Por Roberta Prescott*
Perto de 120 algoritmos rodam em diferentes áreas do Hospital Israelita Albert Einstein com finalidades distintas, permitindo não apenas melhorar o cuidado do ponto de vista assistencial como identificar pacientes com maior risco e agir antecipadamente. Os impactos também estão em departamentos de suporte à operação, com os algoritmos ajudando a organização a ser mais eficiente do ponto de vista operacional, por meio da melhoria de processos e uso de IA para fazer análises preditivas. “Temos sempre como premissa principal a segurança do paciente”, ressalta Rodrigo Demarch, diretor de inovação do Hospital Israelita Albert Einstein.
Demarch explica que estes algoritmos são monitorados de forma permanente para avaliação do desempenho deles e, na medida do necessário, fazer ajustes e manutenção. “Às vezes, a qualidade do dado muda, então, precisa ter a permanência da análise do algoritmo”, justifica o diretor.
Nesse sentido, o prontuário eletrônico acaba sendo catalisador para se construir a inteligência. Os mais de 100 algoritmos rodando em várias áreas permitem ao hospital ser mais eficiente, gerar o leito mais rapidamente e economizar recursos. Outro componente é apoiar o médico e a equipe na entrega do cuidado, fazendo o médico gastar menos tempo com papelada. “Quando tem prontuário eletrônico e usa IA para extrair insights, você vai na direção de construção de um sistema mais sustentável, eficiente e um diagnóstico mais preciso”, explica.
As inovações recentes em inteligência artificial são frutos de uma década de estudo e desenvolvimento tecnológico. “A gente trabalha com IA no Einstein já há alguns anos e de várias formas diferentes. Temos uma estrutura de inovação que existe neste formato há uns 10 anos mais ou menos e ela foi desenvolvendo uma série de competências em diferentes tipos de tecnologias aplicadas à saúde: saúde digital, biotecnologia e dispositivos médicos”, explica Demarch.
O hospital tanto conta com uma estrutura interna como analisa o mercado, avaliando startups para saber quais delas estão desenvolvendo tecnologias interessantes. Além disso, existem também outras áreas dentro da organização que trabalham com tecnologia, como a de transformação digital, focada em TI corporativa e iniciativas de big data.
Com isso, o hospital tem uma série de projetos relacionados à IA, desenvolvendo algoritmos dentro de casa e também buscando no mercado. A IA está presente em diversas áreas — e não está centralizada em uma única área. “A organização foi entendendo que, do ponto de vista de governança, precisa ter direcionadores da estratégia de IA, mas a sua aplicação é descentralizada”, diz o executivo, acrescentando que, hoje, este processo está bastante maduro.
Um exemplo é o projeto HStory que nasceu na área de big data e tem como foco a história da saúde do paciente. A solução foi criada com a finalidade de ajudar o médico a enxergar de maneira mais fluida e simples o histórico do paciente ao longo de um período de tempo, extraindo do banco de dados do prontuário eletrônico do hospital as informações e as entregando ao médico de forma simplificada.
“HStory consegue ler e mostrar para o médico de forma fluida e interessante os dados que o hospital possui do paciente. Além da melhor experiência, mais recentemente, o HStory teve outra feature disponibilizada, que é um agente de IA, uma inteligência artificial generativa que roda em cima dele para facilitar a vida do médico para determinadas atividades, como o resumo do histórico do paciente”, detalha Demarch.
O agente de IA dentro do HStory foi desenvolvido alguns anos atrás, mas os médicos começaram a usar ainda em fase piloto neste ano. A expectativa do hospital, à época da entrevista, era de fechar 2024 com entre 1.500 a 2.000 médicos podendo ter acesso à ferramenta.
Outro exemplo está nas parcerias com startups de IA com o departamento de imagem, cujas tecnologias foram incorporadas às atividades, levando a ganho produtividade, porque permitem de rastreamento de forma automatizada até apoio a diagnóstico mais preciso por encontrarem elementos nas imagens mais precisamente.
“Esse tipo de atividade acontece de forma sistemática com equipe médica trabalhando junto com time de inovação e olhando para novas tecnologias que chegam para entender quais delas fazem sentido serem incorporadas”, explica o diretor de inovação.
“O uso inteligente de startups é fundamental — a transformação do sistema não vai acontecer pelos incumbentes, mas por quem souber trabalhar em simbiose com o ecossistema”, analisa.
O Hospital Israelita Albert Einstein também trabalha no desenvolvimento tecnológico em parceria com a indústria. “Muitas vezes, a indústria tem um determinado problema a ser resolvido ou solução a ser desenvolvida e trabalha em conjunto com o Einstein”, diz Demarch.
Nesse formato, solução para determinado problema é pensada em conjunto. “É um tipo de atividade que temos feito cada vez mais com vários grandes players do mercado — marcas conhecidas que trabalham com tecnologia na área médica — e é outra forma de trabalhar com IA.”
O hospital foi aprendendo a trabalhar com essas tecnologias ao longo dos anos — evoluindo o nível de maturidade da tecnologia. Assim, adquiriu competência para trabalhar em escala, algo que, no passado, não era possível. Hoje, Demarch diz que tudo está muito mais maduro no ponto de governança de inteligência artificial e como se atrelam as decisões às questões estratégicas da organização.
Um ponto fundamental — e cerne de tudo — foi a construção de um banco de dados com qualidade. “IA só funciona assim”, enfatiza o diretor de inovação. Existe um data lake, que é a fonte principal de dados com, por exemplo, o prontuário eletrônico do paciente, e também outras fontes secundárias que acabam sendo agregadas. “O processo de governança de inteligência artificial que foi construída ao longo dos anos com objetivo de usarmos os dados da melhor forma possível: quem vai ter acesso ao dado; forma que ele vai usado; garantir que, quando precisa ser anonimizado, ele será; respeitar a LGPD”, detalha.
Ao longo dos anos, o hospital foi aprendendo com as áreas frentes a trabalhar com e tecnologia. “O ponto é que se trata de uma jornada que leva tempo. Além de todo conhecimento gerado dentro de casa, tem o gerado extramuros com organizações internacionais, com o Einstein desenvolvendo projetos com grandes centros médicos líderes globais”, aponta o diretor.
Com o tempo e os projetos, o hospital foi sendo capaz a aprender a trabalhar com tecnologia de ponta, incorporando-as à sua prática assistencial e sendo capaz de mensurar o que e como elas poderiam impactar para entrega de um serviço de mais qualidade. A próxima fronteira, adianta Rodrigo Demarch, é levar e adaptar essas tecnologias para o sistema público de saúde.