Ataques cibernéticos: Governo prefere desligar sistemas a contratar profissionais de TI
Os recentíssimos ataques a sistemas informatizados de diferentes órgãos públicos, como aconteceu com o Superior Tribunal de Justiça, com o Ministério da Saúde e com o Governo do Distrito Federal – todos nesta semana – revelam a situação da TI no Estado. “O Brasil tem é sorte de não sofrer muito mais”, dispara o presidente da Associação Nacional dos Analistas em Tecnologia da Informação, Thiago de Aquino Lima,em entrevista exclusiva ao portal Convergência Digital.
“Muito felizmente o governo não é um alvo mais procurado. O Brasil está com sorte. Mas é que falta gente. A administração pública tem uma única carreira de analista de TI, que hoje soma 457 servidores. E isso de forma descentralizada, espalhados em mais de 150 órgãos. Isso não é nada para gerenciar toda a TI do governo federal”, afirma o presidente da Anati.
Segundo a entidade, seria necessário que a gestão pública contasse com, no mínimo, o dobro de profissionais que tem atualmente, embora idealmente devessem ser cerca de 2 mil. Mas um estudo elaborado em 2019, à pedido da Anati, pela empresa de inteligência em gestão de pessoas B2HR dá pistas sobre o dilema: a diferença salarial, no meio da carreira, entre a mediana da remuneração da iniciativa privada e o Ministério da Economia é de 170%.
“A carreira tem 50% de evasão. Somos apenas 457 analistas e esse número diminui mês a mês. São salários incompatíveis com o que se ganha na iniciativa privada. E como existe uma ideologia de não se realizar mais concurso público, a tendência é piorar. Nada contra as contratações temporárias, mas elas vão durar até três anos. Só que até esse profissional entender a máquina, como é a gestão, as contratações, leva dois anos. Quando ele sabe tudo, está saindo”, emenda o presidente da Anati.
Ele reforça que os alertas não parte somente da entidade que representa os analistas de TI no governo, mas constam em pelo menos cinco Acórdãos do Tribunal de Contas da União desde 2008. Além do TCU, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em relatório sobre o Brasil ainda em 2018 já apontava que “evidências reunidas para esta revisão e dos resultados da Análise da Estratégia de Governo Digital do Brasil [indicam que] a compensação oferecida por essa carreira dificulta a retenção destes profissionais”.
A conclusão da Anati é que simplesmente não há braços suficientes para dar conta da segurança digital na administração pública. “São R$ 6 bilhões em contratos de TI que precisam ser gerenciados. Só que isso envolve pessoas, envolve qualificação constante. Mas nos quantitativos atuais, o que se faz é o básico. Nesta semana de informações sobre vários ataques, já era para ter uma ‘sala de situação’, chamar os gestores e levantar como está a segurança da informação em todos os órgãos. Mas nada está acontecendo. Ao contrário, por incrível que pareça a solução que vem sendo adotada, a solução de contingência no Brasil tem sido simplesmente desligar os sistemas”, lamenta o executivo.