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Sustentabilidade é o pilar da transformação social do Brasil

A mudança do clima é um dos temas chave nas discussões sobre ESG, tanto que diversos governos e empresas têm assumido, em linha com o Acordo de Paris, o compromisso de zerar suas emissões até 2050. Esse desafio se estende aos bancos, que também têm direcionado esforços para reduzir não apenas suas emissões, como as de seus clientes.

O vice-presidente de governo e sustentabilidade do Banco do Brasil, Barreto Junior, disse que a instituição está preocupada em como participar do processo de transformação social do Brasil, e que isso está evidenciado no portfólio do banco, que hoje conta com R$ 289 bilhões em projetos certificados. “Estamos fazendo o caminho de acelerar o processo e trazer nossos acionistas para ele”, afirmou.

Na mesma linha, o Bradesco considera ter sido o primeiro banco brasileiro a assumir o compromisso de zerar suas emissões de carbono até 2050. O head de sustentabilidade da instituição, Marcelo Pasquini, lembrou que desde 2020 o banco vem medindo a emissão de gases de algumas de suas operações, como crédito, com o objetivo de identificar os setores mais emissivos e preparar planos de redução em parceria com seus clientes.

“O Bradesco foi o primeiro banco do Brasil a aderir à jornada Net Zero. Há 15 anos fazemos a compensação de gases de efeito estufa. Nós nos comprometemos com uso de energia 100% renovável em nossas operações e a partir de 2020 também começamos a medir a emissão de gases de nossas operações do portfólio de crédito, identificando setores mais emissivos. Isso nos permite preparar planos de redução junto com nossos clientes.


“São planos de médio e longo prazo, que incluem zerar as emissões até 2050 e metas intermediárias de descarbonização. O objetivo é ter zero emissões no portfólio até 2050”, destacou. Para isso, o Bradesco vem trabalhando para garantir que tudo isso tenha consistência na implementação e que o cliente seja engajado nos projetos.

Pasquini reforçou que sua área tem trabalhado com cada uma das empresas clientes para que elas convirjam suas emissões para zero, o que obviamente ainda tem um longo caminho a ser percorrido. Ainda assim, ele acredita que o Brasil tem uma posição privilegiada nesta seara, uma vez que grande parte das emissões existentes no País vem do desmatamento ilegal. “É algo que precisamos endereçar de modo firme para termos uma reversão”, afirmou.

Além disso, o País conta com uma matriz energética concentrada em fontes renováveis de energia – hidráulica, eólica e solar –, o que também é uma vantagem. Ele acredita que o Brasil é parte importante da equação e isso vai fazer com que diversas empresas passem por mudanças grandes. “À medida que os bancos se engajam e trazem os clientes, temos uma perspectiva de crescimento, emprego e melhorias bastante grande”, disse.

Foco no agro

No caso do BB, esse engajamento tem sido bastante evidente no setor do agronegócio. Tanto assim que, de acordo com Barreto Junior, mais da metade do faturamento do agronegócio brasileiro circula pelo Banco do Brasil de alguma maneira. Essa penetração tem sido aproveitada para tangibilizar compromissos temáticos e ajudar clientes a aprenderem a utilizar a tecnologia para reduzir ou fixar suas taxas de carbono. “Hoje o BB usa sua capilaridade para criar esse propósito no setor de agronegócio”, afirmou. E a tecnologia é parte importante desse processo. De acordo com Barreto Junior, o mercado conta hoje com um ecossistema mais vivo e novo, formado por startups de tecnologia.

Pasquini, do Bradesco, reconhece que a tecnologia tem um papel fundamental na redução das emissões. “Ela sozinha tem o potencial de reduzir 15% das emissões, só aplicando softwares focados em produtividade em ramos que são grandes emissores, além de também suportar as demais ações que temos de tomar ao longo do tempo”, explicou.

Para estimular o novo ecossistema de tecnologia, o Bradesco vem trabalhando com diversas startups por meio do Inovabra. “Temos nos surpreendido com a qualidade técnica delas e com a flexibilidade e a vontade de fazer acontecer. Para temas relacionados a carbono, elas apresentam uma infinidade de soluções, de tokenização ao georreferenciamento de propriedades, e isso com uma agilidade tremenda. É a partir da tecnologia que vamos zerar as emissões.”

Metas baseadas em ciência

Para definir suas metas de redução de emissões, muitas empresas têm contado com o apoio da Science Based Targets Initiative (SBTI). O CEO da instituição no Brasil, Luiz Fernando do Amaral, disse que seu objetivo é estabelecer padrões para metas corporativas alinhadas com a ciência. “Isso significa que precisamos fazer a conta das emissões que teremos em 2030 e 2050 e estabelecer o orçamento de carbono que teremos, fazendo a engenharia reversa para determinar a responsabilidade de cada um”, detalhou.

Iniciada há sete anos, a SBTI reúne hoje 3,6 mil empresas de cerca de 80 países, que representam mais de 30% do PIB global, volume que vem dobrando a cada ano. Com essas empresas, a SBTI está construindo uma agenda que começa na identificação dos maiores emissores, o que, no caso do setor financeiro, está no destino dos investimentos.

Amaral explicou que, para a missão de carbono funcionar, é preciso padronização que permita comparar ações e evitar o green wash. “É isso que estamos tentando fazer: padronizar para comparar as metas. Qualquer ação é bem-vinda, mas nosso trabalho é identificar aquelas que estão alinhadas com as metas, por isso as empresas submetem seus planos”, completou.

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