que fatores sociais e econômicos, a economia digital e questões de segurança estão impulsionando ou podem levar a uma nova internet. Uma das preocupações, e isso vem muito forte nas contribuições, é a maneira como os Estados vão reagir às questões de segurança. Se vão sobre-regular em cima de mais controle”, diz a advogada e assessora de políticas públicas da ISOC, Raquel Gatto.
Como lembra, esse desenvolvimento está ligado à própria missão do Estado. “Tem mandato para a proteção do cidadão, mas como ele vai fazer essa proteção e ao mesmo tempo manter a liberdade. É uma posição extremamente delicada. Mesmo Estados conhecidos por suas características de democracia, protetores de liberdades, estão considerando medidas mais controladoras e isso é extremamente perigoso”, diz ela.
No entanto, Raquel Gatto ressalta outra grande preocupação do relatório: a aumento do fosso digital. Ou seja, o risco de que as divisões digitais do futuro não estarão apenas relacionadas ao acesso da internet, mas também sobre a lacuna entre as oportunidades econômicas disponíveis para alguns, mas não para outros. O vínculo entre segurança e prosperidade econômica crescerá, levando ao potencial de uma divisão de segurança que separa aqueles indivíduos ou países que podem proteger seus ativos digitais daqueles que não podem.
“Quem não está conectado vai perder toda uma participação socioeconômica, vai estar fora dessa economia digital. Essa é uma grande preocupação. Os que ainda não se conectaram vai ser ainda mais difícil conectar. São comunidades isoladas, zonas rurais. Quem não tem alfabetização, e aí tem questão de conteúdo, outros fatores muito mais difíceis. Tudo isso já começou a gerar a desaceleração no crescimento capilaridade da internet. A melhor vacina para isso, resume Gatto, “é colocar sempre a questão do individuo e desenvolver cada vez mais os mecanismos de participação ‘multistakeholder’”.
O relatório ‘Caminhos para nosso futuro digital’ foi desenvolvido através de pesquisas da Internet Society ao longo de 18 meses, desde o início de 2016. Três pesquisas globais, duas regionais e dez mesas de discussão fizeram parte do estudo, somadas às entrevistas com mais de 130 especialistas da Internet que representam o governo, o setor acadêmico, organizações internacionais, negócios e organizações não governamentais.