Comunicação: o verdadeiro bug das equipes de tecnologia
A maioria dos atrasos, retrabalhos e desgastes não vem do código. Vem da falta de comunicação.

Por Daniel Pisano*
Ferramentas, metodologias ágeis, arquiteturas sofisticadas, escalabilidade… equipes de tecnologia adoram falar de tudo isso. Mas a verdade é que a maioria dos atrasos, retrabalhos e desgastes não vem do código. Vem da falta de comunicação. Pense em quantas vezes você já viu essa cena: alguém chega numa reunião e solta “tenho um problema técnico X”. E para por aí. Nenhum contexto, nenhum detalhe.
Cada pessoa sai da sala com uma interpretação diferente, e depois a equipe inteira perde dias tentando consertar um mal-entendido que poderia ter sido evitado em cinco minutos de explicação clara. Ou então o clássico da “síndrome do herói”: aquele profissional que acredita que centralizar tudo é sinal de competência. Ele não planeja, não divide tarefas, não pede ajuda. Resultado? Uma bola de neve de responsabilidades, riscos escondidos e entregas emperradas. Parece dedicação. É vaidade.
E tem ainda o fenômeno da “leitura mental”. O dev (profissional de tecnologia responsável por desenvolver software) abre um PR (“pull request”, o pedido que um desenvolvedor faz para que alterações feitas no código sejam revisadas e integradas ao projeto principal). e espera que todos saibam que aquilo é crítico. Não fala na daily, não sinaliza que está bloqueado, não pede priorização. Só joga o link e torce para alguém adivinhar. O time não é formado por mutantes, se você não fala, ninguém adivinha.
A comunicação clara não é “soft skill”. É hard skill camuflada, e talvez a mais decisiva de todas. Como bem coloca Julian Tonioli, da Auddas: “para ter uma comunicação clara e efetiva, é preciso exercitar a regra da repetição”. Só repetir, reforçar, alinhar. Porque se cada pessoa entende algo diferente, não existe time, existem indivíduos correndo em direções opostas.
Agora imagine quantas horas de engenharia já foram jogadas fora porque alguém não explicou direito, porque ninguém perguntou, porque todos assumiram. Quantos sprints desperdiçados? Quantos projetos que poderiam estar no ar estão parados por um simples “não falei que era prioridade”?
A tecnologia é feita de pessoas. E pessoas precisam se entender. Se o gargalo é comunicação, não adianta Kubernetes (plataforma que organiza e gerencia aplicações em containers, garantindo que rodem de forma estável, escalável e automática na nuvem ou em servidores), não adianta metodologias ágeis, não adianta o melhor framework. Tudo isso colapsa se o básico – conversar com clareza -não acontece.
A boa notícia? Dá para mudar. Criar uma cultura em que falar é parte da entrega. Em que expor dúvidas não é fraqueza, é eficiência. Em que líderes mostram, na prática, que comunicação não é detalhe, é tecnologia humana essencial. E você, está ajudando seu time a se comunicar melhor… ou está preso no mito do herói silencioso que trava todo o resto?
*Daniel Pisano é CEO da Vurdere e Head de investimentos da 87Labs

