Covid-19 e a enorme conta da desnacionalização das TICs
Muito se fala sobre as lições que as mudanças no relacionamento social e as novas formas de trabalho, resultantes do processo de enfrentamento da pandemia do coronavírus, ficarão como legado destes tempos tão angustiantes que estamos vivendo. Mas pouco se fala sobre a incapacidade nacional de produzir desde equipamentos até os itens necessários para a proteção individual daqueles que trabalham nos hospitais, o que tem provocado um elevado índice de contaminações, muitas delas levando a óbito estes profissionais.
Assistimos surpresos as limitações estratégicas em nome de suas seguranças, e/ou preços abusivos, impostos pelos principais países produtores – em especial Estados Unidos e China, para exportar os itens fundamentais e atender nossas necessidades. O processo de desindustrialização do país nos últimos anos nos cobra uma conta enorme. A política “comandada pelo mercado”, com a orientação de que não devemos produzir aquilo que podemos importar mais barato, nos gera uma dependência de consequências incomensuráveis. Percebemos agora que a dependência externa nos deixa vulneráveis aos jogos internacionais afetando a segurança nacional.
Esta experiencia nos alerta sobre a sobre a significativa desnacionalização da indústria de software e serviços, e surge uma questão de grande importância para nosso futuro. Quais as consequências que uma decisão política dos países sedes das empresas que dominam as áreas mais sensíveis em que o uso da tecnologia da informação é determinante, de proibir estas empresas de atuarem no Brasil? Como ficariam nossas industrias 4.0, nossa medicina, nossa educação ou nossas cidades?
Temos assistido a políticas de retaliação contra países que num determinado momento se tornam “inimigos” ou simples “concorrentes indesejados” e são proibidos de prestar os suportes necessários aos equipamentos e softwares utilizados originados nos detentores da tecnologia, podendo desestabilizar a economia de um país.A digitalização da sociedade exige que estas questões de segurança sejam avaliadas e tomadas as precauções necessárias, para que no futuro não tenhamos situações semelhantes às que estamos vivendo hoje no enfrentamento da pandemia.
Benito Paret é o Presidente do Sindicato das Empresas de Informática – TI RIO