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Internet das Coisas: empresas driblam entraves e ‘donos dos projetos’

A internet das coisas começa a virar realidade no Brasil, mas ainda há desafios a serem vencidos. Os entraves vão de melhorar a cobertura da conectividade — principalmente em áreas remotas — e segurança da informação à falta da padronização da tecnologia. Apesar disto, empresas como a montadora Renault-Nissan e a companhia de logística VLI já testam IoT em projetos pilotos. Do lado das operadoras de telecomunicações, a Claro Brasil montou uma diretoria para identificar oportunidades de negócio e formatar ofertas.

O estágio atual de implantação de projetos de internet das coisas no Brasil e como o Plano Nacional de IoT poderá acelerar a adoção no Brasil foram alguns dos temas debatidos no Logicalis IoT Summit, realizado nessa terça-feira 20/6, em São Paulo. “O BNDES começou a pensar em internet das coisas há cerca de quatro anos, quando recebeu projetos que tinham a ver com conectividade e percebia também que planos de investimentos das empresas que chegavam ao banco, cada vez mais, tinham TI embarcada neles”, explicou Irecê Fraga Kauss Loureiro, líder do departamento de TIC no Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES).

O BNDES, em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), apoia um estudo para o diagnóstico e a proposição de plano de ação estratégico para o País em internet das coisas. O estudo está sendo conduzido pelo consórcio McKinsey/Fundação CPqD/ Pereira Neto Macedo, selecionado por meio da Chamada Pública BNDES/FEP Prospecção nº 01/2016 – Internet das Coisas.

“A internet das coisas é tão grande e pervasiva que é importante fazer escolhas como Brasil. É uma onda, um trem tão grande que precisaremos escolher alguns vagões”, disse, acrescentando que o estudo ajudará o banco a fazer escolhas embasadas, a definir prioridades e a levantar números sobre o mercado brasileiro de IoT.   


Para Lucas Pinz, diretor de transformação digital da Logicalis, a internet das coisas já evoluiu em termos de solução e arquitetura e ela tem aberto espaço para empresas brasileiras exportarem a tecnologia. “Começamos há anos falando de tendências e hoje temos casos práticos que começaram de forma pequena. Temos trabalhado com alguns clientes para prover agricultura de precisão e fizemos também projetos relacionados à eficiência energética e smart grid”, citou como exemplos.  

Casos práticos

Entre as aplicações, Yassuki Takano, diretor de consultoria da Logicalis, destaca que a IoT pode ser usada para aperfeiçoar a experiência do usuário e melhorar jornada do cliente. Contudo, ele frisa que o desenvolvimento de soluções de internet das coisas passa pela transformação digital e requer das empresas estabelecer um processo de gestão de inovação. Takano acrescentou que a segurança segue como a grande preocupação dos executivos e provavelmente será um tema ainda mais crítico com o amadurecimento de IoT.

Para ele, as recomendações passam por entender o que as empresas querem ao pensar na adoção de internet das coisas. “Qual será o nível de sensor? Apenas para leituras ou os dados serão analisados? Como serão [trabalhadas] a gestão de inovação, a segurança e a continuidade de negócio”, ressaltou Takano.

Christian Horst, CIO da VLI, defendeu o uso de IoT para melhorar a logística do Brasil, tanto para monitorar mercadorias como a malha férrea e os trens. “É um segmento amplo. No Brasil, com sua cadeia commodities, pode-se monitorar a qualidade do produto do momento que é colhido até ser embarcado. Quando olha para ferrovias, as locomotivas têm milhares de sensores. O custo de combustível é alto, então, qualquer coisa que se economiza com isto volta para matriz de transporte de forma mais eficiente”, citou, completando que a infraestrutura de telecomunicações pode ser um limitador. (Saiba mais na entrevista em vídeo com Horst.)

TI x negócios

Projetos de internet das coisas demandam investimentos e, mais que isto, que as áreas de negócios das empresas comprem a ideia. Neste sentido, o CIO da Renault-Nissan, Ângelo Fígaro, reforçou que o grande desafio da TI é entregar mais relevância ao negócio. “Não se tem dinheiro disponível, por isto, tem de provar que faz sentido para o negócio. As empresas ainda não estão preparadas para o erro.” Confira entrevista sobre o projeto de IoT na montadora. 

Diante de verbas escassas, linhas de financiamentos poderiam incentivar as empresas, mas não são suficientes. “Existe certo nível de incentivo, sim, mas hoje é aquém ao que queríamos que acontecesse. Tem a questão de criar instrumentos adequados”, disse Irecê Kauss. Outra questão que está no cerne da discussão sobre de internet das coisas nas companhias recaí em quem será o “dono do projeto”. “

Os projetos de internet das coisas que vão para frente são aqueles onde há colaboração entre as áreas [de tecnologia e de negócio]”, atestou Pinz, da Logicalis, em entrevista em vídeo para o CDTV. “Estamos em um momento interessante para nós de TI e temos de saber usar a oportunidade. A empresa vai fazer com ou sem a gente, com quem mostrar primeiro. Então, precisa sair um pouco da linha que TI faz tudo, porque não temos braço, e usar o ecossistema. A TI deve se posicionar como advisor”, defendeu Fígaro, da Renault-Nissan.

Independentemente de qual área liderar o processo de internet das coisas é consenso que as companhias precisam contratar cientistas de dados. Mais de coletar dados, saber analisá-los e correlacioná-los é fundamental. Na internet das coisas, a análise de big data torna-se vital. Para elaborar as soluções de internet das coisas, a Claro Brasil elencou três verticais (veja mais na entrevista em vídeo) e destacou profissionais especializados que conhecem o negócio e têm formação em cientistas de dados. “Tem de se aproveitar os dados, porque, se não extrair valor, será só custo de captura de dados e de armazenamento”, reforçou Eduardo Polidoro, diretor de IoT na Claro Brasil.

A telco está focando nos segmentos de carro conectado, cidades inteligentes e utilities para desenvolver soluções fim a fim de internet das coisas. A operadora criou uma diretoria para tratar de assuntos relacionados à internet das coisas com objetivo de criar produtos e serviços que possam ser comercializadas pela companhia.  

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