Banda larga fixa 5G trava no Brasil por alto custo das CPEs e dos impostos
A oferta de redes de acesso sem fio fixo (FWA, na sigla em inglês) se expande na medida em que a cobertura 5G avança. Mas há desafios para uma maior adoção, sendo a concorrência com fibra ótica, a escassez ou alto custo dos equipamentos e a incidência de impostos, especialmente, o Fistel. O FWA é considerado fixo porque a antena receptora do sinal é instalada em um local específico, normalmente no telhado ou na parede da residência ou companhia que contrata o serviço.
A consultoria Bain & Company prevê uma expansão no segmento de FWA até 2027 a partir das inovações proporcionadas pelo 5G, alcançando o potencial para gerar uma receita de R$ 1,7 bilhão em 2027, no cenário mais adverso traçado pela consultoria, e R$ 6,2 bilhões, na projeção mais otimista.
Alberto Silva, sócio especialista da Bain na prática de Telecomunicações, indica que o FWA deve experimentar nos próximos anos um crescimento mais significativo em termos de adoção e implantação. Para ele, “o 5G oferece velocidade e capacidade muito maiores na comparação com o 4G, o que possibilita uma experiência de internet mais rápida e confiável no FWA, que será impulsionado por melhorias no alcance e eficiência próprias do 5G”.
Ao participarem de painel no Telco Transformation Latam, evento da Conecta Latam, realizado nos dias 29 e 30/08, no Rio de Janeiro, Rodrigo Rescia, CTO da Vero Internet; Abraão Balbino, superintendente-executivo da Anatel, e Antonio José Silvério, gerente-executivo de engenharia da Claro, apontaram desafios e oportunidades da tecnologia.
Para Abraão Balbino, da Anatel, FWA é uma tecnologia que se mostra competitiva e complementar à fibra ótica, uma vez que aplicações de realidade aumentada e realidade virtual vão demandar mais banda. Entre os fatores críticos para o avanço desta tecnologia, Rodrigo Rescia, da Vero Internet, destacou que uma barreira ainda é o alto custo dos equipamentos.
Outra questão é a disputa pelos postes. Abraão Balbino, da Anatel, disse que se trata de uma incerteza regulatória. “É uma questão, hoje, para um provedor regional, quando ele tem que usar muito o poste e tem toda a dificuldade de estar legalizado; e muitos não estão devido aos custos advindos. Mas, à medida que se regula mais o poste, isso torna a fibra ótica uma rede mais cara de operar do que pode ser FWA. A Anatel tem sinalizado Wi-Fi 6E outdoor como uma terceira alternativa para bagunçar esta discussão”, apontou o superintendente-executivo da Anatel.
Além disso, a cobrança do Fistel pode ter forte impacto. “O Fistel é uma conta pesada; FWA tem empecilhos e o Fistel é um deles — e TFA e TFE são outros”, pontuou Rodrigo Rescia. Antonio José Silvério, da Claro, concordou e acrescentou que a tecnologia está entrando e já vem com o ônus da inovação. “Para ter escala de produção que justifique, principalmente, quando se está falando de FWA residencial, a desoneração que aconteceu com a fibra ótica se faz interessante no FWA”, justificou o gerente-executivo de engenharia da Claro, sugerindo que haja uma desoneração fiscal para FWA ganhar escala.
Mas a resolução do Fistel não deve ocorrer no curto prazo. Do lado da Anatel, Abraão Balbino ponderou que se trata de uma questão antiga e que agora o momento é de discussão da reforma tributária e seus impactos no setor de telecomunicações.
“Estamos no meio da discussão da reforma tributária e hoje não há espaço de discussão desta natureza [Fistel] até porque o foco do setor está no sentido de fazer com que telecom seja algo essencial para não ser mais penalizado na reforma tributária”, explicou. “Todo foco de energia do setor e até da Anatel é mostrar para o Congresso que tem de colocar telecom como serviço essencial”, completou.
Cenário — A Bain estima que o total de conexões de banda larga fixa no país deve chegar a 48 milhões em 2025, dos quais 6,4% seriam baseadas na tecnologia FWA. Em um cenário mais otimista, em 2027, a participação poderia chegar a 13%.
A consultoria apontou que, no Brasil, a implementação do FWA é limitada atualmente, uma vez que as empresas de telecomunicações continuam a se concentrar na oferta de banda larga de fibra, que tem uma boa estrutura no país.
Essa é, segundo a Bain, uma das principais razões pelas quais não há grande aderência ao FWA por aqui, mesmo com a abertura da banda de 6GHz para Wi-Fi não licenciado e acesso sem fio realizada pela Anatel em 2021.
Para a consultoria, a adoção do FWA no mercado brasileiro depende de sua capacidade de oferecer uma proposta de valor mais atrativa do que a fibra, que conta hoje com baixos custos de mão-de-obra, uso de fibra óptica aérea e componentes chineses que barateiam os investimentos no setor.
Mesmo com essa expansão, as conexões via fibra seguirão predominando o mercado em boa parte do mundo, segundo a Bain. Especialmente países como Japão, Indonésia e Malásia vão testemunhar uma penetração gradual do FWA, enquanto a fibra seguirá dominando o mercado, com cerca de 85% de share até 2027.