
Desenvolver e adotar novas tecnologias digitais; fortalecer a infraestrutura digital e sistêmica; ampliar a diversidade e a inclusão qualificada; criar políticas de estímulo a micro e pequenas empresas (MPEs), grandes geradoras de emprego; ampliar e descentralizar a oferta de cursos voltados para a indústria de software e serviços de tecnologia de informação e comunicação (ISSTIC). Estas são as medidas necessárias para o setor deslanchar apontadas pelo primeiro Estudo de TICs do Rio de Janeiro, realizado pelo Observatório Softex – unidade de pesquisa e inteligência estratégica voltada ao apoio à formulação de políticas públicas para tecnologias da informação e comunicação (TICs) – em parceria com o TI Rio, entidade representativa das empresas de tecnologia da informação do estado do Rio de Janeiro. O crescimento pós-pandemia e o investimento de mais de R$ 65 milhões por empresas do setor mostram que o Rio de Janeiro dá sinais claros de expansão e capacidade de geração de empregos qualificados para a área.
A pesquisa, dividida em quatro eixos (cenário setorial, mercado de trabalho, ambiente de inovação e políticas públicas), foi apresentada nesta terça (21) no auditório do Rio Datacentro da PUC-Rio e oferece um diagnóstico abrangente sobre os desafios e as oportunidades do setor no estado, além de recomendações estratégicas para o desenvolvimento econômico, inclusão social e transformação digital. “Esse mapeamento revela descobertas interessantes sobre o setor, sendo fundamental para o planejamento estratégico das empresas e essencial para formular políticas públicas que busquem fortalecer o mercado de TI em todo o estado, a partir de uma análise que considerou formação técnica, infraestrutura, inovação e ecossistemas regionais”, enfatiza Alberto Blois, presidente do TI Rio. Segundo o levantamento, o estado possui 32.664 empresas atuando nesse segmento e registrou a criação de 4.461 novas vagas de emprego em 2024.
Os dados mostram que o estado do Rio de Janeiro ocupa posição de destaque em diversos indicadores nacionais relacionados ao setor de TIC. “Mesmo após uma leve retração no período da pandemia, o segmento de software segue em curva ascendente e representa, em 2025, mais de 53% de todo o setor. O ecossistema de startups mostra-se dinâmico e especializado em modelos SaaS (Software como Serviço), com adoção crescente de tecnologias como Inteligência Artificial e Machine Learning”, aponta Diones Lima, vice-presidente da Softex. O estado também está entre os primeiros em número de vagas presenciais ofertadas em cursos ISSTIC, com crescimento acima da média nacional no número de concluintes, e concentra 7,57% dos empregos formais da área no país.
“Sempre tivemos a percepção de que o Rio era um polo de tecnologia. Agora a pesquisa confirma que o cenário de negócios em ISSTIC é marcado por uma forte concentração na região Sudeste, que responde por mais de 70% dos investimentos nacionais em serviços de TIC. O Rio de Janeiro contribui com 14,62% desse total, ficando atrás apenas de São Paulo”, salienta Blois.
O estudo apontou que o setor de startups fluminense apresentou um significativo crescimento entre 2000 e 2025: 657%, sendo que 65,2% estão concentradas na capital. A maioria dessas startups está voltada para os ramos de Tecnologia da Informação, Educação e Saúde e Bem-estar. Apesar do crescimento, no cenário global, a cidade do Rio de Janeiro ocupa a 147ª posição entre os principais polos de inovação no The Global Startup Ecosystem Index Report 2025, uma queda em relação a anos anteriores.
“Esse levantamento é um caminho para pensarmos políticas públicas e parcerias público-privadas para um futuro promissor para o setor e para a democratização de serviços para a comunidade”, diz Blois. “Ao identificar os segmentos com menor concentração de empresas, por exemplo, é possível direcionar investimentos estratégicos e implementar políticas de incentivo que estimulem o crescimento desse ramo de atividade no Rio de Janeiro”, acredita o presidente do TI Rio.
Mercado de trabalho
A pesquisa apontou que o mercado de trabalho em ISSTIC no Rio de Janeiro demonstra grande vitalidade e uma participação expressiva no cenário nacional. Em 2024, o estado foi responsável por 12,4% do saldo positivo de empregos no setor em relação ao mercado brasileiro (4.461 novas vagas), um desempenho superior à sua participação nas admissões (8,1%) e no estoque de vagas (9,1%), indicando uma forte capacidade de criação e retenção de postos de trabalho.
