2026 à vista: uma nova rota para crescimento sustentável e orientado a valor
O novo ano será para redesenhar estratégias que privilegiam sustentabilidade, resiliência organizacional e entrega de valor real para os clientes.

Por Paulo Marcelo*
O avanço de IA generativa, da cultura de aprendizado contínuo e de modelos colaborativos de inovação trouxe com ele o desafio de projetar progressos em um mercado em franco amadurecimento, na esteira da ética, integrado às demandas reais de negócios e da sociedade.
Sob essa perspectiva, 2026 desponta no horizonte como um ano de virada para o mercado brasileiro de tecnologia da informação (TI). Depois de um ciclo marcado pela rápida adoção de soluções digitais e pela pressão por eficiência, acredito que os líderes do setor começam a redesenhar estratégias que privilegiam sustentabilidade, resiliência organizacional e entrega de valor real para os clientes.
O foco deixa de ser apenas performance técnica e passa a envolver cultura corporativa, capital humano e maturidade de dados. Mais do que inovar, o ponto nevrálgico é inovar com propósito e consistência, evitando a armadilha do hype e construindo fundamentos sólidos para uma década em que a tecnologia será o eixo de todas as transformações produtivas.
Uma peça central dessa nova narrativa que o mercado mundial vem acenando é a IA generativa (GenAI), além do uso de agentes. Agora vista não apenas como ferramenta de automação foi promovida à catalisadora de reinvenção de processos, modelos de negócios e experiências. Alguns defendem que a IA não pode operar de forma isolada: integrada, por exemplo, a ambientes com cloud híbrida, governança de dados robusta e segurança cibernética como prioridade estratégica. E você?
Desafios a bombordo e a estibordo
Na verdade, em razão da evolução frenética de tecnologias e as inúmeras possibilidades que apresentam, à primeira vista, navegamos por águas turbulentas. Há que se ter cuidado por todos os flancos, considerando que o caminho à frente exige atenção. Essa navegação não é simples, são necessários equilíbrio e decisões precisas.
Mas ninguém domina este navio. Contudo, penso ainda estar distante da terra firme. O investimento em modelos auditáveis e em mecanismos de transparência para ganhar diferencial competitivo é seu combustível. Especialmente diante de um consumidor mais exigente e de reguladores atentos.
A partir dessa realidade, o capital humano se torna chave. Não por acaso, temos observado o avanço do investimento em formação contínua, que deve ganhar corpo em 2026. Em minha percepção, a disputa deixará de ser por talentos prontos e passará a ser por talentos em evolução. Isso implica resskilling (requalificação profissional), cultura de aprendizado e planos de carreira não lineares, que acompanham o ritmo fluido da tecnologia.
A liderança, antes focada na execução técnica, terá de aprender a incorporar escuta ativa, inteligência emocional e capacidade de articulação entre áreas. Meu exercício diário.
No relacionamento com o mercado, o discurso em 2026 deve mudar. As empresas precisam abandonar a comunicação puramente tecnológica e adotar narrativas orientadas a valor. Ganha força o conceito de coinovação, em que fornecedores e clientes constroem soluções em conjunto, usando metodologias ágeis e laboratórios vivos. O setor avança de um modelo de venda de produtos para um modelo de criação conjunta de resultados de negócio.
O novo horizonte aponta para a sustentabilidade digital, com contornos estratégicos. Governança ética de IA, otimização de energia em data centers, descarte responsável de equipamentos, e contratação de fornecedores comprometidos com metas sustentáveis vão sair do discurso institucional e começarão a entrar no de planejamento. Tecnologia com responsabilidade entra na cartilha do futuro.
Ao que tudo indica, 2026 não será lembrado como o ano da corrida cega pela inovação. Será, antes de tudo, protagonista da união de eficiência, propósito e impacto. Temos de entender que o verdadeiro diferencial competitivo não reside na tecnologia em si, mas na capacidade de usá-la para transformar pessoas, negócios e sociedade, de forma equilibrada e estratégica. E é justamente nesse ponto que o Brasil pode surpreender o mundo, em parceria com líderes de variados setores. Bom 2026!
* Paulo Marcelo é CEO na Solutis e Conselheiro Unipartners e Brasscom

