Opinião

O leilão do 5G já foi. Mas quando vai começar a funcionar de fato?

Depois de mais de um ano de discussões e adiamento da data de realização, no dia 4 de novembro finalmente aconteceu o leilão do 5G, sendo considerado o maior da história do país no setor de radiofrequência e tendo arrecadado R$ 47,2 bilhões. Os três lotes principais foram arrematados pelas operadoras Claro, Vivo e Tim, que se comprometeram a implantar a quinta geração de redes móveis em todas as capitais brasileiras e no Distrito Federal até o dia 31 de julho de 2022.

Mas será que esse calendário será mesmo cumprido na data prevista? A última adoção massiva de uma tecnologia, a TV digital, foi iniciada em 2007 e só deve terminar no final de 2023 – 16 anos depois!  O andamento da adoção de novas tecnologias costuma caminhar a passos lentos no Brasil. E, sinceramente, não acredito que o prazo original de que as cidades com mais de 30 mil habitantes sejam atendidas até o final de 2029 será cumprido. A possibilidade da Anatel esticar as datas é bem grande.

Basta lembrar que há muitas localidades no Brasil que ainda não há cobertura de celular ou a tecnologia usada ainda é a 3G. Inclusive, um dos compromissos do leilão é que sejam feitos investimentos para implantação do 4G em locais até hoje sem cobertura, como cidades pequenas ou mesmo estradas federais. Ou seja: a quinta geração em 100% do território nacional ainda é um sonho bem longe da realidade.

Posso afirmar que quando o 5G funcionar mesmo, ele mudará a maneira como vivemos, trabalhamos e nos socializamos. Conheça, abaixo, algumas utilizações:

Agronegócio: A tecnologia será capaz de superar o apagão que existe hoje no Brasil e levar conexão efetiva ao campo. Segundo dados do IBGE, não há internet em mais de 70% das propriedades rurais. E, na prática, para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, se a conexão no campo for aumentada em 25% haverá um crescimento de mais de 6% na produção.


O acesso à agricultura de precisão, que emprega melhores técnicas de cultivo, será aumentado, com a possibilidade de usar sensores sem fio para monitorar o crescimento. Agregar dados de muitos locais permite melhorar os protocolos de produção, resultando em plantas mais saudáveis e uma colheita abundante.

Fábricas automatizadas: A latência ultrabaixa do 5G pode trazer as indústrias para mais perto de uma fábrica totalmente automatizada e impulsionar enormes melhorias em segurança, produtividade e confiabilidade. A ABI Research prevê mais de cinco milhões de conexões 5G industriais até 2026 e sugere que isso diminuirá os custos e aumentará a eficiência dos equipamentos.

E, depois que as mercadorias saem da fábrica, o 5G pode ser igualmente útil no gerenciamento de logística e rastreamento de estoque. Isso significa que produtos de maior valor podem ser localizados – com seu histórico completo – em cada etapa de sua jornada, desde a montagem até a reciclagem no final da vida útil.

Realidade aumentada e virtual de verdade: Espera-se que a realidade aumentada (RA) habilitada para 5G adicione uma nova dimensão à visualização 3D. Um arquiteto pode ter um passo a passo virtual de um projeto de edifício antes de construí-lo, por exemplo.

Vídeos de ambientes reais com simulações holográficas de artefatos que existem apenas digitalmente e uma variedade de outras experiências imersivas ajudarão as empresas a imaginar, fazer um brainstorming, visualizar e construir produtos melhores. Uma pesquisa do Gartner descobriu que 46% dos varejistas entrevistados esperam implementar soluções de RA ou realidade virtual (RV) em 2022.

Internet tátil: A Internet tátil envolve o uso de um dispositivo, como uma luva, para manipular objetos a distância com sensações em tempo real, como se ele estivesse nas mãos. Graças a sensores e câmeras conectadas em 5G, as possibilidades são diversas: operar drones, robôs e utilizar no trabalho em ambientes perigosos ou confinados.

Com o 5G tudo estará conectado, permitindo possibilidades infinitas, principalmente com o Metaverso, no qual as pessoas poderão experimentar em outra dimensão por meio de óculos e luvas. Os carros autônomos, as cirurgias remotas, a realidade aumentada e a Internet das coisas rapidamente se tornarão populares e farão parte do nosso dia a dia graças à maior largura de banda.

Mas, para o 5G realmente sair do papel e virar realidade, será necessário que todo o investimento previsto pelas empresas que arremataram o leilão seja realizado. A fiscalização do governo também será de extrema importância! Não ceder ao lobby das operadoras será a chave para que essa tecnologia funcione de fato. 

*por João Moretti é consultor na área de tecnologia, CEO da Moretti Soluções Digitais, presidente da ABIDs e fundador e sócio das startups AgregaTech, AgregaLog, Rodobank, Paybi e outros. Mais informações em https://www.linkedin.com/in/jmoretti70/ 

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