Opinião

A revolução das health techs – saúde, tecnologia e gestão

Anunciamos nosso “desinvestimento” na Intuitive Care, Health Tech que automatiza e otimiza processos financeiros de instituições de saúde e há explicações.

Por Felipe Zaghen*

Recentemente, anunciamos nosso “desinvestimento” na Intuitive Care, Health Tech que automatiza e otimiza processos financeiros de instituições de saúde. Foi um movimento semelhante ao que havíamos realizado anteriormente com a Huntington, também do setor de saúde. Partimos da seleção criteriosa de empresas com clara diferenciação estratégica, atuamos para potencializar sua administração, ajudamos a acelerar os negócios e, por fim, buscamos um comprador para a empresa ou nossa participação — o que culmina no sucesso de venda da nossa parcela e retornos interessantes para os nossos investidores.

Neste artigo, compartilho alguns aprendizados sobre o sucesso dessas jornadas e um pouco da nossa visão sobre a revolução tecnológica e perspectivas para o setor de saúde no Brasil. 

Como pano de fundo, é importante mencionar que ambas as operações aconteceram em contextos desafiadores, marcados por crises econômicas e juros reais elevadíssimos. E foi justamente nesses momentos que comprovamos uma verdade poderosa: construir empresas resilientes, com modelos escaláveis e sustentáveis, não apenas faz com que as empresas sobrevivam a tempestades, mas que prosperem.

A tecnologia tem sido o catalisador dessa prosperidade em todos os casos. Em um setor tão essencial quanto a saúde, a aplicação de inteligência artificial e automação revela um universo de possibilidades. E o que falta para destravar todo esse potencial? A combinação poderosa de Capital com Gestão.


Além de capital, negócios exigem liderança, governança e capacidade de execução. E é nesse encontro entre inovação e gestão eficiente que nascem oportunidades transformadoras para investidores com visão de longo prazo.

A revolução tecnológica atual aproximou dois mundos, o do profissional de saúde com o do profissional de tecnologia, uma união entre os que compreendem as dores, ineficiências e urgências do sistema e os que possuem a visão, as ferramentas e a ambição de transformá-lo.  Desta convergência nascem os ecossistemas de inovação e startups de tecnologia em saúde — antes um nicho incipiente, agora uma força em ascensão, cada vez mais potencializada pela inteligência artificial. Elas estão redefinindo não apenas como cuidamos da nossa saúde, mas quem pode acessar, quando e de que forma. Diagnósticos mais precisos, terapias personalizadas, atendimento remoto — tudo isso já está ao alcance, e em velocidade exponencial.

Esse movimento tende a continuar atraindo empreendedores, impulsionados pela velocidade com que a tecnologia está chegando até as pessoas — nos seus celulares, dispositivos vestíveis e até nos seus próprios dados genéticos. É uma transformação cada vez mais veloz, íntima e repleta de implicações para prevenções e hiperpersonalização, com impacto profundo na sociedade.

E isso tudo acontece em um momento especialmente relevante para o setor. A saúde no Brasil — que representa cerca de 10% do PIB — enfrenta desafios históricos que afetam pacientes, operadoras, hospitais, profissionais e gestores públicos. Fragmentação, baixa interoperabilidade de dados, desperdício de recursos, subfinanciamento e sobrecarga de estruturas hospitalares são problemas crônicos que se intensificaram com o envelhecimento da população e a explosão das doenças crônicas.

Essas empresas inovadoras não estão apenas tentando construir sistemas operacionais mais sofisticados ou máquinas de ressonância magnética mais avançadas. Estão repensando a experiência real de se estar doente e olhando cada vez mais para prevenção e manutenção da saúde. Para isso, capturam e analisam dados ao ouvirem pacientes, leem relatórios médicos e analisam avaliações de cuidadores, bem como adicionam a perspectiva humana para ampliar, por um lado, o alcance da prevenção e, por outro, entregarem tratamento mais assertivo. Isso sem falar na melhor conexão entre profissional de saúde e paciente. 

