Mercado

Maior parte das empresas brasileiras ainda não usa data centers

O mercado brasileiro de data centers segue aquecido com as operações de nuvem, mas pode viver um boom ainda maior com a massificação de aplicações baseadas em inteligência artificial. Falando somente em nuvem, a média de crescimento tem sido de 14% ao ano, mas esse percentual pode ser ainda maior. E há ainda um enorme potencial de companhias que não usa data centers nas suas operações de TI, o que significa oportunidades.

Especificamente sobre as operações em nuvem, o diretor comercial de data center da V.tal, André Busnardo, diz que o Brasil ainda tem muitas empresas que não utilizam nuvem e que a previsão de migração deste contingente faz prever a construção de data centers com capacidade de escalabilidade e de abrigar cargas mais densas. “Hoje estamos projetando data centers dentro desse espírito”, conta.

O managing director da Deerns, Ricardo Fornari, diz que o setor vive um momento de crescimento exponencial. “Hoje respiramos digitalização e nuvem praticamente sem perceber e isso requer infraestruturas robustas”, compara. No entanto, o executivo prevê que chegada da IA deve multiplicar a demanda por cinco e que o Brasil está bem-posicionado em função de contar com uma matriz energética limpa e talentos.

O diretor de serviços da Ascenty, Rodrigo Radaieski, reconhece que A IA traz imensas oportunidades, mas lembra que a maior parte das empresas brasileiras ainda não usa data centers. “É um movimento que ainda deve ocorrer. A nuvem vai continuar crescendo e vamos trabalhar muito com data centers híbridos. Ainda temos uma longa estrada de muitas oportunidades no Brasil”, prevê.

Para o presidente da ABDC (Associação Brasileira de Data Centers), Renan Lima, este crescimento pode ocorrer em duas frentes, com a IA exigindo data centers de treinamento e de inferência. Nos dois casos, o Brasil surge como opção viável para a construção de data centers. “Os de inferência abrigam aplicações e devem estar próximos dos usuários. Se as empresas de Ia quiserem explorar o mercado brasileiro, terão que trazer seus data centers para cá”, explica.


Já os data centers de treinamento são aqueles utilizados para armazenar dados e treinar algoritmos, que não precisam estar próximos, mas exigem disponibilidade de energia e espaço para construção. “Estes representam uma grande oportunidade porque estamos falando em bilhões de dólares em investimentos. Hoje temos mais disponibilidade de energia do que os Estados Unidos ou a Europa”, compara.

No entanto, a atração destes investimentos vai depender de alguns ajustes, principalmente por parte do governo, que precisa investir no aumento da competitividade local em áreas como energia que, embora de matriz limpa, tem processos burocráticos que atrasam planos de curto prazo; taxação de GPUs, que não são ou serão fabricadas no Brasil e são fundamentais para estas operações; a criação de benefícios de longo prazo que estimulem investimentos; e a regulamentação da IA, que precisa ser neutra.

Para Fornari, da Deerns, a criação de uma agenda comum que dê conta destes ajustes não cabe somente ao governo, devendo envolver todo o mercado. “O momento agora. Há muitas empresas decidindo seus investimentos e temos respondido questões sobre capacidade, talentos, construtoras, emissão de pegadas de carbono no ecossistema, logística. Os data centers de IA envolvem uma cadeia complexa, mas estamos trabalhando para estruturar”, diz.

De todo modo, ele acredita que o País está muito bem-posicionado por conta de sua matriz energética renovável, com previsão de duplicar sua capacidade de produção de energia eólica e solar até 2028. “Nos mercados onde os data centers estão mais estabelecidos é o oposto. Temos que ajustar os desafios já citados, como tributação, mão de obra, infraestrutura logística e agilidade nos processos de construção”, afirma.

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