Opinião

Cultura de dados no varejo: caminhos para a eficiência e competitividade

No setor de varejo, onde margens são estreitas, tomar decisões embasadas oferece uma clara vantagem.

Por Gabriel Mochnacs*

No mercado competitivo de hoje, integrar uma cultura orientada por dados é mais do que uma vantagem – é uma necessidade para empresas que desejam crescer de forma consistente. Uma pesquisa do MIT Sloan Management Review demonstrou que companhias que utilizam informações de forma estratégica são significativamente mais produtivas e lucrativas.

No varejo brasileiro, essa realidade já se reflete: uma pesquisa da Cielo aponta que 70% dos empreendedores e varejistas utilizam dados para promover seus negócios. Entre grandes empresas, esse número sobe para 83%. Os principais usos estão na definição de ações promocionais (37%), iniciativas de relacionamento com clientes (36%) e precificação (36%). No entanto, quase 30% dos varejistas ainda não utilizam dados de forma estruturada, o que representa uma oportunidade significativa para evolução no setor.

Mas como empresas de varejo, especialmente de pequeno e médio porte, podem se transformar para adotar essa mentalidade data-driven? Aqui estão cinco passos práticos.

1. Invista na capacitação da equipe


O ponto de partida é garantir que todos os colaboradores estejam preparados para usar análises em suas decisões diárias. Na Cielo, por exemplo, a criação da Comunidade de Dados permitiu a realização de mais de 50 treinamentos, impactando mais de mil pessoas. Esses esforços seguem uma tendência global: o relatório Data Literacy Index aponta que companhias que investem em alfabetização em dados aumentam seu valor de mercado em até 5%.

Capacitar times vai além de ensinar técnicas. É também criar uma cultura onde o uso de análises é incentivado em todos os níveis da organização.

2. Desenvolva soluções que gerem impacto

Coletar informações não é suficiente. O verdadeiro valor está em aplicá-las para resolver problemas reais. Na Cielo, o uso de Inteligência Artificial para prever a inativação de clientes é um exemplo claro. Essas ferramentas personalizam interações e aumentam a retenção, que, segundo a Harvard Business Review, pode elevar os lucros em até 95% com um crescimento de apenas 5% na fidelização.

Além disso, dados internos ajudam a otimizar a operação e criar experiências mais personalizadas para os consumidores. Ferramentas como o Cielo Farol, por exemplo, auxiliam varejistas ao fornecer informações sobre tíquete médio, perfil dos consumidores, melhores horários de venda e desempenho comparado a negócios similares.

Tecnologias como IA e machine learning também permitem inovações operacionais, como manutenção preditiva de equipamentos. O segredo é alinhar essas soluções aos desafios reais enfrentados por cada negócio.

3. Conecte informações e tecnologia aos objetivos do setor

No varejo, eventos sazonais como a Black Friday representam grandes oportunidades. Combinar dados e tecnologias emergentes permite criar campanhas ajustáveis em tempo real. Um estudo da Forrester Research mostra que 60% das empresas relatam ganhos em eficiência de campanhas ao utilizarem análises avançadas.

A pesquisa da Cielo reforça essa tendência: 22% dos varejistas utilizam dados para definir canais de divulgação e vendas, enquanto 21% os empregam para identificar novos públicos-alvo. Esse tipo de estratégia permite ajustes rápidos e mais assertivos para campanhas promocionais e fidelização de clientes.

Empresas podem se beneficiar de soluções como data e delta lakes, que consolidam grandes volumes de informações para análise. Isso facilita a criação de estratégias baseadas em tendências de consumo e preferências dos clientes.

4. Transforme dados em diferencial competitivo

No setor de varejo, onde margens são estreitas, tomar decisões embasadas oferece uma clara vantagem. Ferramentas como índices de mercado e análises preditivas permitem ajustar ofertas de forma ágil, alavancando resultados. De acordo com a Gartner, até 2025, empresas que priorizarem uma cultura centrada em informações tendem a superar a concorrência em 20%. Esse diferencial é crucial em um mercado que exige agilidade e precisão.

Atualmente, 47% das empresas já contam com uma equipe dedicada à análise de dados, um indicativo do quanto essa abordagem se tornou essencial. E a tendência é que essa adoção cresça ainda mais: 52% dos gestores acreditam que a maioria dos estabelecimentos comerciais utilizará dados na tomada de decisão nos próximos cinco anos.

5. Engaje liderança e colaboradores

Adotar uma cultura orientada às informações exige lideranças ativas. Líderes precisam demonstrar como o uso de análises agrega valor ao negócio e incentivar práticas alinhadas. Um exemplo disso é como aplicamos na Cielo, com ações como o Workshop de IA, que abrangeu diferentes superintendências, trilhas de dados em programas de capacitação para líderes e futuros líderes, e uma agenda semanal executiva do Escritório de Transformação. Essas atividades buscam gerar resultados concretos, relevantes e mensuráveis, capturando valor financeiro das iniciativas habilitadas com o uso de Advanced Analytics e Inteligência Artificial. Elas nos apoiam e asseguram que o uso de análises seja integrado à rotina e à tomada de decisão. Segundo o Deloitte Insights, empresas que não consideram o fator cultural ao implementar mudanças têm 64% mais chance de fracassar. Portanto, incluir o uso de análises na rotina de cada colaborador é essencial.

Além disso, para que soluções baseadas em Inteligência Artificial Generativa sejam eficazes, confiáveis e rentáveis, é fundamental adotar uma cultura data-driven. Isso envolve a combinação de pessoas capacitadas, processos bem estruturados – como governança de dados e IA – e tecnologia escalável e resiliente. Essa abordagem garante que a inteligência artificial possa ser utilizada de maneira estratégica, gerando impacto real nos negócios.

Empresas de varejo, independentemente de seu porte, têm à disposição ferramentas poderosas para melhorar sua eficiência e competitividade. Ao investir na capacitação da equipe, criar soluções relevantes e promover uma cultura que valorize insights, é possível transformar desafios em oportunidades. A adoção dessa abordagem não apenas potencializa resultados, mas também garante um posicionamento sólido para o futuro.

* Gabriel Mochnacs é Superintendente de Data & Analytics e Tecnologia na Cielo

Botão Voltar ao topo