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SAS fará IPO para competir e reter os melhores talentos

A decisão do SAS de abrir capital, à primeira vista, contrasta com a trajetória da companhia liderada pelo CEO, Jim Goodnight, que é também cofundador. Ter o capital fechado permitiu à empresa, por exemplo, não sucumbir ao mercado e demitir em massa na crise financeira de 2008 ou mais recentemente durante a pandemia da Covid-19. Mas os ventos mudaram e a corporação focada em analytics, que, em 2021, gerou US$ 3,2 bilhões em receita, alcançando seu 46º ano consecutivo de rentabilidade, se organiza para estar pronta para IPO em meados de 2024.

Um dos motivadores para listar ações é competir no mercado pelos melhores talentos, disse Bryan Harris, vice-presidente-executivo e CTO do SAS, em entrevista exclusiva ao Convergência Digital, durante o SAS Innovate on Tour, evento realizado em Valinhos. “Nossa concorrência tem uma estratégia de equity [participação societária] para incentivar os funcionários a ingressarem na empresa, certo? Sem essa oferta de ações em nossa remuneração, é como se estivéssemos competindo de maneira diferente. Em certo sentido, estamos competindo apenas por puro salário, talvez bônus. Em equity, também temos esse tipo de senso de propriedade da empresa”, explicou Harris.

O IPO é, principalmente, sobre isso. “Queremos que os clientes saibam que estamos tentando nos superar para continuar sendo uma entidade independente e acreditamos que ir aos mercados públicos nos dará escala para ter acesso ao mercado de capitais e nos dá uma escala que nos permite competir melhor e maior no mercado”, disse. Com isso, a companhia espera conseguir atrair e reter os melhores talentos e de uma forma equivalente à dos concorrentes que são listados. Atualmente, o SAS é uma empresa com alguns poucos acionistas e nenhum funcionário com participação na empresa.

O SAS ainda está organizando como será sua estrutura como uma companhia listada em bolsa — e também está em definição se o IPO será na Nasdaq ou NYSE. Mas um ponto está certo: Goodnight seguirá no comando e a expectativa é que seja o controlador e maior acionista. O quanto de ações será colocado à disposição do mercado não está fechado. O SAS trabalha com uma empresa de consultoria parceira para entender como será a estratégia de ações.

Questionado como manter o espírito do SAS tendo de se submeter aos humores e à pressão do mercado, Harris abriu que a fórmula será buscar a confiança dos acionistas de que o SAS é um negócio lucrativo e que prioriza a visão no longo prazo. Um desafio frente à busca incessante das bolsas por resultados trimestrais. “Não podemos sentar aqui e fingir que não teremos pressões de relatórios trimestrais. Mas eu diria que algumas dessas pressões são realmente boas para a empresa no sentido de que nos forçará a ser mais eficientes em algumas áreas, mas queremos crescer com essa eficiência. Não queremos apenas ser eficientes e cortar pessoas. Não é assim que operamos”, defendeu o CTO, para quem há um movimento nos mercados públicos em torno de ir além do pensamento trimestral.


Outro ponto levantado por ele foi o foco de algumas empresas de tecnologia focadas em hipercrescimento, o que, para Harris, é realmente perturbador para as pessoas. “Quando as empresas se concentram no hipercrescimento e não conseguem acompanhar esse hipercrescimento contínuo que acontece, elas demitem 10%, 15%, 20% dos funcionários, o que é um impacto incrivelmente difícil na vida das pessoas. E uma das coisas que eu acho que as pessoas precisam reconhecer é que o sucesso é ser uma empresa estável que talvez não cresça 25%, 30%, mas, sim, 5% a 10%. Isso significa que podemos dar estabilidade aos funcionários”, justificou.

Harris assegurou que abrir capital protege o próprio SAS de ser comprado, uma vez que “ganha avaliação alta o suficiente, ficando muito grande”. É, segundo o CTO e EVP, uma estratégia de proteção nesta direita. E, no caminho inverso,o SAS tem olhado para empresas com objetivo de comprá-las. A jornada da companhia tem sido adquirir firmas não com objetivo de adicionar crescimento de receita inorgânica, mas para incorporar tecnologia ou recursos que eles avaliam ser relevantes ao software. Áreas que têm despertado o interesse estão relacionadas ao gerenciamento de dados e à  integração de IA ao processo de data management. Também tem chamado a atenção tecnologias voltadas para análise de vídeo, que necessitam de uma infraestrutura de gerenciamento em aplicativos de visão computacional.

Ao falar sobre o mercado de analytics e inteligência artificial, Harris afirmou que ainda há muito espaço para a adoção dessas tecnologias. “A quantidade de clientes que ainda fala que está lutando com dados é a mesma conversa de uma década atrás”, apontou. Com a transformação digital e a interação com clientes tendo como base plataformas digitais, a explosão de dados é inerente — e também um desafio para as empresas. “O problema é que os dados estão ultrapassando a capacidade humana”, completou.

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