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Jim Goodnight, do SAS: sem talento, sem Inteligência Artificial

“Nos últimos anos, fomos testados de maneiras inesperadas, desde uma pandemia, desconfiança nas cadeias de suprimentos, escassez de força de trabalho, instabilidade financeira no setor bancário. E, por meio dessa experiência, ganhamos uma nova apreciação pela resiliência. Vimos em primeira mão a importância de operar com velocidade e agilidade. As organizações precisam de tecnologia que lhes permita aproveitar ao máximo os dados, os modelos e a força de trabalho que possuem.” Foi assim que Jim Goodnight, cofundador e CEO do SAS, abriu o principal evento da companhia, o SAS Innovate 2023, que ocorre em Orlando (EUA).

Jim Goodnight falou para cerca de mil pessoas, quando fez um balanço do avanço das plataformas de análise de dados e inteligência artificial, avaliou os rumos da IA generativa e comentou sobre formação de talentos e investimentos, mas não tocou no tema da abertura de capital da companhia, que ele fundou em 1976, após um período de beta testes do sistema de análises estatísticas desde 1971. Aos 80 anos, Jim Goodnight deixou o palco aplaudido de pé.

Goodnight decidiu abrir o capital da companhia e partir para o IPO, algo que, à primeira vista — como o Convergência Digital apontou em novembro  —,  contrasta com a trajetória da companhia. “Acho que a principal razão que você pode não ter notado é que estou começando a envelhecer. E, em algum momento, o governo vai querer pegar muito do meu dinheiro quando eu morrer. Precisamos estar em uma posição em que tenhamos recursos e capacidade de liquidez. Então, esse é o lado mais mórbido disso”, respondeu quando questionado  pelo Convergência Digital sobre os planos do IPO. 

A expectativa era deixar a companhia pronta para o IPO em meados de 2024, mas, segundo Goodnight, a data ainda é incerta. Ele explicou que o maior problema para  resolver está relacionado aos cerca de 80.000 contratos que o SAS tem com empresas em todo o mundo. É preciso que todos eles estejam nos mesmos padrões e em conformidade com as regulamentações exigidas de uma companhia aberta.

“É um pesadelo horrível o que estamos passando para tentar padronizar mais de 40 anos de contratos. Estamos tentando padronizá-los para que possam ser facilmente auditados. Então, você sabe, isso levará, pelo menos, mais um ano; não posso dizer exatamente quando, mas temos que conseguir colocar todos os nossos contratos e nossos materiais financeiros no mundo deles”, disse, reconhecendo que, apesar de muito ter sido feito, ainda há bastante trabalho a fazer para que os registros financeiros possam ser auditados rapidamente. “Esse é o principal problema agora.”


E M&A? — Há cerca de dois anos, o SAS recebeu uma oferta hostil da Broadcom, que, depois de comprar a CA, em 2018, por US$ 19 bilhões e de ter comprado em 2020, a unidade corporativa da Symantec, por US$ 10,7 bilhões, estava mirando o SAS pela inteligência em dados. Perguntado se uma transação de M&A estaria à mesa, Goodnight disse: “depende de quem venha, mas eu não estou realmente interessado nisso”. 

Investimentos para o longo prazo

Na abertura do evento, Goodnight também falou de tendências e investimentos. Em alta, principalmente, depois que ChatGPT ficou acessível para qualquer pessoa usar, a inteligência artificial generativa vem acompanhado tanto de riscos quanto de recompensas. A evolução da IA desempenhará um papel importante no futuro da tecnologia.

“Atualmente, estamos em parceria com a Microsoft para explorar os casos de uso e integrações com IA generativa. Mas o fazemos de forma responsável e de forma a reforçar a confiança que construímos com os nossos clientes ao longo dos últimos 47 anos”, ressaltou Goodnight.

O CEO apontou que o SAS se comprometeu a investir US$ 1 bilhão nos próximos três anos para expandir as soluções relacionadas à inteligência artificial e desenvolver ferramentas específicas para indústrias como financeira, governamental, varejo, manufatura, seguros, saúde e energia.

Dada a alta demanda por habilidades em ciência de dados, o SAS firmou parcerias com faculdades e universidades em todo o mundo para desenvolver programas conjuntos em análise. De acordo com Goodnight, a meta é conectar organizações com o talento analítico de que elas precisam.

Fechamentos na América Latina

Questionado sobre o desempenho das regiões, Jim Goodnight disse que Ásia-Pacífico tem crescido ultimamente e que o SAS tem ido muito bem lá. Sobre a América Latina, ele disse que também há crescimento e que “o Brasil é muito forte, mas não tanto a Argentina, o Peru ou o Chile”.

A maior parte do crescimento na América Latina vem do Brasil e do México. “Decidimos mudar Chile, Peru e Argentina para serem conduzidos pelo Brasil”, disse, explicando que os escritórios locais serão fechados. Na Argentina, a principal razão, segundo o CEO, foi a inflação. Mas a decisão ainda levará de 12 a 18 meses para ser implementada. Segundo o SAS, nenhum funcionário foi demitido. As vendas nesses países passarão a ocorrer por meio de parceiros.

A região das Américas, que inclui ainda o país-sede, Estados Unidos, e Canadá representa 49% das vendas totais, que, em 2022, esteve também na casa dos US$ 3 bilhões. Por causa do processo de IPO, o SAS não divulga mais números absolutos. Segundo a companhia, são 46 anos registrando lucros. 

Com ações abertas na bolsa, como Goodnight imagina que será o futuro do SAS na nova fase?  “Em boas mãos, com quem vai continuar cuidando de nossos clientes e cuidando de nossos funcionários. Uma das coisas que fizemos é sempre ter em mente nossos funcionários, que os tratamos extremamente bem. E nossos funcionários tratam nossos clientes muito bem. E isso é algo de que tenho muito orgulho ao longo desses anos.”

A jornalista viajou a Orlando a convite do SAS Brasil

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