Desde a retração causada pela pandemia em 2020, a área registra saldos positivos de vagas, impulsionada principalmente pelos segmentos de Serviços de TI (+3.686 vagas em 2024) e Indústria de Software (+905 vagas em 2024). A geração de empregos, no entanto, é geograficamente desigual, concentrando-se em municípios como Rio de Janeiro (+1.518 vagas), Macaé (+969) e São João de Meriti (+936), enquanto outros, como Volta Redonda, apresentaram saldo negativo (-361). Registrou-se ainda uma forte tendência de ingresso de jovens de 18 a 24 anos no setor, faixa que liderou o saldo de vagas em 2024.
Para sustentar esse mercado, a formação de talentos é crucial, aponta o estudo, já que o Rio de Janeiro ocupa a 6ª posição nacional em número absoluto de cursos ISSTIC presenciais (146 cursos). Apesar de UFRJ e a PUC-Rio se destacarem na avaliação da qualidade com reconhecimento internacional na área de Ciência da Computação, o levantamento também apontou o crescimento exponencial da modalidade de Educação a Distância (EaD), que aumentou em 15 vezes o número de cursos na última década, situação confirmada pelo Censo da Educação Superior 2024, divulgado no final de setembro pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Oportunidades na interiorização
O estado do Rio de Janeiro tem hoje mais de 32 mil empresas de tecnologia da informação e comunicação, com maior destaque para as indústrias de software (aumento de 33,44% de 2021-2024). O segmento de serviços de TI apresentou um aumento moderado no mesmo período: 16,94%. Já o setor de Telecomunicações teve um crescimento tímido: 1,51% nos últimos quatro anos.
“A pesquisa apontou que a composição do setor passou por mudanças significativas. O crescimento consistente e predominante da indústria de software e a menor participação no mercado dos serviços de TI e telecomunicações revela uma reorientação do setor em direção ao desenvolvimento de soluções digitais, produtos escaláveis e inovação em software, refletindo o papel cada vez mais central que esse segmento desempenha na transformação digital da economia”, analisa o VP do Observatório Softex.
O Estudo TICs também mostrou a distribuição de empresas do ramo no estado. A capital tem o maior número de empresas do setor (77%), seguida por Niterói, Duque de Caxias, São Gonçalo, Petrópolis e Nova Iguaçu. “O grande número de empresas na cidade carioca é natural, já que o município é o maior centro urbano e econômico do estado. No entanto, o estudo verificou que a região Sudeste concentra mais da metade das indústrias de software e serviços de tecnologia de informação e comunicação do país, o que mostra o nosso grande potencial”, observa o presidente do TI Rio.
Apesar da capital absorver o maior número de negócios da área, 91,3% dos municípios fluminenses sediam empresas do setor, sejam serviços de TI, telecomunicações, indústria de software ou outros serviços de TI. A presença em variados municípios mostra a força do interior nesse mercado, com destaque para Petrópolis que foi declarada recentemente por lei estadual a Capital Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro e que abriga o Super Computador Santos Dumont, localizado no Laboratório Nacional de Computação Científica, um dos mais avançados da América Latina. Destacam-se ainda os parques tecnológicos de Maricá, Angra dos Reis, Campos dos Goytacazes e o Serratec, na região serrana.
“Ainda está sendo construído o Parque Empresarial e Tecnológico de Casimiro de Abreu. Atento a esse movimento, o TI Rio fundou as regionais de Teresópolis, Nova Friburgo, Três Rios e Baixada Fluminense. Em breve, teremos sucursais também em Petrópolis, Vale do Café, Região dos Lagos e Niterói. Nosso intuito é atender as necessidades locais e alavancar os negócios no estado”, diz Alberto Blois.
Desafios
Apesar do Rio de Janeiro ocupar o 2º lugar no Índice FIEC (Federação das Indústrias do Estado do Ceará) de Inovação dos Estados, o 4º lugar no Índice Brasil de Inovação e Desenvolvimento (IBID), sendo vice-líder nacional em ‘Capital humano’, com destaque em ‘Pesquisa & Desenvolvimento’ e ‘Economia criativa’ e no quesito Tecnologia e Inovação do Ranking Connected Smart Cities 2025, o estado ainda tem desafios expressivos para enfrentar.
