5G combinado ao Open Finance exige uso intensivo da nuvem
A chegada das redes 5G ao mercado brasileiro vai trazer mudanças ao setor financeiro, especialmente aos meios de pagamento. Este foi o foco de um dos painéis realizados no Futurecom 2022 e que contou com a participação do diretor executivo da Embratel, Antônio João Filho; do superintendente de TI do Itaú Unibanco, Augusto Nellessen; da diretora de produtos, segmentos e canais digitais do Banrisul, Claíse Muller Rauber; do diretor sênior de produtos do Mercado Pago, Fábio Levi; e do head de produtos do Neon Bank, Marcelo Haddad.
Para Augusto Nellessen, do Itaú, o impacto das redes 5G será direto em duas frentes. A primeira, interna, trazendo ganho de eficiência para as operações do banco. “Já fazemos uso massivo de redes móveis no Brasil e de redes de telefonia que são majoritariamente aéreas e sujeitas a problemas, o que nos obriga a ter dois ou três acessos para contar com apenas um funcionando com qualidade”, explica.
O executivo diz que a chegada do 4G já representou um ganho de qualidade e de redução de overhead e que esta expectativa é ainda maior com o 5G. Nellessen revelou que o banco vem realizando pilotos há cerca de oito meses e que tudo indica a possibilidade de migrar as redes cabeadas para uma rede móvel, com a velocidade saltando de 120 MB para 600 MB.
Na outra frente estão as possibilidades de novas ofertas aos clientes. “Aqui precisamos entender como melhorar produtos e levar mais para nossos clientes. Isso está sendo estudado em diferentes setores do banco. Na área de seguros, por exemplo, estamos analisando o uso de IoT e estudando como fazer isso”, diz.
Até aqui, vem chamando a atenção a possibilidade de melhorar a experiência dos clientes durante o uso do app do banco. A ideia, por enquanto, é possibilitar experiências diferenciadas a partir do momento em que o app identificar que está em uma rede 5G. “Por enquanto, estamos testando que tipo de experiência pode ser entregue em uma rede de alta velocidade”, revela.
Já a diretora de produtos, segmentos e canais digitais do Banrisul, Claíse Muller Rauber, diz que embora tenhas as mesmas expectativas, vive uma outra realidade. Claíse reconhece que o banco ainda não está realizando testes e que sua preocupação é o fato de os clientes ainda dependerem fundamentalmente do Wi-Fi para realizar transações via app. “Quando vamos para dados móveis, nas redes que temos hoje, não podemos garantir que nosso cliente tem o banco na mão. O 5G deve nos trazer essa facilidade. Hoje colocamos diversos produtos à disposição do cliente, mas muitos não são acessados facilmente. O 5G deve nos ajudar nesse sentido”, acredita.
O head de produtos do Neon Bank, Marcelo Haddad. acredita que as redes 5G devem ser viabilizadoras para a oferta de serviços financeiros mais justos, mas há desafios envolvidos aqui. Hoje 88% dos clientes da instituição são das classes C, D e E e suas dores de conectividade, muitas vezes, estão aquém da conexão. “Em alguns casos o próprio device é um problema e deve levar um tempo para que estes clientes sintam o impacto das redes 5G”, prevê.
De todo modo, há um consenso de que o uso das redes 5G deve aumentar, e muito, o volume de dados a ser coletado e trabalhado pelas instituições. Para o diretor sênior de produtos do Mercado Pago, Fábio Levi,isso representa também um desafio para as instituições. “O que temos como responsabilidade é garantir que o dado do cliente só é acessado por ele e será usado em benefício dele desde que ele permita”, diz.
Isso aumenta também a preocupação, e os investimentos, com a segurança. “A segurança é uma questão que surge com as ideias de personalização, porque os dados tendem a crescer muito. Temos que nos preocupar muito com isso, porque não viveremos mais sem isso. Mas ainda estamos em um estágio muito inicial de aprendizagem”, afirma Nellessen, do Itaú, ressaltando ainda que o Open Finance combinado com o 5G vai exigir grande poder de processamento, uso intensivo de nuvem e, claro, mais investimentos.
Sob a perspectiva das operadoras, João Filho, da Embratel, destacou o esforço que vem sendo colocado na construção da infraestrutura de 5G no País, que deve estar pronta para atender novas demandas. Especificamente sobre o setor financeiro, ele destacou que o uso das redes 5G deve ampliar o que ele chama de cloudificação do mercado, o que vai permitir a implementação de processos mais sofisticados e ágeis.
“Também é esperado um maior engajamento dos clientes como resultado da possibilidade de hiper personificação”, diz. No limite, o mercado financeiro deve se preparar para novos modelos de pagamento, como os que poderão ser feitos por objetos como uma geladeira conectada que, ao detectar a falta de um determinado produto, poderá comprá-lo por meio de um processo previamente estabelecido e autorizado pelo seu dono.