Opinião

Do risco à oportunidade: Inteligência artificial transforma o acesso ao crédito no Brasil

Inclusão financeira exige mais do que conhecimento: exige oportunidade.É justamente aí que a inteligência artificial se torna uma aliada decisiva.

Por Alex Franco*

Nos últimos anos, a inteligência artificial deixou de ser apenas uma promessa para se consolidar como uma força concreta de transformação no setor financeiro. Se antes era vista como um diferencial competitivo, hoje a IA é praticamente um pré-requisito para acompanhar a velocidade das mudanças no comportamento do consumidor e nas exigências do mercado.

De acordo com a Pesquisa de Tecnologia Bancária de 2025, realizada pela Febraban em parceria com a Deloitte, 80% dos bancos brasileiros já utilizam inteligência artificial generativa (GenAI) em suas operações. Os resultados são expressivos: a adoção da tecnologia gerou um aumento médio de 11,4% na eficiência dos processos, e em 38% dos bancos, esse ganho superou os 20%. O investimento em tecnologias como big data e analytics também segue em alta, com projeções de crescimento acima de 60% ainda neste ano.

A tendência é clara: dados e algoritmos passam a ocupar o centro das decisões estratégicas, impulsionando agilidade, precisão e personalização. E os números são robustos – segundo a Statista, os gastos globais com GenAI devem atingir quase 85 bilhões de dólares até 2030, com crescimento médio anual acima de 55%.

Nesse novo cenário, a IA está redefinindo o acesso ao crédito. Ferramentas baseadas em algoritmos inteligentes já conseguem analisar centenas de variáveis a partir de poucos dados, como CPF e número de celular, eliminando etapas tradicionais como preenchimento de formulários com infinidade de dados cadastrais, envio de documentos ou comprovação de renda. O processo, que antes levava dias, agora pode ser feito em minutos – e com impacto real.


Com essas soluções, instituições financeiras têm alcançado taxas de aprovação até três vezes maiores que a média do mercado, ao mesmo tempo em que reduzem a inadimplência e aumentam a eficiência operacional. Tudo isso sem abrir mão da segurança e da responsabilidade financeira. Isso é possível com o uso de modelos preditivos que cruzam dados alternativos – como comportamento de consumo digital, localização e histórico de pagamentos – com redes neurais e modelos de machine learning constantemente atualizados.

Essas soluções aumentam a inclusão sem comprometer a sustentabilidade financeira, o que possibilita reduzir a inadimplência e elevar a eficiência operacional. E, mais importante, viabilizam bilhões de reais em crédito concedido para perfis que antes seriam considerados invisíveis ou de alto risco e que antes estavam excluídos do sistema tradicional.

Mais do que estatísticas, o que realmente importa é o impacto transformador que o crédito pode gerar na vida das pessoas, especialmente daquelas que estão na base da pirâmide social. Quando aplicada com sabedoria e responsabilidade, a inteligência artificial tem o poder de identificar potenciais onde antes só se enxergavam riscos – muitas vezes devido à ausência de um histórico formal. Em outras palavras, ela muda a lógica do sistema, transformando exclusão em oportunidade.

Segundo dados do Banco Mundial, mais de 30 milhões de brasileiros ainda não têm acesso ao crédito formal. A maioria pertence às classes C, D e E – justamente onde a tecnologia pode causar o maior impacto. Para essas pessoas, o crédito não é apenas um produto financeiro: é a chance de empreender, enfrentar uma emergência, manter os filhos na escola ou realizar sonhos simples que mudam toda uma trajetória.

Por isso, é essencial reforçar que o uso da inteligência artificial no setor financeiro deve ser pautado por princípios de ética, transparência e responsabilidade. A tecnologia é poderosa, mas precisa ser aplicada com discernimento, principalmente quando influencia decisões que impactam diretamente a vida das pessoas. Reguladores, empresas e a sociedade como um todo têm um papel fundamental em garantir que esses sistemas sejam justos, auditáveis e livres de vieses.

Muito se fala sobre a importância da educação financeira – e ela é, sem dúvida, essencial. No entanto, é preciso reconhecer que o acesso ao crédito é um ponto de partida fundamental. De nada adianta educar se o sistema não oferece caminhos viáveis. Inclusão financeira exige mais do que conhecimento: exige oportunidade.

É justamente aí que a inteligência artificial se torna uma aliada decisiva. Quando bem aplicada, ela contribui para a construção de um sistema mais acessível, ágil e conectado à realidade brasileira. Porque, no fim das contas, a verdadeira inovação é aquela que transforma vidas.

O desafio agora não é apenas utilizar a IA, é usá-la com consciência, propósito e impacto real.

Alex Franco é CRO & CTO do Jeitto.

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