“Nesse sentido, o Rio de Janeiro reúne condições objetivas para consolidar uma política estadual de TIC orientada à inovação, à equidade territorial e ao impacto social, por meio de uma governança integrada entre governo, setor produtivo, academia e sociedade civil”, prevê Diones Lima, da Softex. Para Gustavo Robichez, professor e diretor de Parcerias e Inovação da Vice-Reitoria de Desenvolvimento da PUC Rio, o estudo mostrou que o estado tem vocação para TIC: “Esse instrumento é fundamental para acompanharmos a evolução do setor nos próximos anos e saber se as políticas públicas estão funcionando, afora o fato de ser um grande observatório para que o empresariado possa investir de forma estruturada.”
Propostas
O Estudo de TICs do Rio de Janeiro do Observatório Softex e TI Rio apresenta cinco recomendações centrais para fortalecer o setor no estado:
1 – Ampliar e descentralizar oferta de cursos de indústria de software e serviços de tecnologia de informação e comunicação (ISSTIC) – 65% da oferta de cursos está centrada na capital. O estado ocupa a 19ª posição no ranking de graduações na área. Ainda assim, se destaca pelo número de vagas presenciais oferecidas: 27.346, o que equivale a 7% da média nacional (2023), ficando atrás apenas de São Paulo. Sugere-se fomentar parceria entre instituições públicas e privadas para expandir polos de formação técnica e tecnológica nas regiões Serrana, Centro-Sul e Norte Fluminense, associando com programas de estágios, inovação aplicada e articulação com parques tecnológicos locais.
2 – Dinamizar o mercado de trabalho com foco em territórios, talentos e mudanças tecnológicas – Embora apresente saldos positivos na geração de empregos nos últimos anos, os dados evidenciam a necessidade de ações mais direcionadas para reduzir disparidades regionais, apoiar segmentos estratégicos e promover a inclusão produtiva de grupos vulneráveis. Recomenda-se também a formulação de uma estratégia estadual de upskilling e reskilling digital, para promover a inserção qualificada de jovens no mercado de TICs e fomentar a requalificação de profissionais acima dos 40 anos, que vêm enfrentando saldos negativos crescentes de empregabilidade no setor.
3 – Ampliar a diversidade e a inclusão qualificada – O setor de TIC fluminense emprega cerca de 114 mil pessoas com vínculos formais, representando 2,6% do total de empregos do estado (a média nacional é 2,2%). O Rio ocupa a 3ª posição nacional em números absolutos de vínculos no setor, atrás apenas de SP e MG. O destaque vai para o segmento de software, que cresceu 11% em 2023, contrastando com a queda nacional de 7,6%. Ao estratificar os subgrupos de especialistas em TI, revela-se forte centralização territorial, baixa participação feminina e de pessoas pretas no setor. Recomenda-se a adoção de iniciativas públicas e empresariais que promovam maior diversidade, com ênfase em gênero, raça e regionalização.
4 – Mobilizar os ecossistemas de inovação para desenvolvimento e adoção de tecnologias digitais – O estudo revelou que o RJ tem uma expressiva quantidade de instituições de ensino, entidades do setor de TI, parques tecnológicos, incubadoras, aceleradoras, eventos internacionais e programas públicos, que concentram infraestrutura, talentos e conexões com redes nacionais e internacionais, criando condições ideais para acelerar o desenvolvimento tecnológico. No entanto, ainda operam de forma segmentada. Recomenda-se fortalecer o ecossistema de inovação por meio da criação de laboratórios de experimentação compartilhados, programas de inovação aberta para MPEs, mecanismos de fomento cruzado entre startups, ICTs e empresas tradicionais, além da articulação de uma governança integrada entre todas as regiões.
5 – Fortalecer a infraestrutura digital e sistêmica para sustentar o crescimento e o desenvolvimento do setor – Apesar do RJ ocupar posições de destaque em alguns rankings do setor, a infraestrutura de TI é o principal desafio enfrentado, superando inclusive a escassez de talentos. As empresas demandam ambientes mais robustos, capazes de sustentar tecnologias como inteligência artificial, big data, blockchain e internet das coisas. Recomenda-se o fortalecimento da infraestrutura sistêmica necessária ao avanço do setor de TIC no estado do Rio de Janeiro, com foco na expansão da conectividade de alta velocidade para além das regiões metropolitanas, na modernização digital e energética dos polos tecnológicos e na criação de ambientes computacionais seguros e escaláveis, voltados à ciência de dados e ao processamento massivo de informações.
Para ter acesso completo ao estudo acesse: