YouTube usa Câmara e Senado para recomendar canais de fake news
Um estudo com base em 241,88 mil vídeos postados entre 2009 e 2019 pela Câmara dos Deputados, Senado Federal e por assembleias legislativas estaduais no YouTube indica que a plataforma parte dos canais considerados “verificados”, ou seja, com credibilidade, para recomendar conteúdos considerados de disseminação de informações falsas, apelidadas de ‘fake news’.
“Coisas que não poderiam acontecer estão acontecendo, questão de regras que não estão sendo respeitadas. Percebemos que o sistema de recomendação que o YouTube coloca na linha de reprodução automática inclui canais que estão muitas vezes envolvidos na divulgação de notícias falas. Ou seja, coloca na mesma linha de credibilidade desses canais institucionais”, afirma o pesquisador João Guilherme Bastos dos Santos, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital.
O estudo avaliou dados de 21,3 mil vídeos da Câmara dos Deputados, 73 mil do Senado e 147 mil de 24 assembleias estaduais. No caso do Congresso Nacional, os 94 mil vídeos somam 19,3 mil horas de conteúdo, com mais de 56 milhões de visualizações, até novembro de 2019.
“Não é só uma indicação. O padrão do YouTube é a reprodução automática e esses canais de disseminação de informações falsas estão nessa lista. A própria CPI das ‘fake news’ é enviada para um canal que contesta a legitimidade do Congresso. É relevante, uma vez que a audiência estimada do YouTube no Brasil é de 120 milhões de pessoas. Então qualquer viés de direcionamento de audiência tem efeito muito grande”, aponta o pesquisador.
Na prática, a audiência da plataforma faz do YouTube o segundo “canal” mais assistido no país. A estimativa é que o YouTube detém 15% do share de audiência, atrás apenas da TV Globo, com 18%, e muito acima de qualquer outra plataforma, rede social ou canais abertos, todos abaixo de 6%.
Segundo Santos, a pesquisa, que foi apresentada ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), busca discutir como dar melhor tratamento à questão. “As TVs da Câmara e do Senado e vários outros sites institucionais são diferentes de canais comerciais, por serem sites institucionais verificados, portanto de fato canais das instituições e espera-se um tratamento diferente para quem subscreveu.”
“A gente sabe que em geral tendem a ser privilegiados vídeos polêmicos. Mas em outros países isso leva a uma série de problemas, como o crescimento de canais terraplanistas nos Estados Unidos. Mas lá houve uma reação forte e, por exemplo, canais antivacina foram retirados do Youtube. Aqui críticas aconteceram, mas não tirou. E enquanto o Facebook baniu uma série de páginas no processo eleitoral, o YouTube não fez o mesmo. Então canais migraram.”