Com inteligência artificial, Citrosuco dribla doença que destrói lavoura
O greening é a mais destrutiva doença dos citros no Brasil e a maior ameaça à citricultura mundial. Presente em quase todo o continente americano, ela ataca os diversos tipos de citros e não há cura para as plantas doentes. Assim, a maneira de driblar a doença é fazendo um rígido controle e monitoramento da plantação. A Citrosuco apostou na tecnologia aplicada no campo para buscar a máxima produtividade e enfrentar o greening.
“Na laranja temos vencido a doença greening, que colapsou a indústria americana. Nosso caso é de sucesso, porque estamos vencendo questões estruturais, que são o clima e as doenças”, disse Tomás Balistiero, chief operating officer da Citrosuco, que tem parte da produção própria e parte comprada de produtores. As fábricas são próprias, assim como os navios, que partem, principalmente, para os Estados Unidos e Europa levando o produto nacional.
O manejo brasileiro, basicamente no cinturão de São Paulo e que responde pela maior parte do volume, escolheu um caminho de proteger-se do vetor. “A bactéria não tem cura, mas temos como controlar o vetor. O Brasil foi pelo caminho de controlar o vetor e os Estados Unidos foram pelo caminho de achar a cura da bactéria e eles foram perdendo o controle. Investiram muito dinheiro em pesquisa, mas não acharam uma solução, e eles, simplesmente, caíram para um décimo da produção de 15 anos atrás. A última safra deles foi de 16 milhões de caixas; dez anos atrás eram 250. E o Brasil neste ano vai produzir 314 milhões de caixas. Então, o Brasil venceu esta corrida”, detalhou.
A produtividade agrícola cai drasticamente quando as plantas são acometidas pela bactéria. O greening é causado por uma bactéria (Candidatus Liberibacter asiaticus) e deixa o fruto assimétrico, mais amargo, fazendo-o também cair antes. “Não tem cura, então, a gente foi pelo caminho de controlar o vetor. Usamos tecnologias para ter precisão do manejo”, aponta, referindo-se a agricultura de precisão e equipamentos de telemetria. “Temos tecnologia que sobrevoa os pomares, digitalizando, fazendo como se fosse um ID da planta. A gente digitaliza planta por planta e isso me dá a informação de qual nível de sanidade da planta, qual volume, se tem problema com erva daninha, se tem problema de irrigação, se tem sinal de doenças. E, a partir disso, geramos missões”, acrescentou.
Essas missões são incorporadas ao processo e levam à tomada de decisão, tudo isso com base em apontamentos da inteligência artificial. “É gerada uma missão, que chega ao nosso time de campo, que tem que executar aquela atividade, aquela missão, mesmo que a missão seja só uma inspeção”, explicou. Essa tecnologia está aplicada e já em escala em 100% das plantas.
Dentro da estratégia, a Citrisuco escolheu algumas tecnologias para escalar para acelerar o processo de transformação. A inteligência artificial aplicada à sanidade da planta é uma delas — e ela ajuda a enfrentar o greening, porque quando acometida a planta apresenta algumas características típicas, como mais fraca, coloração mais amarelada.
Outro exemplo é que a Citrosuco, por já ter muito dado dentro de uma estrutura robusta, começou a desenvolver alguns estudos de caso de modelagem para transformar as decisões. Uma delas foi o desenvolvimento de um modelo para identificar a janela ideal de colheita, apontando a semana ideal para a colheita e para qual lote e com isso aumentar a produção de suco por hectare. A modelagem foi desenvolvida pela equipe da Citrosuco a partir dos dados. Depois foi feita uma otimização da operação para poder executar a modelagem.
De acordo com o executivo, isso levou, no ano passado, a um incremento comparando com a com áreas controle versus às áreas nas quais a modelagem foi aplicada de um ganho de 15% de produção. “É um ganho extremamente robusto porque a gente está falando de otimização, falando de inteligência aplicada e otimização para executar aquilo. Então, não tem recurso adicional colocado, você não tem mais investimentos”, disse. Neste ano, 100% da safra será colhida usando esta modelagem.
A Citrosuco estruturou uma equipe para cuidar da parte de modelagem. São profissionais que não apenas estudam casos que possam entrar em operação como medem o desempenho do modelo que está rodando, fazendo todo o acompanhamento.
Falando sobre o impacto da inteligência artificial no campo, Tomás Balistiero disse que a revolução da IA para os negócios mais intensivos está começando e está todo mundo aprendendo o caminho. “Estamos entrando em uma era de aplicações em escala. Eu brinco que é a síndrome da prova de conceito; você tem muitas provas de conceito, algumas aplicações mais específicas escaladas, mas, quando você olha, o grande volume de atividade ainda é limitado.”
Longo processo
Para chegar a esse nível de sofisticação, a Citrosuco passou por um programa de transformação digital que endereçou desafios da companhia que é verticalizada e vende para mais cem países, com uma operação tão complexa quanto administrar o campo e toda a logística para fazer seus produtos chegarem aos diferentes países.
Hoje, a Citrosuco é 100% digitalizada. Todas as fazendas, indústrias e terminais logísticos ao redor do mundo estão conectados, o que permite a integração das práticas agrícolas, desde o viveiro de mudas até a entrega dos produtos às indústrias. E, para além do suco de laranja, a companhia lançou uma empresa que produz ração, óleos essenciais para indústria de alimentos e fragrância.
No entanto, para chegar a esse ponto, endereçando desafios relacionados a mudanças climáticas, à elevação de produtividade e à eficiência dos processos, a companhia entendeu que precisava fortalecer-se em tecnologia. Há cinco anos, foram feitos investimentos mais robustos para instalar a infraestrutura necessária e habilitar a inteligência aplicada, automação e software de gestão. Foram desembolsados um montante significativo de US$ 40 milhões de dólares (equivalente a cerca de R$ 200 milhões) para o desenvolvimento de sistemas de análises de dados. Foi nesse período também que a Citrosuco implantou o SAP S/4HANA.
Outro desafio ao qual a empresa se depara constantemente é a conectividade no campo. E para vencê-lo, a Citrosuco fez investimentos em infraestrutura para instalar 4G e iluminar as fazendas. Para tanto, foi firmada uma parceria com a TIM, na qual a Citrosuco investiu em torres junto com a TIM para dar cobertura à operação — a rede celular é pública e pode ser usada por qualquer cliente. O terceiro elemento de infraestrutura foi o armazenamento e estrutura de dados. “Todos os nossos dados estão na nuvem, fizemos a construção de data lake e o tratamento dos dados”, contou. A Citrosuco é cliente Azure, da Microsoft.
Todos esses pilares foram construídos até 2022. Agora, a Citrosuco entrou em uma fase de se focar nas aplicações, tais como as relacionadas à IA. “Para isso, você tem de ter conectividade, um sistema robusto e data lake — uma grande base de dados estruturada. Consumimos o dado dele para desenvolvimento das aplicações. Fizemos todo este investimento na preparação para a transição e estamos em uma fase com algumas boas aplicações”, detalhou Tomás Balistiero.