
Por Roberta Prescott*
Com a ascensão da inteligência artificial nas empresas, os desafios para os líderes de análise de dados e análise, chamados de CDAOs, pela sigla em inglês para chief data & analytics officers, incluem a cultura da empresa e a priorização de casos de uso de alto valor. “A função dos CDAOs está evoluindo de uma abordagem defensiva para uma ofensiva, com foco na transformação e no valor”, apontou Jorg Heizenberg, vice-presidente e analista da Gartner para líderes de dados e análises (D&A), em encontro com jornalistas nesta semana durante a Conferência Gartner Data & Analytics 2025.
Questionado por Convergência Digital sobre qual é o estágio atual de contratação de CDAOs ecomo eles se enquadram no organograma das companhias — tomariam o lugar dos diretores de TI —, Heizenberg ponderou que que ainda estamos em estágios iniciais. “Acho que levou muitos anos, mais de 10 a 15 anos, para que uma função como a de diretor de dados se consolidasse. E acho que muitas organizações, especialmente as maiores, agora têm um diretor de dados, mas a função ainda muda muito o tempo todo e, em alguns casos, o diretor de dados e análise também é responsável pela IA”, disse o VP.
Muitos tipos diferentes de funções híbridas estão surgindo, o que, para Heizenberg, significa que é um sinal claro de que nada está consolidado. “O que um CFO faz? Todo mundo entende. Mas o que um CDAO faz ou um diretor de IA etc., ainda está muito em desenvolvimento. Então, ainda é cedo, mas também está mudando rapidamente”, explicou.
A expectativa do VP do Gartner, contudo, é que o cargo de responsável por dados e IA se consolide muito mais rapidamente, porque a IA está acelerando tudo, incluindo, o estabelecimento da função. “Uma coisa é certa: eles sempre precisam trabalhar juntos. Portanto, mesmo que você tenha um responsável por dados e um responsável por IA separados, eles devem trabalhar juntos, porque, como você bem sabe, sem bons dados, não há boa IA”, enfatizou.
Deepak Seth, diretor-analista do Gartner e que também estava na coletiva, usou o exemplo da eletricidade para comparar ao momento atual do CDAOs. “Quando a eletricidade surgiu, há cerca de cem anos, as empresas tinham um diretor de eletricidade. CEO significava diretor de eletricidade. E o papel do CEO era descobrir como usar a eletricidade na empresa, se usar CA [corrente alternada] ou CC [corrente contínua], porque havia uma grande batalha entre elas. A mesma coisa está acontecendo [com CDAO]. É estranho que continuemos revivendo a mesma história em épocas diferentes, mas com tecnologias novas, mais recentes e diferentes”, assinalou
O papel do diretor de IA evoluirá ao longo do tempo; e talvez o diretor de dados e análise se transforme em diretor de IA. “Um desafio que surge constantemente nas empresas é a geração de IA, especialmente a generativa. Quando a IA era a IA tradicional, ela estava bem no âmbito dos dados, tudo girava em torno de modelos de dados e era sobre ciência de dados e aprendizado de máquina. Quando a IA generativa surgiu, o foco veio do lado comercial. Então, é mais sobre o negócio e outras partes interessadas, como o diretor de marketing, o diretor de estratégia, o diretor financeiro, também acham que podem assumir o controle disso, porque são os condutores desse processo”, detalhou Seth.
Enquanto ainda há muita indefinição sobre os rumos do cargo de líder de dados, análise, IA e TI, as companhias precisam endereçar problemáticas do momento e uma delas é a cultura. Em uma de suas pesquisas, o Gartner perguntou aos líderes de dados e análise de dados de mais alto escalão em uma organização o que estava o impedindo de ter sucesso e qual era o maior desafio na sua organização.
“Em primeiro lugar, é interessante ver que o principal desafio é que a cultura da empresa não é orientada por dados. Mas eles não deveriam usar isso como desculpa, mas, sim, assumir a responsabilidade e garantir que a empresa se torne mais orientada por dados, o que significa que eles vão trabalhar na gestão de mudanças, mudando o comportamento das pessoas na organização, porque uma organização orientada por dados encontra funcionários orientados por dados”, resumiu Heizenberg.
A maioria dos desafios para os líderes de análise de dados não está relacionada a governança, plataformas, ferramentas ou tecnologias. Trata-se de garantir que a mudança aconteça e de mensurar o valor — o que também implica em transformação de vários cargos nas companhias.
Outro desafio assinalado pelo VP é que muitos líderes de dados e análises ocupam este cargo pela primeira vez ou eles são o primeiro CDAO da organização. “E isso é um desafio duplo, porque a maioria das organizações sabe o que um CFO ou CIO faz, mas de repente surge esse novo CDAO e eles precisam se estabelecer. A primeira geração de CDAOs se concentrou mais nos aspectos de dados e tecnologia, governança de dados ou construção da plataforma certa, mas essa é uma abordagem mais defensiva em que eles constroem a base para o sucesso”, explicou Heizenberg.
Já a nova geração de CDAOs que está surgindo agora tende a se concentrar mais em uma abordagem muito mais ofensiva, garantindo que as organizações tenham sucesso. “É preciso encontrar o equilíbrio”, assinalou Heizenberg.