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Nos EUA, Fed acusa inteligência artificial de derrubar geração de empregos a quase zero

“Grandes empregadores dizem que não precisarão aumentar seus quadros por anos”, alertou o presidente do BC dos EUA, Jerome Powell

Ao anunciar um novo corte de juros nos Estados Unidos, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, traçou um retrato sombrio da economia do país ao apontar sinais de enfraquecimento no mercado de trabalho e o avanço da automação como um novo fator de preocupação para o emprego.

Durante a coletiva de imprensa na quinta, 30/10, Powell afirmou que, embora o cenário pareça sólido nos EUA — com desemprego em 4,3% e consumo ainda firme —, os números escondem uma desaceleração mais profunda. “Uma vez ajustados os dados para compensar a supercontagem estatística, a criação de empregos está próxima de zero”, disse.

Segundo o presidente do Fed, que é uma espécie de Banco Central norte-americano, parte dessa estagnação está ligada ao que executivos vêm admitindo publicamente: a inteligência artificial permite fazer mais com menos pessoas. Powell observou que “um número significativo de empresas” anunciou demissões ou congelamentos de contratações nos últimos meses, muitas delas citando a IA como justificativa. “Os grandes empregadores estão dizendo claramente que não precisarão aumentar seus quadros por anos. Estamos acompanhando isso de perto”, afirmou.

A fala de Powell ocorreu após o Fed cortar os juros em 0,25 ponto percentual, para uma faixa entre 3,75% e 4%, citando “riscos negativos para o emprego”, mesmo com a inflação ainda elevada. Ele destacou que a economia dos EUA continua crescendo em ritmo “moderado”, sustentada por investimentos em data centers e infraestrutura ligados à IA, o que se tornou uma das principais fontes de expansão recente.

Powell rejeitou, no entanto, a ideia de que o boom de investimentos tecnológicos represente uma nova bolha especulativa. “Diferente da era pontocom, essas empresas realmente têm lucros”, disse, argumentando que os projetos em curso refletem apostas de longo prazo em ganhos de produtividade, menos sensíveis às variações dos juros.


Mas esse movimento traz um dilema de política monetária. “Temos riscos de alta para a inflação e riscos de baixa para o emprego”, afirmou. “É uma situação muito difícil para um banco central, porque um desses fatores pede juros mais baixos, e o outro, juros mais altos.”

Os dados recentes reforçam a preocupação. A Amazon anunciou nesta semana o corte de 14 mil cargos de gerência média, o equivalente a 4% de sua força de trabalho administrativa, enquanto amplia seus investimentos em inteligência artificial. Target, Paramount e outras grandes empresas seguiram a tendência.

Powell reconheceu que “a criação de empregos está muito baixa e a taxa de recolocação de quem está desempregado também”. O cenário tem levado economistas a cunhar o termo “Grande Congelamento” (Great Freeze) para descrever a estagnação do mercado de trabalho. Entre jovens recém-formados, o desemprego já ultrapassa 5%, e muitos recorrem a pós-graduações como estratégia para adiar a entrada em um mercado cada vez mais automatizado.

O presidente do Fed alertou ainda para o surgimento de uma economia dividida em duas velocidades. Enquanto famílias de renda mais alta e grandes empresas se beneficiam dos ganhos de produtividade e do bom desempenho do mercado de ações, os consumidores de menor renda enfrentam pressões crescentes de custo e retração no consumo.

“Os consumidores na base da pirâmide estão comprando menos e optando por produtos mais baratos”, disse Powell, citando relatos de grandes varejistas. Essa “economia bifurcada”, afirmou, torna o trabalho do banco central ainda mais complexo.

“Não há caminho isento de riscos para a política monetária”, concluiu Powell. “Estamos tentando equilibrar, da forma mais cuidadosa possível, nossos objetivos de emprego e inflação.”

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