IA e Machine Learning: a fusão para impulsionar o 5G no Brasil
Desde o lançamento do primeiro smartphone em 2007, o mundo das Telecomunicações iniciou um novo paradigma. Até então, a transmissão e recepção de voz era o principal objetivo dos serviços telefônicos, mas hoje, conforme demonstrado no relatório do TM Forum, as receitas de voz têm visto um declínio contínuo, enquanto a banda larga e outros serviços digitais agregados estão se tornando os geradores de novos negócios.
Isso mudou como os pacotes de produtos e serviços são apresentados de pré-concebidos e imutáveis para personalizados, conforme as necessidades do cliente. Para atender a essas novas demandas, os provedores de serviços de comunicação (CSPs) tiveram que modernizar seus departamentos de atendimento ao cliente e o BackOffice de TI para torná-los mais ágeis e flexíveis. E o que muda com a chegada do 5G?
A chegada do 5G traz esta mesma evolução para mercado B2B dos CSPs, pois agora eles poderão fornecer “fatias” (slices) das redes para atender às necessidades específicas de seus clientes, tais como comunicações ultra confiáveis de baixa latência (uRLLC), banda larga móvel aprimorada (eMMB), comunicações massivas tipo máquina (eMTC) ou qualquer outra combinação, em vez de pacotes fixos.
O 5G trará novas tecnologias desde antenas de rádio, rádio bases até a virtualização dos aplicativos CORE, passando por todas as camadas da infraestrutura de rede de uma telco. Não por acaso, o IDC prevê que até 2025 o 5G deve movimentar no Brasil cerca de US$ 25,5 bilhões, impulsionando a maior adoção de tecnologias como inteligência artificial, Big Data & Analytics, Cloud, security, AR/VR, Robotics e Internet das Coisas (IoT).
Os departamentos de engenharia de rede iniciaram já essa transformação aplicando algum nível de virtualização aos seus sistemas Core, mas ainda em um formato tímido em que os aplicativos CORE são entregues virtualizados numa solução Turnkey pelos seus atuais NEPs (Network Equipment Provider), mas sem estarem completamente abertos. O 5G exige uma maior abertura e flexibilidade, característica intrínseca de sistemas nativos de nuvem e abertos, que este modelo dos NEPs não oferece.
A chegada do 5G também significa uma mudança substancial na forma como os engenheiros de rede e as equipes de operações trabalham, pois os novos sistemas serão extremamente dinâmicos, aumentando não apenas a carga de trabalho de gerenciamento e de solução de problemas (que já é alta) como também sua complexidade. Assim, apenas implementar a nova tecnologia não significará um sucesso e retorno financeiro garantido.
Um estudo do Instituto de Valor de Negócios da IBM aponta que 60% dos líderes de provedores de serviços de comunicação pesquisados concordaram que deveriam virtualizar toda a sua rede local em pontos de presença, mas apenas metade deles está preparado para virtualizar em um ambiente nativo de nuvem. Adotar um novo modelo de nuvem híbrida que oferece uma visão completa do desempenho da rede em todos os momentos é essencial para expandir o serviço e minimizar as interrupções.
AI e ML: uma fusão de mundos em 5G
Devido a toda essa complexidade, para ter sucesso neste novo universo 5G, provedores de serviços de comunicação devem trazer a IA (Inteligência Artificial) e o ML (Machine Learning) para seus ambientes. As equipes de Atendimento ao Cliente e de Serviço de TI, podem, por exemplo, se beneficiar da capacidade de IA para analisar enormes quantidades de dados gerados pelos clientes e pela rede, que terão um volume ainda maior com o 5G, extraindo mais insights rapidamente e com maior precisão.
Hoje eles têm que investir uma enorme quantidade de tempo e recursos. Isso também significa que eles poderão antecipar problemas e resolvê-los automaticamente antes mesmo de serem notados, além de transformar os RPAs (Robotic Process Automation) atuais em IPAs (Intelligent Process Automation), que podem se ajustar a novos cenários sem intervenção humana.
Para as equipes de engenharia de rede e operações, isso significa ter uma rede mais inteligente, preditiva e com maior eficiência, o que não apenas melhora a experiência do usuário, como também permite que novos serviços sejam entregues de forma rápida e garantida, além de ter redes que podem fazer seu próprio autogerenciamento e autocorreção reduzindo as cargas de trabalho das equipes de engenharia e operações.
Fazendo essa fusão da IA/ML com o 5G, teremos a conjunção dos mundos físico, digital e virtual, oferecendo oportunidades para abrir novos mercados, criar diferentes ecossistemas para permitir a chegada e uso de AR, VR, IoT e transformando a experiência do usuário. Para uma empresa, isso significa o aumento da eficiência operacional, ROI financeiro e maior impacto no cliente.
A conexão mais rápida do 5G vai também permitir aumentar a capacidade de processamento de IA possibilitando que as aplicações da tecnologia possam distribuir o processamento da nuvem, para o Edge (computação de borda) chegando aos dispositivos, e com isso, criando poderosos sistemas de computação distribuída. Adicionalmente, ao colocar o processamento de IA nos próprios dispositivos, próximo aos sensores do dispositivo onde os eventos são efetivamente gerados, fortalecemos a segurança e a eficiência da rede, pois estamos diminuindo o tráfego de dados na rede.
Nos próximos anos, o 5G continuará se expandindo, trazendo mais conectividade e velocidade na transmissão de dados. No entanto, para o sucesso da implementação da tecnologia, será essencial acelerar a adoção de IA e ML nas operações, seja no atendimento, nos serviços de suporte, na TI ou na rede, seja nas aplicações core, no Edge ou nos dispositivos, proporcionando processos mais eficientes, reduzindo custos e aumentando a satisfação do cliente.
Claudson Aguiar é Executivo de Desenvolvimento de Negócios da IBM Consulting