EUA pressionam Brasil a banir Huawei em troca de financiamento para 5G
Em nova investida para atrair o Brasil ao grupo dos países que já se alinharam aos Estados Unidos na guerra comercial contra a China, o conselheiro de segurança nacional, Robert O’Brien, está em Brasília acompanhado da presidente do Exim Bank, Kimberly Reed, para, de um lado, manter o tom beligerante contra a chinesa Huawei e, de outro, acenar com US$ 1 bilhão em financiamentos para equipamentos 5G, desde que comprados de fornecedores “confiáveis”.
“Trabalharemos juntos no desenvolvimento de negócios em telecomunicações, incluindo os novos avanços em 5G”, declarou a presidente do Export-Import Bank, ao assinar nesta terça, 20/10, um Memorando de Entendimento com o Ministério da Economia.
Segundo informa a representação dos EUA no Brasil, por esse acordo “o EXIM e o Ministério da Economia concordam em explorar e identificar opções para potencialmente usar o financiamento EXIM em um montante total agregado de até US$ 1 bilhão (R$ 5,6 bilhões) e identificar áreas para trabalhar em conjunto para promover oportunidades de desenvolvimento de negócios, particularmente nas áreas de telecomunicações (incluindo 5G), energia (incluindo nuclear, petróleo e gás, e renováveis), infraestrutura, logística, mineração e manufatura (incluindo aeronaves)”.
Na véspera, em reunião com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o conselheiro Robert O’Brien repetiu a tradicional cantilena de como os equipamentos fornecidos pela chinesa Huawei são um risco à segurança nacional.
“Se vocês tiverem a Huawei na sua rede 5G, haverá ‘backdoors’ e a capacidade de decifrar quase todos os dados que são gerados em qualquer lugar do Brasil, seja pelo governo, na frente de segurança nacional, seja por empresas privadas em suas habilidades de inovar e desenvolver novos produtos, técnicas e práticas”, afirmou em encontro fechado, segundo revelou a Agência Estado.
O discurso será reforçado junto ao chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, e ao próprio Jair Bolsonaro, com quem os representantes dos EUA têm agenda na quarta, 21/10. Não se acredita que as autoridades brasileiras perguntarão sobre os ‘backdoors’ de fornecedores não chineses, como os utilizados pela Agência de Segurança Nacional dos EUA, como demonstrou o ex-espião Edward Snowden em denúncias lá ainda de 2014.
Para representantes das operadoras ouvidos por esta Convergência Digital, a retórica não é nova e a oferta de financiamento do Exim é pura figuração. Ainda que o dinheiro venha a ser efetivamente disponibilizado, o que duvidam, a opção seria mau negócio para as teles que atuam no Brasil, pois implicaria em endividamento externo para comprar produtos mais caros e que não são superiores em qualidade. Nas palavras de um executivo, “por que vou financiar por 100 o que posso comprar por 40?”.