

A inteligência artificial tem sido aliada na rotina do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) e vem ajudando uma das maiores cortes judiciais do País a ter mais agilidade e precisão documental de processos e audiências.
Em entrevista ao Convergência Digital, Glaucio Palão, diretor de infraestrutura do TJSP, contou que o órgão usava o Microsoft Teams para gravação de audiências desde a pandemia. A novidade foi incorporar uma ferramenta que analisa as transcrições e gera atas, o que aumentou a produtividade das equipes.
A ferramenta — Neural Meeting Notes — entra como uma participante da reunião e aproveita a transcrição feita pelo Teams para gerar relatório da audiência. Isso, ressaltou Palão, agiliza o trabalho dos magistrados. “Quando era apenas a audiência gravada e o magistrado precisava redigir a sentença ou outro despacho, muitas vezes, tinha que assistir à audiência gravada. Agora, pode consultar o relatório”, disse.
A equipe de Palão também criou modelo com os pontos que precisam constar nas atas e treinou o sistema para distinguir o que é uma reunião administrativa do que é audiência, já que para cada um deles há um modelo diferente a ser seguido. Questionado se a transcrição é fidedigna, Palão explicou que “a transcrição pelo Teams não é tão fidedigna, mas a IA consegue perceber onde a transcrição erra e corrigir os erros”.
Toda a transcrição e armazenamento são realizados dentro do ambiente digital seguro do TJSP, sem exposição a redes externas. O sistema também segue práticas de compliance rigorosas para proteção de dados, preservando a privacidade de informações sensíveis e o sigilo das partes envolvidas nos processos.
Implantação
A Neural Meeting Notes utiliza inteligência artificial para transcrever automaticamente tudo o que é falado em reuniões ou audiências, organizando e estruturando o conteúdo em uma ata padronizada. Com o suporte da tecnologia Microsoft Azure, a solução pode ser provisionada na nuvem privada do cliente, como no caso do TJSP, o que garante um processamento seguro e integrado ao ambiente digital interno do tribunal.
O TJSP pediu personalizações para incluir funcionalidades específicas para o contexto judicial, tais como identificar automaticamente dados relevantes das audiências, como número do processo, nomes das partes envolvidas e outros detalhes cruciais para o contexto judicial.
A customização possibilitou a produção automática de atas completas e detalhadas em poucos minutos, com um padrão de precisão que antes demandava horas de trabalho manual.
Os primeiros testes com a ferramenta começaram em agosto de 24 com escopo menor. Apenas a área de TI foi envolvida inicialmente e o time usou a ferramenta para gerar atas das reuniões. “Depois, demonstramos para os magistrados nas nossas reuniões com eles e eles apontaram que poderiam usar nas audiências”, disse Palão.
O Neural Meeting Notes já está em uso em diversas localidades e em fase de expansão. O TJSP tem 45 mil funcionários e, no meio do primeiro semestre deste ano, umas 3 mil estavam usando o sistema — isso sem a realização de uma campanha de adoção.
O caso de uso no TJSP mostra que o judiciário passa por uma corrida para adoção de IA. Escritórios e ordens de advogados estão disponibilizando ferramentas dessa natureza para auxiliar no trabalho diário. Antes da IA, robôs já consultavam portais por meio de automação conferindo agilidade aos advogados. “O principal benefício das ferramentas de IA é dar agilidade ao magistrado realizar as atividades, lidar com volume grande de petição. Ganham um rito processual mais rápido”, avalia o executivo.
Para Glaucio Palão, os próximos passos serão no âmbito de contar com ferramentas tão embutidas no dia a dia que os usuários nem percebem que estão sendo auxiliados por IA. “As IAs estarão integradas ao processo de trabalho de forma transparente”, assegurou.