Anatel confirma que filtros não resolvem interferência do 5G nas parabólicas
A Anatel publicou nesta quinta, 21/5, dois novos estudos sobre a convivência das antenas parabólicas com as operações em 5G na faixa de 3,5 GHz – compreendida, pelo edital, nos 400 MHz entre 3,4 e 3,7 GHz. E confirmou o que é notório nos últimos 15 anos em que a agência tentou licitar essa fatia do espectro: qualquer coisa perto da recepção das parabólicas causa interferência.
Em nota, o Comitê de Uso de Espectro e Órbita admite que “a convivência dos sistemas pode ser viabilizada”, mas para isso será preciso adotar algumas medidas. Entre elas, o CEO recomenda duas expressamente. Que sejam adotadas “condições mais rígidas” para o 5G nessa faixa e uma faixa de guarda que pode ter entre 20 a 40 MHz adicionais, o que consequentemente reduziria o naco disponível no leilão.
Por condições mais rígidas entenda-se medidas que incluem portadora menor, diminuição de potência, maior distanciamento entre as estações, instalação de anteparos, etc. O aumento da banda de guarda é autoexplicativo e se daria sobre os 100 MHz já previstos entre 3,7 e 3,8 Ghz. Mas o conjunto da obra sinaliza para a retomada do plano de migrar a recepção das parabólicas para a banda Ku (acima de 10 GHz).
Na prática, os testes da Anatel indicam que os dados usados por operadoras de telecomunicações para convencer as emissoras de televisão a firmar um acordo pelo uso de filtros continham razoável dose de otimismo. É que a solução com filtros sairia muito mais em conta. As projeções são de que instalar LNBFs nas parabólicas custaria coisa de R$ 500 milhões, enquanto a migração para a banda Ku pode chegar a R$ 8 bilhões.
Diz expressamente o CEO que:
1) A combinação de diferentes soluções é recomendável, por haver sinergia entre elas e possibilitar maior eficiência ao esforço de mitigação.
2) Dentre as múltiplas soluções e técnicas de convivência, o Comitê recomenda a adoção de condições operacionais mais rígidas para o IMT-2020 que aquelas sugeridas como referência pelo 3GPP (3rd Generation Partnership Project, organização tecnológica padronizadora do 5G), a exemplo do realizado em outros países.
3) Nessa mesma linha, o Comitê recomenda que se avalie a possibilidade de ser estabelecida, para a licitação do 5G, uma faixa de guarda entre os dois sistemas de radiocomunicação. A título de exemplo, os Estados Unidos da América adotaram uma faixa de guarda de 20 MHz. Uma faixa dinâmica de até 40 MHz também poderia ser utilizada, conforme a necessidade do caso concreto. A faixa de guarda facilita a coexistência dos sistemas e diminui consideravelmente a necessidade de soluções mais invasivas, como a separação geográfica de alguns quilômetros, diminuição de potências de operação e a substituição de equipamentos e dispositivos (sintonizadores, filtros de guia de onda, etc.).
O próprio presidente da Anatel, Leonardo Morais, já adiantara parte dessas conclusões em debate online realizado no início de maio sobre o leilão 5G, quando afirmou que “não estamos convencidos que as soluções disponíveis estão aptas a garantir a convivência”. A nota do comitê de espectro formaliza essa leitura ao pontuar os filtros LNBF não conseguem evitar os problemas de interferência. “Tanto os dispositivos LNBF disponíveis comercialmente quanto os prototipados não apresentaram o desempenho esperado”, diz o CEO.