
A diferença entre as classes sociais dos domicílios com acesso à internet passou por uma drástica redução em dez anos. Se, em 2015, 99% das casas da classe A acessavam à internet contra apenas 16% das casas da classe DE, em 2025, o porcentual do extrato social mais baixo passou para 73% — e a classe A subiu para 100%. Isso significa que a diferença de 83 pontos porcentuais (pp) caiu para 27 pp.
Essa distância ainda é grande, sim, mas vem apresentando redução, tanto que, em 2024, os domicílios DE com internet representavam 68%, seis pontos a menos. No total, os domicílios com acesso à internet saltaram de 51% do total, em 2015, para 86% em 2025. Os dados fazem parte da 21ª edição da TIC Domicílios 2025, pesquisa realizada anualmente desde 2005.
Divulgada nesta terça-feira, 9/12, em coletiva de imprensa online, o estudo revela uma rápida adoção da tecnologia de inteligência artificial generativa, cenário no qual também se observam disparidades na apropriação de ferramentas de IA entre perfis de renda e escolaridade.
A diferença entre as classes sociais vem caindo, mas existe uma lacuna relevante, adverte o coordenador da TIC Domicílios, Fabio Storino. Esse aspecto fica ainda mais claro ao se analisarem os dados de tipo de conexão predominante, presença do computador e o impacto que o fim do pacote de dados móveis tem no acesso à internet.
Entre domicílios da classe A, 95% contam com fibra ótica ou cabo, enquanto nas classes C é 75% e na DE, 60%. Há de se pontuar, contudo, o aumento nas conexões por fibra ótica ou cabo de 11 pp na classe DE e de 7 pp na C. Do total de domicílios conectados, 11% deles tinham a rede móvel como principal conexão em 2025, menos que os 15% de 2024.
A presença do computador, seja ele de mesa, portátil ou tablet, talvez seja a face mais clara dessa desigualdade. “Encontramos diferenças relevantes entre áreas urbana e rural e também por classe social”, aponta Storino. Na classe A, 97% dos lares têm computador, um porcentual que despenca para 10% na classe DE. Na prática, se entre os domicílios com computador, 69% dos usuários de Internet fizeram uso da máquina, naqueles sem o computador, foram apenas 8%.
“Embora o computador possa estar presente nas escolas e empresas, a presença dele nos domicílios é importante para acessar à internet. A pesquisa já vem mostrando, há vários anos, que o aproveitamento da internet e das tecnologias por meio de múltiplos dispositivos para uso da internet é mais rico e diverso; por isso, é importante olhar para os dispositivos”, explica o coordenador da TIC Domicílios.
A qualidade do acesso à internet está diretamente ligada ao dispositivo usado. Quase dois terços dos usuários de internet (65%) acessam à rede exclusivamente por telefone celular e isso representa aumento de cinco pontos porcentuais em relação a 2024. Houve aumentos estatisticamente significantes também entre os homens (+ 10pp) e os pretos (+17 pp). “Quando olhamos indicadores de qualidade de acesso, as diferenças entre população branca e parda e também pelo grau de instrução se evidenciam”, aponta Storino.
O coordenador ressalta que não basta o usuário vencer a barreira da não-conexão, aspectos relativos à conexão, como a qualidade do acesso e o dispositivo importam na percepção dos benefícios do uso da internet. Nesse sentido, a conectividade significativa engloba a acessibilidade financeira — custo da conexão domiciliar e plano de celular —, o acesso a dispositivos, considerando os dispositivos per capita, se há computador no domicílio e o uso diversificado de aparelhos; a qualidade da conexão, incluindo o tipo de conexão domiciliar e a velocidade dela; e o ambiente de uso, como a frequência de uso da Internet e locais de uso diversificados.
“Enquanto temos 85% da população sendo usuária de internet, ou seja, que venceu a barreira de estar conectada, apenas 20% está na faixa mais alta das condições de qualidade de acesso. A boa notícia é que tem diminuído a proporção que está na faixa mais baixa de conectividade significativa e a má notícia é que, entre as faixas mais altas, o cenário é de estabilidade”, pondera Storino.
De acordo com a pesquisa, 86% da população urbana e 77% da rural é usuária da internet, totalizando 157 milhões de usuários de Internet em 2025. Mas incluindo os usuários de Internet, os usuários de Internet no telefone celular e aqueles de aplicações que necessitam de conexão à Internet, o número chega a 163 milhões (88%) no conceito ampliado. Destes, 65% acessam à internet exclusivamente pelo telefone celular.
Nesse cenário, a disparidade entre classes é ainda maior. Enquanto apenas 5% dos usuários da classe A acessam à internet unicamente pelo plano de dados, o porcentual sobe para 67% na classe C e 87% na classe DE. Por isso, o fim dos planos de dados tem impacto tão negativo: 64 milhões de indivíduos afirmaram que o pacote de dados de seu plano de celular acabou pelo menos uma vez nos últimos três meses. E mais: 20% dos usuários da Região Norte só conseguiram usar alguns dos aplicativos que costumavam usar e 24% em áreas rurais e na Região Norte não conseguiram usar nenhum dos aplicativos.
A amostra deste ano tem 27.177 domicílios respondentes e 24.535 indivíduos respondentes, um universo maior, o que permitiu a publicação de por resultados por unidades federativas e por região metropolitana. A TIC Domicílios foi lançada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), por meio do Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br).




