Saudades do amanhã com 5G
Caríssimas autoridades brasileiras de plantão, já passou a hora de decidir sobre o leilão das redes de 5G no Brasil. Deixemos de lado disputas políticas, comerciais, tecnológicas et cetera e tal; e tratemos de inserir os brasileiros no contexto mundial com a tecnologia de quinta geração (5G). Verifiquem com urgência quais obrigações devem configurar compromissos de interesse da coletividade ou dos usuários do serviço de telecomunicações, para que possam ser incluídos, ou não, no Edital, e ponto final.
Pois, no decorrer dos anos 2020, com a tecnologia 5G nas redes de telecomunicações, tem-se a grande alavanca da 4ª Revolução Industrial (marcada pela convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas). Quais países terão 5G a esse tempo? A resposta exige uma decisão estratégica, quanto à oportunidade e conveniência da adoção dessa tecnologia. Pois, no pára-brisa digital da nave chamada Terra a navegar rumo aos anos 2030, já é possível visualizar a tecnologia de sexta geração (6G).
Pelo retrovisor digital da nave ainda é possível observar as gerações tecnológicas que foram adotadas em tempos passados, e as suas facilidades, em particular no Brasil:
– Nos anos 1980, a tecnologia 1G, com o sistema analógico Advanced Mobile Phone System (AMPS), possibilitou de modo singular a comunicação móvel pessoal para a interação com a voz.
– Nos anos 1990, a tecnologia 2G, com os sistemas digitais Global System for Mobile Communications (GSM) e Code Division Multiple Access (CDMA), além da voz, viabilizou as mensagens alfanuméricas curtas (Short Message Service – SMS).
– Nos anos 2000, a tecnologia 3G, com o sistema High Speed Packet Access (HSPA) e o advento dos telefones inteligentes (Smartphones), acrescentou o acesso móvel à internet (Mobile Data).
– E nos anos 2010, a tecnologia 4G, com o sistema Long Term Evolution (LTE), adicionou maiores velocidades no acesso à internet banda larga móvel (Mobile Broad Band), o que veio a facilitar ainda mais as comunicações de voz, dados e, principalmente, vídeos (imagem).
Agora, nos anos 2020, chegou a vez da tecnologia de quinta geração (5G) com facilidades que de forma extraordinária impactam e inovam as comunicações, tais como:
– Maiores taxas de transmissão de dados (a passar de Mbits para Gbits) e, portanto, 20 a 100 vezes mais rápidos (eMBB – enhanced Mobile Broad Band).
– Conexões em massa, com maior densidade de acesso por km quadrado (mMTC – massive Machine Type Communication)
– Latências mais baixas, com o tempo de resposta passando de 50 milissegundos para 5 milissegundos (URLLC – Ultra Reliable Low Latency).
O momento econômico e social no Brasil é extremamente favorável e eminente à robusta expansão dessas inovações tecnológicas no País. Nesse contexto, segundo a Global mobile Suppliers Association (GSA), até o final de maio de 2021, pelo mundo, 443 operadoras (em 133 países) estão a investir na tecnologia 5G. Dessas, 159 operadoras (em 66 países) lançaram serviços móveis 5G e 62 operadoras (em 35 países) lançaram serviços fixos 5G FWA (Fixed Wireless Access).
No âmago do Processo 53500.004083, de 2018, da Anatel (vão-se três anos), o leilão para 5G poderia ter acontecido no final de 2020, ou início de 2021. As primeiras redes comerciais surgiriam logo depois e a tecnologia geraria novos negócios (sem esgotar a lista de possibilidades) a envolver biotecnologia, inteligência artificial, internet das coisas, realidade virtual e aumentada, cloud computing, segurança e robótica. A Anatel, com a sua competência técnica, sabe como bem fazer a coisa pública, mas, infelizmente, nesse edital participa de uma corrida com barreiras.
O Brasil, um dos mais extraordinários países do futuro, precisa de retomada do crescimento, mediante ciência, tecnologia, educação, saúde, sustentabilidade e redução de desigualdades. Assim, o País não pode desperdiçar oportunidades, uma vez que as comunicações ligam a tudo e a todos, o tempo inteiro, num mundo onde não existem fronteiras digitais e, para tanto, sem saudades do amanhã com 5G. Estudo da consultoria Omdia, para a Nokia, aponta um impacto de US$ 1,2 trilhão no PIB brasileiro até o ano de 2035 com a tecnologia 5G.
Passado, presente e futuro formam um todo indissociável, pois, se for possível agir no presente, é porque foi possível lembrar do passado e entrever o futuro. As autoridades constituídas de qualquer país, assim como quaisquer outras pessoas, precisam prever a evolução conjuntural para tomar decisões certas. As previsões (ou as prospectivas), de uma maneira ou de outra, agem sobre o futuro e contribuem para orientá-lo.
Como escrever uma história do futuro? Escrever uma história do futuro, supostamente seria possível, se de volta dele, como no filme de ficção científica, de 2021, “A Guerra do Amanhã” (The Tomorrow War), dirigido por Chris McKay e escrito por Zach Dean, onde viajantes do tempo retornam de 2051 e trazem uma notícia, que, 30 anos no futuro a humanidade está a perder uma guerra contra alienígenas. A esperança de sobreviver é enviar soldados e civis para lutar no futuro. Determinados a salvar o mundo, os personagens do filme atuam para mudar o destino do planeta.
O futuro é magnífico, dada a infinidade de narrativas que beiram a utopia e a ficção científica sempre confiante no progresso científico. Para que assim seja, os líderes de todas as nações precisam apreciar indicações de tendências e cenários possíveis para guiar decisões. Não é só o futuro que está em jogo, mas, também, o presente.
No conhecimento do futuro, dois componentes destacam-se e não podem faltar, um intelectual e outro prático: o conhecimento e sua utilização. Um lapso de tempo pode custar caro à nação que não se antecipa ou perde o momento oportuno para decidir. O domínio sobre o futuro é uma questão vital, portanto, indispensável para guiar as decisões e as escolhas que formam a trama do presente.
*O autor é Engenheiro Eletricista. Foi ministro de Estado das Comunicações e presidente da Anatel.