Previsibilidade: o desafio de gerir talentos com inteligência estratégica
Os planos não são infalíveis, mas podemos todos concordar que a chance de termos sucesso sem um plano é menor do que se tivermos um bom plano.

Por Marcelo Rodrigues*
Em reunião com o time comercial comecei a minha fala com o apontamento: “Pessoal, odeio surpresas, ok?”. Foi o suficiente para eu ganhar a atenção de todos em poucos minutos – curiosamente. E segui explicando à equipe que uma das minhas funções era promover um ambiente de trabalho estável, seguro e de paz para que o time consiga lidar externamente com o complexo mundo corporativo. Apontei a importância da reciprocidade, pedindo que compartilhassem informações relevantes e movimentos do mercado – para que eu tivesse tempo suficiente para mudanças de rotas em busca do sucesso do negócio. Saber lidar com o inesperado e com as divergências sem deixar de ser produtivo é uma característica essencial de um bom gestor.
Conheço muitos estilos de liderança e me identifico com gestores que se pautam pela clareza sobre as estratégias, metas a serem alcançadas, direcionamentos a serem seguidos e, principalmente, sobre as prioridades e o foco. Vivenciei no início de carreira uma experiência a qual acompanhava um evento da companhia em que o gestor apresentava inúmeros objetivos e caminhos a serem perseguidos, assim como dezenas de setores a serem trabalhados. Com o atrevimento juvenil perguntei: qual seria o foco? A resposta: tudo. Os resultados ruins do final do ano desta empresa mostraram que foco não tem plural!
Os líderes que mais me inspiraram traziam como características a autoconsciência, a boa e clara comunicação, conseguiram promover uma relação de confiança pois sabiam delegar o trabalho e encorajavam o pensamento estratégico a fim de motivar a equipe a dar o melhor.
Dar autonomia com equilíbrio
Acredito que o uso excessivo de controle e microgestão trazem efeitos danosos à produtividade da equipe, tais como: baixa responsabilidade sobre os resultados, falta de engajamento, desconfiança etc. Ainda, com os modelos de trabalho cada vez mais híbridos e atividades feitas à distância, a confiança tornou-se o principal pilar da relação profissional. E, para haver confiança, é preciso ter as regras e as expectativas de negócios muito claras à cada integrante da equipe. Pois, não saber o que precisa ser feito, é sinônimo de fracasso e, sem um objetivo claro, fica impossível medir seu avanço.
Vejo que uma liderança omissa e pouco atuante pode gerar falhas no alinhamento da visão futura do negócio e no desempenho do time uma vez que pode haver muita ambiguidade sobre as responsabilidades e as prioridades. Com o objetivo estabelecido, é possível desenhar e implementar o plano para atingi-lo. Assim como a microgestão pode sufocar profissionais mais experientes, a falta de orientação pode, por outro lado, gerar frustração, ansiedade e estresse em outros colaboradores.
Uma das partes mais interessantes do meu trabalho é exercitar minha criatividade e incentivar o time a ser criativo. Pois, a criatividade é simplesmente a imaginação aplicada para resolver um problema. Acredito que a criatividade é a chave para a liderança no mundo em transformação. Vejo que muitos líderes e gestores – especialmente de TI – ainda carregam a crença de que a criatividade é uma habilidade exclusiva a artistas, publicitários, designers e profissionais das indústrias criativas. Entretanto, essa visão limitada pode inibir uma verdadeira revolução no modo como os problemas são abordados e resolvidos no universo corporativo.
Planejamento e execução
Os planos não são infalíveis, mas podemos todos concordar que a chance de termos sucesso sem um plano é menor do que se tivermos um bom plano. E também sei que não existe uma resposta única e que vários planos são possíveis. Nesse sentido, busco a interação com a equipe, ouvindo e promovendo feedbacks com grande frequência – além de incentivar que meu time faça seus próprios planos, que debatam, que escutem opiniões diferentes para que possam melhorar seus pontos de vista.
Estruturar um plano é uma parte positiva da previsibilidade, você acorda sabendo o que deve fazer e pode organizar seu tempo de forma mais eficiente. Dessa forma, é possível conseguir um resultado melhor devido à maior clareza no direcionamento e foco nas prioridades. Se o profissional sabe o que precisa alcançar e tem um plano, o caminho para execução é mais curto e fácil – e nunca é sorte. Na fase da execução, o líder tem a missão de servir ao time oferecendo atalhos, informações extras relevantes e dando direcionamento ao time para o foco principal. Neste ponto, a resiliência se mostra como outra característica importante para um gestor eficaz.
Sei que o resultado final é uma coleção de várias pequenas vitórias. Acredito que o sucesso final é uma consequência de um grande esforço coletivo. Pois, se tudo foi acompanhado, discutido, planejado e executado em equipe, o resultado será previsível e de acordo com o esperado. Afinal, planejar seu trabalho e trabalhar o seu plano é um cliché atemporal e, novamente, não traz nenhuma surpresa, pode parecer chato, mas eu prefiro comemorar o resultado do trabalho a lamentar as surpresas indesejadas. Por isso eu odeio surpresas!
*Marcelo Rodrigues é diretor-geral da Commvault Brasil