Mercado de IoT projeta movimentar US$ 8 bilhões no Brasil em 2018
A Internet das Coisas (IoT) – ou Indústria 4.0 – no Brasil caminha a passos rápidos, com bons casos de uso em diferentes segmentos. Em 2018, o mercado total de IoT no País deve chegar a US$ 8 bilhões, segundo Jamile Sabatini Marques, diretora de inovação e fomento da Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes). Mas ainda há muito espaço para crescer – e muito trabalho a ser feito.
Em painel realizado nesta quarta-feira, durante a Futurecom 2018, a diretora conversou com executivos de telecom e TI sobre os desafios e esforços do governo brasileiro para incentivar o crescimento de IoT no País. Entre eles, ela reforçou o lançamento, em julho deste ano, de uma linha de financiamento específica para projetos de Internet das Coisas, o Finep IoT – que destinará R$ 1,5 bilhão a iniciativas desta natureza. O plano prevê o financiamento de até 80% de projetos com valor mínimo de R$ 5 milhões, a juros de aproximadamente 3% ao ano.
“Mas estamos em ano eleitoral, então a nova linha de financiamento não pode ser amplamente divulgada pelo governo. E ela só estará disponível até dezembro”, lamenta Thiago Camargo Lopes, secretário de políticas digitais do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). “Para que seja prorrogado, é preciso que seja utilizado”, advertiu.
De acordo com Jamile, o plano de ação de Internet das Coisas para o Brasil tem impacto potencial de US$ 50 a US$ 200 bilhões por ano até 2025, valor que representa cerca de 25% do PIB brasileiro. A diretora da Abes explica que o impacto envolve tudo aquilo que pode ser melhorado com IoT – desde economias financeiras até aumento de expectativa e qualidade de vida, por exemplo.
Empresas e governo, de fato, tem trabalhado no sentido de viabilizar a inovação. Das questões burocráticas à mão de obra, no entanto, falta muito para fechar o ecossistema localmente e tornar o Brasil referência na indústria global. “É preciso beneficiar o empreendedor brasileiro. Não da para o investidor esperar 10 anos para ter uma patente. É evidente que ele vá leva-la para fora”, diz Lopes.
“Normalmente, a tecnologia não está no Brasil”, diz Elisabete Couto, diretora de IoT da Embratel. “Nós entendemos como o cliente quer usar a inovação, trazemos a tecnologia de fora, buscamos um parceiro localmente, financiamos um protótipo e trabalhamos até chegar à solução ideal para o cliente”, explica a executiva. O processo poderia ser mais eficiente e menos custoso se houvesse recursos no País.
Rodrigo Parreira, CEO da Logicalis, observa que, enquanto as questões técnicas podem ser solucionadas com o suporte de cadeias de produção mais desenvolvidas, mesmo que estejam no exterior, é importante que a indústria local defina as suas prioridades. “Qual o valor que queremos capturar? Capacidade de formular a solução, de produzir, manufaturar? É necessário fazer essa discussão mais rapidamente”, sugere. Parreira não deixa de lado a questão da formação: “Essa revolução tecnológica vai demandar novas capacidades e modelos de formação. A questão de gente é um dos grandes gargalos que o País enfrentará para capturar todos os benefícios que a Indústria 4.0 pode trazer”.
Para a CIO da Klabin, Tatiana Medina, além da questão de formação, a falta de colaboração entre players – fornecedores e tomadores das tecnologias de IoT no Brasil – é outro aspecto que merece atenção. “Colaboração é um ponto fundamental para escalar essa tecnologia dentro do Brasil e depois levar isso para fora”, aconselha.
Referência global
Os desafios são muitos, mas para os executivos do painel, se o Brasil começar logo, ainda pode ser ator importante no avanço global de IoT. “A prioridade maior é começar”, resume Eduardo Iha, diretor de Negócios da WND. “Já se entendeu o caminho que deve ser seguido, já há condições de começar a realizar testes. Só assim vamos descobrir problemas, solucioná-los e evoluir”, diz o executivo, destacando que, há um ano, a WND tinha apenas dois sensores de IoT homologados. Hoje são 30, e o número deve chegar a 50 até o final do ano.
Leonardo Finizola, diretor de desenvolvimento de novos negócios da Nokia, falou sobre a necessidade de políticas específicas de ecossistemas em temas nos quais o Brasil possa ser líder no exterior. “Estamos trabalhando muito em setores fundamentais para a economia. Se os setores tiverem políticas de ecossistema em temas específicos para que possamos ser líderes lá fora será muito importante.”
A continuidade de políticas públicas que promovam a inovação e o cuidado com as pessoas também deve estar, na opinião de Edvaldo Santos, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento e Inovação da Ericsson, entre as prioridades do plano de ação brasileiro de Internet das Coisas. “O Brasil tem capacidade de participar dessas cadeias globais se cuidarmos bem de nossa gente. Devemos educar pessoas com vistas às capacidades do futuro próximo e distante”, avalia. “O talento brasileiro é muito criativo e orientado a resultado. Isso faz bem para a empresa, para a universidade e para o País”, conclui.