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Redução de abismo digital depende de iniciativas integradas

Como reduzir a desigualdade digital no País foi o tema de um dos painéis de abertura da Futurecom 2022, que começou nesta terça-feira, 18, em São Paulo. Participaram as discussões o vice-presidente de Public Relations da Huawei, Atílio Rulli; o head de marketing da Nokia do Brasil, Felipe Garcia; a sócia-líder de tecnologia, mídia e telecomunicações da Deloitte, Marcia Ogawa; e o vice-presidente da Ericsson, Vinicius Dalben.

 

Rulli abriu a discussão, lembrando que o abismo digital é evidente no Brasil, mas ele vem diminuindo nos últimos anos. Para ele, as pontes que levam a essa redução são hoje compostas por três grandes vigas: conectividade, acesso a dispositivos móveis e a capacitação de talentos, que inclui não apenas os treinamentos, mas também o que ele chamou de alfabetização digital.

 

“O Brasil vem encurtando e construindo cada vez mais pontes, que vem sendo feitas com políticas públicas, apoio da iniciativa privada, academia e outros setores”, afirmou. Um exemplo seriam as 184 milhões de pessoas bancarizadas no País, número que cresceu sensivelmente durante a pandemia alavancado por iniciativas como o Pix, o auxílio emergencial e a consolidação dos bancos digitais.


 

Para Rulli, é um bom começo e o Brasil tem caminhos abertos para construir mais pontes. “O País tem 261 milhões de celulares. Se incluirmos os tablets, são mais de 300 milhões de dispositivos, mas concentrados nas classes A e B. Aqui há um pilar a ser construído com a sociedade civil e a implementação de políticas públicas”, disse.

 

Para Dalben, da Ericsson, outra oportunidade estaria no uso de smartphones como habilitadores de conectividade. “Hoje 85% da população acima de 10 anos tem smartphones nas cidades, percentual que na área rural é de 67%. Isso significa um grande número de crianças com acesso à internet”, compara.

 

O executivo destacou que o País vive hoje um momento de risco e oportunidade. “Todos os setores da sociedade estão se digitalizando, o que significa que, se perdermos essa oportunidade de conectar mais pessoas, o abismo existente hoje será ainda maior”, compara.

 

Garcia, da Nokia, lembrou que as operadoras vêm fazendo a sua parte, levando infraestrutura e implementando redes que ajudam a aumentar a inclusão digital. “Hoje em torno de 83% dos lares brasileiros tem banda larga, mas faltam 17%. Isso precisa ser resolvido, porque somente através da conectividade estas pessoas serão incluídas”, afirma.

 

Marcia Ogawa, da Deloitte, reforçou que a necessidade de inclusão é um tema que deve ser amplamente discutido com ênfase em três pontos. O primeiro deles é a falta de acesso à tecnologia que, para ela, vem sendo resolvido a passos largos com os investimentos citados por Garcia.

 

O segundo ponto tem a ver com saber utilizar a tecnologia para atividades de trabalho. “Isso também é inclusão. Grande parte de nossa população não tem base para utilizar a tecnologia e as novas profissões vão exigir skills que a nossa população não tem”, reforça. A solução começaria pelo ensino infantil, uma vez que os skills digitais exigem pensamento crítico e raciocínio lógico, que devem ser desenvolvidos na educação básica. “Nos países do Oriente, por exemplo, as crianças no ensino básico têm 50% do tempo dedicado ao estudo da própria língua, uma língua estrangeira e matemática”, compara.

 

O terceiro ponto citado por Marcia é a falta de habilidade do País na construção de tecnologias. Aqui, ela defende a incorporação da tecnologia na matriz nacional de produtos como forma de melhorar a economia e aumentar a renda per capita. “Precisamos não apenas ter núcleos de desenvolvimento de tecnologia, mas entrar em tecnologias core”, defende.

 

Novos caminhos

Diante de todos estes gaps, Rulli, da Huawei, acredita que o Brasil tem alguns caminhos a seguir, como em suas iniciativas de governo eletrônico. “O Banco Mundial fez uma pesquisa chamada Gov Tech Maturity Index entre 198 países e o Brasil é o primeiro das Américas, com 85% dos serviços públicos oferecidos digitalmente. Estamos no caminho correto”, afirma.

 

Outro ponto destacado por Rulli foi a realização de leilões não arrecadatórios para as redes 5G no Brasil, o que garantiu investimentos que vão ajudar a construir a ponte da conectividade. “Fazer políticas públicas com obrigações de inclusão digital, aumenta a inclusão e reduz os abismos”, acredita. Por fim, ele defende o incentivo ao acesso a dispositivos para as classes C e D com a redução da tributação ou com o uso do Fust.

 

“E temos a capacitação, setor no qual a Huawei investe muito”, disse, citando o exemplo do caminhão 5G criado pela companhia e que, até aqui, já passou por 30 cidades brasileiras realizando cursos de capacitação em parceria com o Senai. “O Brasil tem alguns caminhos e tem que destravar algumas questões, como o Fust, ampliando o uso de políticas públicas com apoio do setor privado”, diz.

 

Garcia, da Nokia, também defendeu a participação da iniciativa privada, citando o exemplo da ONG Conectar Agro, que leva conectividade ao meio rural com o objetivo de integrar pessoas, máquinas e dispositivos. “Desde que começamos a funcionar, em 2019, já conectamos mais de 7 milhões de hectares, mais de 2140 escolas públicas e 31 unidades básicas de saúde”, revelou.

 

Marcia, da Deloitte, também defendeu ações em três frentes para a redução do abismo digital. A primeira delas seria a coordenação da política educacional com as políticas industrial e de desenvolvimento econômico, com ações que abranjam do ensino básico à capacitação profissional. Em outra frente, ela defende a ampliação das parcerias público-privadas e, por fim, uma mudança na postura das empresas, que precisam assumir para si iniciativas que promovam estas mudanças.

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