Algumas empresas desenvolvem soluções que auxiliam no manejo de doenças crônicas sem exigir consultas médicas semanais. Outras criam plataformas de atendimento virtual que eliminam o atrito do agendamento, deslocamento e tempo de espera. Algumas vão além e exploram tratamentos personalizados com base no DNA, permitindo recomendações de medicamentos e estilo de vida sob medida — e não baseadas em suposições ou treinamentos defasados.

A verdade é que tecnologia em saúde deixou de ser apenas uma ideia promissora e atingiu um estágio de desenvolvimento potencial antes nunca visto. O capital de risco já tem papel relevante, contribuindo com sua experiência, aproximando investidores de empreendedores e ideias promissoras. A indústria de private equity e venture capital está olhando com atenção redobrada para o setor, em busca de empresas e empreendedores que solucionem problemas crônicos, particularmente abundantes em um país continental e no estágio de desenvolvimento como o Brasil.

Grandes sistemas de saúde, como o brasileiro, precisam aliar oportunidades de investimento com soluções reais de impacto na sociedade. O setor de saúde traz ambos de forma pragmática e direta. A nosso ver, há dois grandes fatores que catalisaram essa transformação em curso. O primeiro foi a pandemia de COVID-19, que quebrou barreiras culturais e regulatórias para o uso de tecnologia, especialmente na atenção primária e na saúde suplementar.

Pacientes se acostumaram ao atendimento remoto, médicos adotaram prontuários digitais e operadoras passaram a ver valor na digitalização como meio de eficiência e retenção. O segundo é que essas startups estão provando que é possível, sim, aliar retorno financeiro a valor real entregue aos pacientes. Essa combinação — viabilidade econômica e impacto prático — é o que torna o setor especialmente atrativo.

Nesse contexto, a Inteligência Artificial surge para mudar o jogo. Embora muitas vezes associada a promessas futuristas, ela já está sendo usada para acelerar diagnósticos, priorizar exames, prever eventos adversos, automatizar fluxos e até para apoiar decisões clínicas. A IA não está substituindo médicos, mas os capacitando com mais dados e mais velocidade — algo crucial em um sistema sobrecarregado.

Para fundadores que cogitam entrar nesse ecossistema, ou investidores que se perguntam para onde o mercado está indo, uma coisa é certa: a demanda por soluções tecnológicas centradas no ser humano só cresce. E não importa se você está desenvolvendo um aplicativo ou um pipeline de biotecnologia — o usuário espera ser tratado com assertividade e no tempo certo. As pessoas querem se sentir vistas, ouvidas e sentirem-se seguras.

Muitas startups de saúde já entenderam isso — e, por começarem do zero, têm uma vantagem poderosa. Estão reescrevendo processos inteiros, desde o preenchimento de receitas até o acompanhamento pós-cirúrgico. Estão construindo plataformas integradas, que se comunicam entre si, em vez de manter os dados dos pacientes em sistemas isolados. Em muitos casos, fazem isso com mais agilidade e intuição do que empresas tradicionais. A saúde, cada vez mais, deixa de ser um sistema reativo para se tornar um ecossistema conectado, preditivo e orientado por dados.

A tecnologia em saúde não está apenas passando por um bom momento, ela está entrando em uma nova fase, em que ferramentas, capital e talento se alinham. Isso não garante que todas as startups prosperarão, mas indica que este é um momento próspero para novas ideias, conhecimentos, processos e conexão. E se ao menos uma fração dessas ideias inovadoras der certo, o futuro poderá ser de uma medicina mais acessiva, personalizada, mais proativa — e, acima de tudo, mais humana.

Nós da Invest Tech, com a experiência de quase 20 anos de gestão de investimentos em empresas de base tecnológica no Brasil, acreditamos que gestores experientes no desenvolvimento de negócios estão provando que é possível aliar retorno financeiro com impacto direto na vida das pessoas. Essa combinação nos motiva e inspira. E, na busca constante por excelência e capacidade de entrega superior, nos aliamos ao The Collab, hub de inovação e aceleração de tecnologia especializado e reconhecido no segmento da saúde, e por meio dessa parceria buscaremos investir e auxiliar empresas inovadoras no setor, criando empresas perenes, que impactem o ecossistema e ao mesmo tempo gerem retorno para os investidores.   

*Felipe Zaghen, sócio e CEO da Invest Tech – com a colaboração de Viviane Radiuk e Wagner Araújo

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