Indústria da TV Paga tem de considerar a ética nos dados
Se por enquanto a indústria da TV paga está sendo devagar para se adaptar a este mundo cada vez mais orientado a dados, sua grande base de usuários a coloca em uma posição ideal. Ela tem a oportunidade de oferecer um serviço bem personalizado aos clientes.
Vamos tomar um minuto para analisar como os disruptores digitais como o Google, Amazon, Facebook, Apple e Netflix (GAFAN) têm se saído. Muito do seu sucesso é fruto da coleta e uso eficiente de dados. De fato, boa parte do processo de negócios destas empresas é totalmente concentrada em dados. Como resultado, seus usuários ficam grudados na tela o tempo todo.
Mas através destas várias indústrias – de transportes e entretenimento, até redes sociais e distribuição –, grande capacidade de dados significa grande responsabilidade, e certas organizações nem sempre agem de forma responsável.Relatórios recentes sobre a Alexa da Amazon, vazamentos de dados no LinkedIn, sem mencionar os problemas com o Facebook, só aumentam a ansiedade dos consumidores, e muita da credibilidade destas organizações foi perdida.
E como sempre, as autoridades estão buscando regulamentar; o escândalo da Cambridge Analytica com o Facebook pode terminar custando US$ 5 bilhões. Enquanto isso, como uma forma de lutar contra o controle dos dados das pessoas e, por extensão, sua privacidade, outras entidades estão buscando implementar regulamentações. Hoje a mais proeminente, e com mais chance de influenciar regulamentações no futuro, é a GDPR da União Europeia (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados).
Parece que a questão dos dados é uma faca de dois gumes; por um lado, pode melhorar a qualidade dos serviços entregues aos usuários finais, e por outro, abusos podem acabar com anos de esforço. Então o que a indústria de TV Paga pode aprender com isso? É possível seguir no caminho dos dados, ou existe um perigo real de se cair na mesma armadilha?
Existe aqui uma oportunidade para os operadores de TV Paga aprenderem com os erros de seus predecessores, ajudando consumidores a compreender e colher os benefícios de se fazer parte de uma comunidade de compartilhamento de dados. Porém, o mais importante para a indústria de TV Paga é entender que a confiança no sistema é obrigatória para se garantir a sustentabilidade. Assinantes precisam entender exatamente como, quando, onde e por que seus dados estão sendo usados. Felizmente o GDPR pode significar que operadores já estão trabalhando com isso em mente.
Além disso, existem razões para se acreditar que – pelo menos em certos mercados – a TV Paga já goza da confiança dos consumidores com relação a dados. Falando sobre a customização de serviços de TV paga durante o TV Connect ano passado, o diretor de estratégia mobile da BT Sport, Matt Stagg disse que as pessoas confiavam em operadores de TV com seus dados pessoais “mais do que nos outros meios”. Ele atribui isso à confiança na radiodifusão pública. Ele disse também que espera que as plataformas de TV “consigam o maior engajamento pós GDPR”. Se isso vai se concretizar, ainda veremos.
Quando pensamos em dados, a indústria de TV Paga deve preferir qualidade sobre quantidade: é melhor ter um número menor de dados de qualidade, do que páginas de dados inúteis. Lagos transbordando de informações são os maiores inimigos do uso inteligente de dados. A indústria também deve adotar um padrão para assegurar que seus diferentes sistemas possam contribuir para o esforço geral de dados. Eles precisam estar conectados de forma holística para entregar uma experiência em TV Paga de qualidade superior.
Se os players da indústria trabalharem juntos para encontrar uma abordagem comum e responsável para o uso de dados, poderão aproveitar benefícios incríveis – maior flexibilidade nos modelos de negócios, conteúdo, monetização e assinaturas.Com tempos difíceis à frente, terão sucesso aqueles que conseguirem se adaptar e crescer com a economia de dados, enquanto reafirmam a confiança dos assinantes.
*Jacques-Edouard Guillemot é SVP Executive Affairs – NAGRA