Sustentabilidade é um habilitador da Inteligência Artificial
Especialistas que estiveram no Summit Agenda SP+ Verde, realizado em São Paulo, defendem infraestrutura verde, governança ética e investimento em inteligência artificial como caminho para eficiência energética e crescimento econômico

O Brasil enfrenta o desafio estratégico de expandir a inteligência artificial sem comprometer a sustentabilidade. Essa foi a discussão central do painel Inteligência Artificial e Sustentabilidade – Desafios e Oportunidades, realizado nesta quarta-feira (5/11) durante o Summit Agenda SP+Verde, em São Paulo. Os participantes destacaram que, embora a IA tenha potencial para otimizar processos e reduzir emissões, seu funcionamento demanda alto consumo de energia e recursos naturais.
Apesar do alto consumo inicial de energia, a IA tem tudo para ser uma ferramenta de redução de gasto de energia ao longo do tempo. “A IA é crítica para otimizar o uso de energia renovável e reduzir emissões, mas, à medida que a tecnologia evolui, seu consumo tende a diminuir, como aconteceu com outras inovações”, sinalizou Wolfgang Dieker, líder global de relações governamentais da SAP.
“Temos acesso a dados de diferentes indústrias, que permitem usar aplicações e IA para analisar processos e mostrar caminhos concretos para reduzir consumo e emissões. Assim, os dados de sustentabilidade habilitam a IA a pensar mais holisticamente, e a transformá-la em uma ferramenta ainda melhor para que as empresas compreendam e acelerem o progresso sustentável”, adicionou.
A sustentabilidade começa pelas pessoas e passa pela inclusão e capacitação, adicionou a presidente da Microsoft Brasil, Priscyla Laham. Segundo ela, a empresa estabeleceu que será carbono negativa até 2030 e compensará toda a sua pegada histórica até 2050. “Estamos investindo em datacenters próprios, além de capacitar 5 milhões de pessoas nos próximos três anos. A IA é um ponto de inflexão para o Brasil, mas seu impacto depende de infraestrutura robusta e educação tecnológica”, afirmou.
José Luis Gordon, diretor de Inovação do BNDES, destacou que o Brasil precisa unir as agendas digital e verde. Ele lembrou que a conectividade é um pré-requisito para que os benefícios da IA cheguem a todo o país. “O BNDES já liberou R$ 5,4 bilhões para projetos de IA e planeja lançar uma linha de R$ 12 bilhões para a indústria 4.0, priorizando iniciativas sustentáveis e de modernização produtiva”, disse.
Outro desafio apontado pelos especialistas diz respeito a infraestrutura energética. Ronaldo Lemos, CSO do ITS Rio, explicou que data centers geram empregos durante a construção, mas depois têm impacto reduzido nesse campo, e que o Brasil pode integrar essas estruturas à economia de forma eficiente usando biometano.
“Nossa matriz descentralizada é 100% renovável, mas solar e eólica são intermitentes. Biometano garante fornecimento contínuo e gera empregos, tornando o setor mais sustentável”, disse. Ele também alertou para a necessidade de uma legislação própria, que apoie o desenvolvimento de IA local sem replicar modelos europeus inadequados.
O vice-presidente do InvestSP, Thiago Camargo, reforçou a importância da parceria entre setor público e privado. “Para o Brasil liderar em IA sustentável, precisamos combinar investimento, inovação e políticas públicas que incentivem empresas e startups a desenvolver soluções responsáveis. É uma oportunidade única de aliar tecnologia, eficiência energética e crescimento econômico”, afirmou.
Os especialistas ressaltaram ainda que o futuro da IA no país depende da combinação entre inovação tecnológica, energia limpa e governança ética. Segundo eles, o uso estratégico de IA pode não apenas reduzir impactos ambientais, mas também gerar valor econômico mensurável, tornando a sustentabilidade um fator integrado à competitividade das empresas.





