Generali Brasil: IA avalia até 3 mil ações judiciais por dia
A Generali Brasil começou em 2018 a levar a cabo um conjunto de projetos voltados para inovação no mercado seguradoras. Teve início também a discussão de uso de inteligência artificial aplicada para definir tarifas para seguro de autos. “O projeto de IA não avançou, mas aprendemos muito com ele”, contou Alexandre Muniz, VP e diretor de TI, operações e sinistros da Generali Brasil, em entrevista ao Convergência Digital.
A experiência foi importante, porque, mais tarde, as lições aprendidas foram relevantes quando a companhia saiu do mercado de seguro de automóveis e passou a focar no segmento de seguro de vida. “Nisso imaginamos como poderíamos atuar no segmento digital, que é mais difícil, e, desde então, pensamos em como poderíamos usar IA para um contexto que não necessariamente é o do mercado digital. Começamos a olhar para as ações judiciais”, explicou.
Segundo o diretor, esse mercado, hoje, é muito poluído por diversas ações judiciais de várias naturezas — e é preciso separar as sérias e reais daquelas que são oportunismo ou fraude. Assim, IA, que, tradicionalmente, vem sendo usada para parte de vendas, perfilagem de clientes ou ajustes de tarifas e preço, teve a função de gerir melhor as ações judiciais.
Com inteligência artificial, a Generali Brasil pode identificar, por exemplo, que, em alguns contextos, era mais vantajoso fazer acordo antes de a reclamação virar uma ação judicial. A solução analítica monitora, compara e prevê processos judiciais de 1º e 2º graus com base em informações públicas e da empresa. “Nós usamos a solução deep legal, que é uma ferramenta que permite que a gente saiba se vai ter ação judicial antes de ela se tornar uma, analisando o trâmite da reclamação dentro dos tribunais. A solução faz a integração de todos os tribunais no Brasil e cruza com informações da internet”, detalhou.
Com isso, a companhia ganhou inteligência para a tomada de decisão. “Isso permite que a gente reduza as ações e pegue casos de fraude antecipadamente”, destacou Alexandre Muniz. Conseguir antecipar e ter a previsibilidade de gastos é de suma importância no mercado de seguros, que exige que as companhias tenham reserva financeira. “Se você evitar que a ação aconteça, você não precisa segurar este capital, o que facilita a gestão de caixa”, justificou o diretor.
A solução tem evoluído, até porque o sistema vai aprendendo conforme é retroalimentado. Ele classifica as ações judiciais e as agrupa, de modo que a equipe da Generali Brasil possa planejar estratégias diferentes. Há também apontamento de quais ações podem ser fraudulentas, quais têm algum parceiro associado e traz insights de probabilidade de ganhar a ação. “Essa probabilidade vai determinar a reserva financeira que devo ter na seguradora. A ferramenta de IA me permite calcular isso melhor”, disse Muniz.
Adotada há pouco mais de um ano. Muniz não abriu números sobre o impacto da IA, mas disse que houve, “de cara”, uma redução de 20% no tamanho da reserva, além de ter aumentado o número de acordos: passando de dezenas para milhares deles. Ele contou que entre 2 mil e 3 mil ações dia são avaliadas ao dia, já que existe a necessidade de analisar as mesmas ações todos os dias, porque pode ter algo novo no processo.
“Antes, a gente fazia análises manuais e errava muito. Uma pessoa ficava com muitas ações e, quando você tem mil ações por advogado, você foca nas principais. Hoje, não temos diferenciação, focamos em todas e o próprio sistema aponta quais são as principais”, relatou. Com uso de IA, a companhia também consegue entender a causa-raiz das ações e atuar, por exemplo, mudando alguns produtos e coberturas de seguro.
A equipe não foi reduzida, mas com IA se evitou a necessidade de ter de aumentá-la e permitiu que alguns funcionários fossem realocados em âmbito mais estratégico, com advogados se dedicando a criar estratégias diferentes por grupo de ação judicial. “Isso é muito interessante, porque são muitas estratégias que podemos fazer. O custo da fraude é muito alto e eu consigo concentrar melhor a equipe”, apontou o diretor.
Fundada em 1831, a Generali é um dos maiores grupos globais de gestão de ativos e seguros, com quase 72.000 funcionários e 67 milhões de clientes. Está presente em 50 países, com uma receita total de prêmios de 75,8 bilhões de euros em 2021. A subsidiária brasileira foi listada na Innovative Workplaces, lista produzida pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), que classifica, pela primeira vez na história, as 20 empresas mais inovadoras do país.
Em nota, o CEO da Generali Brasil, Andrea Crisanaz, disse que a inovação é um dos principais pilares da Generali e que a empresa tem se dedicado muito à transformação digital por meio de várias ações, como a implantação de SAP, de Salesforce Service Cloud e do Whatsapp no atendimento, a fim de conquistar mais rapidez no acompanhamento e na gestão de processos. A companhia também lançou a cobertura PIX para indenizar transações não autorizadas.